Bancos “estão a espoliar depositantes e devedores”. 11 milhões de lucro por dia

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Os cinco grandes bancos nacionais tiveram um lucro de mais de 11 milhões por dia nos primeiros seis meses do ano. O economista Eugénio Rosa considera que a banca está a “espoliar depositantes e devedores”.

Os cinco grandes bancos nacionais apresentaram um lucro líquido consolidado de 1,9 mil milhões de euros no primeiro semestre do ano — cerca de 11 milhões de euros por dia.

Este resultado, catapultado pelas subidas das taxas de juro determinadas pelo Banco Central Europeu, representa um aumento de quase 60% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Numa altura em que as famílias enfrentam sérias dificuldades, que obrigaram já a banca a reestruturar mais de 62 mil créditos à habitação, os lucros recorde registados no setor estão a levantar vozes críticas.

Uma dessas vozes é a do economista Eugénio Rosa, que não tem dúvidas de que “os bancos estão a espoliar depositantes e devedores, nomeadamente os dos créditos para a habitação e PMEs”, o que “só pode conduzir o país à recessão económica e a mais pobreza”.

Em declarações ao semanário Sol, o economista critica a “teoria económica” do Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, segundo a qual “os enormes lucros dos bancos são necessários para compensar os que não tiveram nos períodos de baixas de juros”.

“É pena”, diz o antigo deputado do PCP, que Centeno não aplique aos salários a teoria de que “na média dos últimos 10 anos, os lucros são normais”.

O economista salienta que a banca não remunera cerca de metade dos depósitos, — e os que remunera “é a uma taxa muito baixa, inferior à inflação” — e estima que os depositantes tenham perdido cerca de 17 mil milhões de poder de compra.

Eugénio Rosa recorda que os certificados de aforro do Estado da categoria E, “embora dessem uma taxa de juro (3,5%) ainda inferior à inflação, no entanto reduziam a perda de poder compra das poupanças dos portugueses”.

Em junho, o Governo mudou as regras dos certificados de aforro, tendo cancelado a Série E, lançando uma nova série F com um máximo de juro de 2,5% — uma “mudança brusca que deu muito jeito à Banca“.

“Por aqui se vê mais uma vez de que lado está o Governo, que esquece a obrigação de proteger as pequenas e médias poupanças dos portugueses. A atratividade dos certificados desapareceu”, acusa o economista.

Juros em máximos, lucros disparam

Os juros na Zona Euro têm atingido máximos históricos, desde que a guerra na Ucrânia começou e a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, já avisou que é “improvável” que o pico dos juros já tenha chegado.

Na semana passada, o BCE voltou a aumentar as taxas diretoras, e Lagarde deixou em aberto novos aumentos. “Pode ser uma subida ou uma pausa”, mas garantidamente não será um corte.

Este aumento continuado das taxas de juro tem sido o principal fator a alavancar o crescimento dos lucros dos principais bancos a operar em Portugal no primeiro semestre do ano.

Nestes primeiros seis meses, A CGD lucrou 607,9 milhões de euros, mais 25% face a junho de 2022, tendo a margem financeira crescido 124,7% para 1.316 milhões de euros.

No mesmo período, o BCP multiplicou por quase sete vezes os lucros para 423,2 milhões de euros, tendo a sua margem financeira subido 39,5% para 1.374 milhões de euros.

O Novo Banco teve lucros de 373,2 milhões de euros (aumento de 39,9%), com a margem financeira a crescer 95,5% para 524 milhões de euros. Este foi o único dos grandes bancos que não apresentou resultados em conferência de imprensa.

Os lucros do Santander foram de 333,7 milhões de euros (mais 38,3%), tendo a margem financeira aumentado 58,4% para 586,5 milhões de euros, e o BPI apresentou lucros de 256,2 milhões de euros (mais 26,1%), com a margem financeira a subir 85% para 435 milhões de euros.

