Belgas inventaram torneios (que nunca existiram) para chegarem aos Jogos Olímpicos

Basketball Belgium

Bélgica, basquetebol 3×3

Processo inacreditável – ou de génio? – foi criado no seio da seleção da Bélgica de basquetebol 3×3 que, em Tóquio, quase conseguiu uma medalha.

O basquetebol vertente 3×3 estreou-se nos Jogos Olímpicos. Em Tóquio, Letónia e Comité Olímpico da Rússia chegaram à final, com vitória da Letónia. A medalha de bronze foi para a Sérvia. Letónia, Rússia e Sérvia: não houve propriamente uma surpresa no pódio. Mas houve uma surpresa no quarto lugar.

A Bélgica, equipa algo discreta até ao final de 2019, foi a Tóquio, ficou no segundo lugar na fase de grupos e assim chegou às meias-finais, onde perdeu com a Letónia; e viria a perder na disputa pelo bronze, diante da Sérvia.

Mas, afinal, o quarto lugar da Bélgica é a surpresa menor. A surpresa chega agora, no processo de qualificação para os Jogos Olímpicos.

A «bomba» foi lançada pelo jornal De Standaard, que informa que os belgas conseguiram a presença no maior evento desportivo do mundo graças a torneios…que nunca foram realizados.

Como?

Primeiro, convém explicar como funcionam as contas de apuramento para os Jogos Olímpicos. Ao contrário das outras modalidades coletivas, o que interessa são os pontos que cada jogador consegue em torneios ou campeonatos. O ranking mundial contabiliza os pontos dos 100 melhores jogadores de cada país. E, juntando os resultados desses jogadores, define-se que seleções estão no topo.

Para aumentar o número de pontos dos belgas, foram inventados – literalmente inventados – 27 torneios entre 31 de agosto e 30 de outubro de 2019. Torneios locais, que figuraram nas contas oficiais e no site da Federação Internacional de Basquetebol, a FIBA. E cada torneio contou com 48 jogadores.

Esses torneios…nunca aconteceram

Dois dos basquetebolistas belgas que constam na lista oficial de participantes confessaram ao jornal que nem sabiam da existência desses torneios.

Outro jogador confessou que foi abordado por Nick Celis, um dos internacionais pela Bélgica: “Eu não sabia para o que era, mas o Nick Celis perguntou-me se poderia utilizar a minha conta no portal da FIBA“. Celis negou essa conversa.

E, nos supostos dias desses torneios, os campeonatos na Bélgica continuaram normalmente, por isso muito dificilmente os jogadores (todos da seleção local da Antuérpia) estariam em duas provas no mesmo dia.

Além disso, basta fazer as contas: 27 torneios disputados num período de quase nove semanas

Os próprios locais dos alegados torneios levantam muitas dúvidas. O site oficial da FIBA indica que nove dessas provas tiveram lugar num ginásio em Olicsa, cidade que tem um clube de basquetebol. Mas a própria autarquia assegura que aquele ginásio só foi utilizado pelo Olicsa, o clube, e nunca por uma seleção da Antuérpia.

Com ou sem jogos reais, os resultados entraram mesmo nas contas da FIBA, os belgas viram o aumento dos seus pontos e foram aos Jogos Olímpicos.

Por causa do formato do ranking mundial, e porque entretanto o sistema de pontuação mudou, é complicado referir com exatidão todos os pontos que favoreceram a Bélgica. Mas um especialista disse ao De Standaard que, sem esses tais 27 torneios, é quase certo que a Bélgica não iria estar nos Jogos Olímpicos (onde só estiveram as oito melhores seleções do mundo).

A Federação Belga de Basquetebol já anunciou que está a investigar o assunto, embora acrescente que nunca recebeu qualquer denúncia.

Nuno Teixeira, ZAP //

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