Juros vão subir ainda mais e levar consigo as reestruturações de crédito

Friedemann Vogel / EPA

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde.

Apesar de já estar “perto do pico de taxas de juro”, o Banco Central Europeu (BCE) deve voltar a aumentar os juros, acreditam analistas. Euribor vai atrás e só deve cair em 2024.

Os analistas contactados pela Lusa preveem que o BCE vai voltar a subir os juros, apesar dos receios sobre recessão na zona euro, aumentando a pressão sobre quem tem empréstimos indexado às Euribor e as reestruturações de créditos à habitação.

Na semana passada, o BCE voltou a aumentar as taxas diretoras e a presidente da instituição deixou em aberto novos aumentos. Christine Lagarde disse que o resultado da reunião de setembro “pode ser uma subida ou uma pausa”, mas garantidamente não será um corte, e destacou que mesmo que o BCE opte por manter inalteradas as três taxas de referência, tal “não quer dizer que seja definitivo”.

Os juros na Zona Euro têm atingido máximos históricos, desde que a guerra na Ucrânia começou e a presidente do BCE já avisou que é “improvável” que o pico dos juros já tenha chegado.

Com os aumentos a 27 de julho, a subida da taxa de facilidade de depósito passou para 3,75%, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento para 4,25% e da taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez para 4,5%.

A analista financeira do departamento de estudos económicos do BPI Vânia Patrícia Duarte afirma que é provável que “possa haver mais uma subida dos juros até final do ano”, ainda que o BCE deva estar “já perto do pico de taxas de juro”.

Euribor vai atrás dos juros. Só cai em 2024

Acompanhando a subida das taxas de juro estarão as taxas de juro Euribor, pelo que a previsão é que ainda subam e comecem a cair em 2024. Na quarta-feira, a taxa Euribor a 12 meses subiu para 4,081%, a Euribor a três meses subiu para 3,733%, enquanto a Euribor a seis meses desceu para 3,944%.

Em Portugal, com mais de 90% dos contratos de crédito à habitação indexados a taxas Euribor, tal terá um impacto direto nas prestações mensais pagas pelas famílias aos bancos.

Só no primeiro semestre houve mais de 62 mil reestruturações e renegociações de créditos e os analistas estimam que estas aumentem. Vânia Patrícia Duarte, do departamento de estudos do BPI, recorda que já os “dados do primeiro trimestre revelam um ligeiro aumento dos empréstimos à habitação ‘non-performing’ [em incumprimento]”, mais 12 milhões de euros de malparado face ao último trimestre de 2022.

Carla Santos, da Forste, apela às famílias para tentarem reestruturar créditos enquanto ainda podem procurar melhores condições de ‘spread‘ e seguros, pois entrando em incumprimento ficam com nome ‘sinalizado’ no Banco de Portugal e perdem poder negocial.

Ricardo Evangelista também prevê que seja “maior o risco de um número crescente de famílias não conseguir cumprir” as obrigações com os bancos, com novos aumentos de juros.

Evitar recessão da zona euro a todo o custo

Para o analista da Activtrades Ricardo Evangelista o cenário é pouco claro pelo que “tudo vai depender dos dados macroeconómicos e de inflação que forem saindo”.

Por um lado, recordou, os últimos dados da inflação na zona euro mostram que esta ainda está alta — apesar de ter abrandado para 5,3%, em julho, a inflação subjacente, que exclui energia, alimentação, álcool e tabaco, manteve-se estável nos 5,5%, um nível historicamente alto — mas, por outro lado, os sinais de contração económica poderão fazer abrandar Frankfurt.

A economia da zona euro cresceu, no segundo trimestre do ano, 0,6% na comparação homóloga e 0,3% em cadeia. Já a economia alemã estagnou (0,0%), depois de no primeiro trimestre ter contraído 0,1%.

Para a analista da Forste Finance Carla Santos a “postura de esperar para ver” do BCE “mostra preocupação em relação a uma possível recessão e tenta encontrar um equilíbrio entre taxas de juro e inflação”. Ainda assim, acrescenta que, mesmo não acontecendo em setembro, “o mais provável é que o BCE tenha que intervir mais vezes ainda este ano“.

Também o analista da XTB Henrique Tomé espera novas subidas e considera que “o grande desafio neste momento do BCE é, sem dúvida, conseguir controlar a inflação e evitar o cenário de recessão em toda a zona euro”.

“A atividade económica na zona euro está, de facto, a abrandar e as principais economias europeias, como Alemanha, França e Itália, têm sido fortemente penalizadas com o aumento dos juros, e isto pode levar o BCE a ponderar parar ou abrandar o ritmo da subida dos juros se a atividade económica continua a abrandar ao ritmo atual”, disse.

O governador do Banco de Itália, Ignazio Visco, acha que a inflação na Europa vai cair mais rapidamente do que o BCE pensa (a estimativa do banco é de 2% em 2025)

 

ZAP // Lusa

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