O efeito “carne para canhão” é o segredo do sucesso do grupo Wagner — mas pode ditar a sua ruína

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ZAP // cv AP

O líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin

Os mercenários sacrificam deliberadamente os prisioneiros nos seus ataques arriscados às trincheiras ucranianas, que explicam em grande parte a sua eficácia na guerra na Ucrânia.

Algumas das principais conquistas militares da Rússia na guerra na Ucrânia não foram conseguidas pelo exército russo, mas sim pelo grupo Wagner. Os mercenários  entraram no conflito em Abril de 2022, com o envio de tropas para a cidade de Popasna — e desde então que têm sido uma força fundamental para Putin.

Na altura em que os mercenários se envolveram no conflito, os comandos militares russos estavam particularmente desmoralizados devido às recentes derrotas em Kiev, Kharkiv e Mykolaiv, e o sucesso do grupo Wagner na conquista de Popasna foi um impulso importante para as forças de Moscovo.

Os comandos mercenários são, geralmente, muito mais flexíveis do como as forças armadas russas. Na batalha por Bakhmut, por exemplo, o grupo já mudou várias vezes a direcção das suas principais ofensivas. Em Novembro, o foco estava em tentar capturar a cidade pelo sul, mas no início de Dezembro, o grupo substituiu subitamente as forças independentistas de Donetsk em torno de Soledar e conseguiu conquistar os subúrbios de Yakovlivka and Bakhmutske.

As constantes mudanças de direcção tornam o grupo Wagner muito imprevisível e dificultam a resposta do exército ucraniano, relata o órgão independente russo Meduza. As forças russas, por sua vez, tentam há vários meses tomar Vuhledar sempre pela mesma rota.

Prisioneiros são “carne para canhão”

As forças Wagner também se dividem em pequenos grupos que preferem atacar as defesas ucranianas de surpresa, especialmente durante a noite ou através de esconderijos no solo. Quase todos os grupos têm drones que usam para estudar as posições e quantidade de mantimentos das forças ucranianas. Antes do ataque, os mercenários recebem mapas eletrónicos detalhados que mostram as rotas que cada membro deve seguir e até a artilharia precisa é calculada atempadamente.

Caso o ataque falhe, o grupo tenta novamente. Os mercenários também arriscam mais do que o exército russo com o uso da aviação. Moscovo não costuma sobrevoar áreas ao alcance dos sistemas de defesa aérea da Ucrânia, enquanto que os aviões do grupo Wagner são frequentemente vistos a voar sobre os campos de batalha.

Os métodos mais arriscados do grupo Wagner têm mais sucesso, mas também acarretam muitos mais custos. Yevgeny Prigozhin, líder dos mercenários, já disse publicamente que precisa de cerca de 10 mil toneladas de munições por mês.

As perdas humanas também são notórias. Há relatos de que o grupo já terá perdido mais de 30 mil combatentes e a maioria terá morrido nos assaltos às trincheiras ucranianas. Grande parte destes mercenários são reclusos recrutados nas prisões russas, que são encarados como “carne para canhão” e um “recurso barato”, sendo deliberadamente sacrificados pelas chefias do grupo.

Os métodos violentos de execução dos desertores que são apanhados também servem para dissuadir quem é tiver ideias de abandonar as tropas. Um exemplo disso foi Dmitry Yakushchenko, um homem de 44 anos, nascido na Crimeia e que tinha sido condenado a 19 anos de prisão.

Foi recrutado pelo grupo Wagner, mas desertou e juntou-se às tropas ucranianas quatro dias depois. Quando foi apanhado, foi executado à marretada e a sua morte ficou registada em vídeo.

A perder força?

O futuro do grupo Wagner é incerto. Uma razão para esta incerteza é o choque constante entre Prigozhin e Sergey Shoigu, o Ministro da Defesa da Rússia, com as constantes acusações do líder mercenário de que Shoigu não lhe está a fornecer armamento suficiente, algo que o Ministério nega.

 

 

Prigozhin também diz que já não pode recrutar prisioneiros, o que deve levar a uma grande diminuição das forças do grupo e à perda da sua influência no conflito. Os mercenários estão agora a apostar no recrutamento de voluntários em liberdade e já lançou campanhas nas escolas russas e até anúncios no site pornográfico Pornhub.

Adriana Peixoto, ZAP //

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