ZAP // Lusa

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10 Comments

  1. Será importante dizer: Quem apoiou em milhares de milhões de euros a banca na altura da crise e das taxas de juro negativas? Os otários dos portugueses! Mais: Nessa altura as despesas de manutenção das contas bancárias e dos cartões de débito aumentaram mais de 300%, para ajudar os bancos que estavam na banca rota. Agora que a crise para eles acabou, estas despesas mantem-se porquê? Para que servem os bancos?
    É pena não haver quem tome uma medida além de andar com paliativos, tipo baixar as taxas de IRS (de resultado zero, pois apenas recebemos o n/ dinheiro antes), permitir levantar os PPR sem penalizações (anda otário, levanta as tuas economias para a reforma – que não sabes se a vais ter – para poderes suportar as despesas atuais) apoios a quem tem crédito à habitação apenas para quem ganha o salário mínimo ou está desempregado.
    A classe média como fica? Colada à classe baixa? Que medidas foram implementadas tipo cobrar um imposto à banca de forma a diminuir os lucros excessivos e devolvê-lo aos clientes?
    O que foi feito a quem lesou o estado em milhões de euros? BPP, BPN, Espírito Santo, Berardo, Sócrates, EDP, TAP, Efacec… São tantos que acho que me esqueci de mais uma dezena de ladrões. Que tribunais são estes? Para que servem? Para julgar quem rouba um pão no supermercado? Quem tem dinheiro está imune à justiça. Ainda falam do Brasil…
    Enfim… Que país… Está no 1º lugar da europa em tudo o que é mau. Os 50 anos de ditadura já não servem para justificar a nossa situação.

  2. São uns génios da gestão.
    Se ganham muito e recebem os chorudos prémios é por sua competência e por serem brilhantes.
    Se correr mal socializam as perdas partilhando-as com o tuga.
    Brilhante negócio.
    Eu já tirei o dinheiro que tenho no banco.
    O sistema é baseado em reservas fracionárias. Por cada 1€ que sai eles ficam descapitalizados em 100€ ou perto disso.
    A solução é simples, é pôr pressão e que se amanhem!

  3. Não é preciso ser um economista a dizer que os bancos estão deliberadamente a espoliar os portugueses, com a cobertura do banco central e do governo, levando o país para uma situação obscena.
    Os portugueses há muito o sentem na pele. Vivemos a lei do mais forte, num país com os rendimentos mais baixos da união, entendendo o governo que este é o caminho certo.
    É o mesmo que entrar um ladrao em nossa casa, levar as nossas poupanças e a polícia pôr-se do lado do ladrao.
    Os portugueses estão revoltados sim. Roubar impunemente é possível em países sem rei nem roque.

  4. Boa tarde, vou dar um caso prático, que no mínimo é grotesco e assustador… hoje em dia… pedido feito na semana passada… um comprador de 1ª habitação que peça à CGD 90 000 euros para comprar a sua casa, pagará no final do prazo, espantem-se 180 000 euros, COMO É POSSÍBEL O BANCO DE PORTUGAL PERMITIR ISTO!!!!! AGIOTAGEM É UM NOME SIMPÁTICO PARA ESTES E OUTROS SRS.!

  5. Perante comentários destes o que se pode dizer. Infelizmente há muita gente que pensa que economia é futebol. Depois admiram-se das surpresas que têm na vida. Informem-se melhor. Estudem mais e perceberão os disparates que para aqui vão.

  6. Se acham que os lucros chorudos dos bancos, à custa do Zé Povinho, é normal e aceitável então a conversa fica por aqui. Vivemos em mundos diferentes. Eu vivo do meu trabalho e o dinheiro que me resta no fim do mês não dá para ter aplicações na bolsa.

  7. E o Estado está a fazer o quê?! Ao promover o maior saque fiscal da história do país, num momento extremamente difícil para famílias e empresas. Se calhar o problema do dinheiro do Paulinho não sobrar no final do mês deveria ser questionado ao governo e não à banca.

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