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Barulho das avós dançarinas causa polémica na China

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Grupos de dezenas ou centenas de pessoas a dançar com música alta em espaços públicos estão a causar polémica na China.

Os participantes dançam todos os estilos, desde as músicas chinesas mais tradicionais até valsas ou rock, e em comum, além de gostarem de música muito alta, têm o facto de terem todos mais de 45 anos.

Estes grupos são chamados de “Avós Dançarinas“, por serem maioritariamente mulheres, e o que os une é a paixão pela “Guang Chang Wu“, ou “Dança na Praça Pública”.

Num país super-povoado, onde todo o espaço é muito disputado, qualquer lugar se pode transformar num salão de baile: a área livre entre prédios de apartamentos, a calçada em frente a uma biblioteca, qualquer jardim, parque ou praça pública.

Para a maioria dos chineses que vivem em pequenos apartamentos, estes grupos são mais do que algo irritante restrito aos parques públicos. O barulho incomoda os que passam pelas ruas e os que estão em casa.

Um homem, que vive perto de um dos locais de encontro de um dos grupos de Avós Dançarinas, afirmou à BBC que receia que a filha, ainda bebé, quando falar pela primeira vez, será para recitar a letra de uma das músicas sentimentais tocadas pelo grupo. Outro teme pela saúde da esposa, que está grávida mas não consegue descansar devido ao barulho.

Apesar das reclamações, não se pode fazer muita coisa para impedir os grupos de dançarinos. A China tem leis quanto ao barulho em espaços públicos, mas os limites não estão claros – não ficou esclarecido quantos decibéis são aceitáveis, e nenhuma autoridade quer ser vista no país a tentar expulsar um grupo de avós aposentadas de uma praça.

Mas a paciência dos chineses está a chegar ao fim. Recentemente, um grupo de cidadãos da região de Wuhan foi manchete na imprensa nacional depois de ter atirado fezes a um grupo de “Avós Dançarinas”.

Há algumas semanas, em Pequim, um indivíduo soltou os seus cães, de raça mastim tibetano, e instigou-os contra um grupo de “Avós Dançarinas”, enquanto disparava tiros de espingarda para o ar.

Nada disso adiantou. As “Avós Dançarinas” limitaram-se a aumentar o volume, desafiando os vizinhos incomodados.

As “Avós Dançarinas” já causaram tumultos até em Nova York, onde um grupo se reuniu no Sunset Park, do Brooklyn, em agosto, com a tradicional música alta. Os moradores do bairro reclamaram, chamaram a polícia e alguns membros do grupo foram presos.

Alguns falam um conflito de gerações. As “Avós Dançarinas” surgiram na altura do nascimento da China comunista, em que dançar ao som de música alta em público era comum.

Para a geração de chineses mais jovens e urbanos, este tipo de exibição pública não é apenas irritante e antissocial. É ilegal, uma violação da paz e tem que ter consequências jurídicas.

Mas existe na China um respeito verdadeiro pelos idosos e alguma relutância em acabar com o que é essencialmente visto como uma forma saudável de aproveitar o tempo livre – pelo menos se os grupos concordassem em baixar o volume.

Para complicar ainda mais a situação, o jornal estatal Global Times revelou recentemente estimativas segundo as quais 100 milhões de pessoas praticam “Guang Chang Wu” na China.

E nenhuma autoridade tem qualquer interesse em estar contra 100 milhões de pessoas.

ZAP // BBC

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