Confirmado um passo essencial para tentar evitar a vitória de Jordan Bardella. Nova Frente Popular e Ensemble juntos contra a União Nacional.
A União Nacional venceu a primeira volta das eleições francesas, no domingo passado. Mas como não conseguiu maioria absoluta, vai haver segunda volta.
No próximo domingo haverá novas eleições e aí, Jordan Bardella, candidato da União Nacional a primeiro-ministro, vai ter outro tipo de concorrência.
Os outros dois maiores partidos – Nova Frente Popular e Juntos pela República – estão juntos para evitar que o partido de Marine Le Pen chegue ao poder.
Esta coligação consistiria em retirar as candidaturas dos círculos eleitorais onde ficaram em terceiro lugar.
Ou seja, nos círculos onde a Nova Frente Popular pode ganhar, o partido de Macron (Juntos pela República) abandona a corrida eleitoral. Nos círculos eleitorais onde o Juntos pela República pode ganhar, o candidato de Mélenchon (Nova Frente Popular) retira-se.
Não foi só uma promessa: no meio de “acordos apressados” como descreve o Euronews (o prazo para a retirada terminava às 18h desta terça-feira), 221 candidatos desistiram.
A maioria dos desistentes (132) eram candidatos da Nova Frente Popular. 83 são do partido de Macron, Juntos pela República, avança o Le Monde.
“Golpe administrativo”
Le Pen acusou Emmanuel Macron de preparar “uma espécie de golpe de Estado administrativo” para evitar que os partidos vencedores nas eleições do próximo domingo tenham liberdade governativa.
“Espero que seja apenas um rumor”, declarou Marine Le Pen numa entrevista à rádio France Inter, adiantando que no Conselho de Ministros da última quarta-feira houve mais nomeações do que o habitual.
De acordo com rumores que chegaram até à líder da extrema-direita, Macron pretende nomear o diretor-geral da polícia e da “gendarmerie” (polícia militarizada francesa) e realizar várias outras nomeações para a Administração francesa.
“Para as pessoas que dão aulas de democracia para o mundo inteiro, acho isso surpreendente”, queixou-se Le Pen.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, recomendou a Marine Le Pen “frieza” e “moderação”.
“Há 66 anos que todas as semanas se realizam nomeações e deslocações, nomeadamente no verão, independentemente do momento político que as nossas instituições atravessam, e não há qualquer intenção de alterar estas disposições nos próximos meses”, declarou o Presidente em comunicado.
O período de 66 anos refere-se ao nascimento da Quinta República, em 1958, que conferiu fortes poderes ao Presidente, incluindo em períodos de “coabitação”, ou seja, com um primeiro-ministro e um governo de lados políticos diferentes.
Nos termos do artigo 13.º da Constituição, o Presidente “nomeia para os cargos civis e militares do Estado”.
Para toda uma série de altos cargos do Estado, estas nomeações são efetuadas por decreto presidencial no Conselho de Ministros, mas com a assinatura do chefe do Governo ou dos ministros.
No caso de a União Nacional obter maioria absoluta no domingo à noite, na segunda volta das eleições legislativas antecipadas, o partido fez saber que governará a França, com o seu presidente, Jordan Bardella, como primeiro-ministro, o que abriria uma coabitação efetiva com Macron.
A Quinta República já conheceu três períodos deste género, dois sob as presidências de François Mitterrand (1986-1988 e 1993-1995) e um sob a primeira presidência de Jacques Chirac (1997-2002).
Pedido a luso-descendentes
O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, afirmou que “é muito importante” que os lusodescendentes vão votar na segunda volta das legislativas, salientando que a União Nacional quer “dividir os franceses” segundo a nacionalidade.
Em declarações à Lusa à margem de uma ação de campanha no centro de Paris, Gabriel Attal foi questionado se considera que os portugueses residentes em França devem ir votar nas eleições de domingo.
“Claro, é muito importante que todos os franceses vão votar”, respondeu o chefe do executivo francês.
Gabriel Attal avisou que a União Nacional (Rassemblement National (RN), em francês) “quer dividir os franceses entre eles”.
“Portanto, se é francês com outra nacionalidade – e é o caso para três milhões e 500 mil franceses, porque têm origens e histórias familiares diferentes – para a União Nacional isso significa que vale menos do que os outros”, afirmou, reforçando que “é muito importante que todos os franceses vão votar”.
Já interrogado se acha que o projeto da União Nacional poderia pôr em causa as relações bilaterais entre a França e Portugal, Attal respondeu: “Em todo o caso, nós sabemos que temos um projeto que é profundamente europeu, que luta por uma Europa forte, porque isso também é do interesse dos franceses”.
“Do outro lado, temos uma União Nacional que, segundo o que vemos, propõe uma saída progressiva da Europa”, referiu, acusando o partido de querer “parar de pagar a contribuição francesa para o orçamento europeu” e “deixar de respeitar as regras europeias”.
“Isso, claro, teria um impacto muito forte nas nossas relações com os outros países europeus”, avisou.
A União Nacional defende, no seu programa, que os franceses que detenham uma dupla nacionalidade não possam aceder a certos empregos da função pública. Segundo o partido, seriam “muitos poucos casos”, reservados a setores “extremamente sensíveis” do Estado, como a diplomacia, a segurança ou a defesa.
ZAP // Lusa