Fernando Bizerra / Lusa

Há algumas semanas, a Coreia do Sul estava a comemorar o facto de ter conseguido controlar o coronavírus, diminuindo o distanciamento social e reabrindo escolas. Agora, uma nova vaga de casos em Seul pode colocar em causa a história de sucesso do país no combate à covid-19.
Como noticiou na quinta-feira a Time, um aumento no número de infeções na região de Seul tem levado as autoridades de saúde a alertar sobre as medidas de segurança que devem ser tomadas para impedir uma segunda vaga de casos.
Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul (KCDC), foram reportados na quinta-feira 45 novos casos, o que representa um aumento diário consistente desde o final de maio. A maior parte concentra-se na área metropolitana de Seul, onde as autoridades de saúde têm feito um esforço para rastrear as transmissões.
“Considerando a transmissão rápida da covid-19, há limites para o que podemos fazer para diminuir a disseminação apenas rastreando os contactos”, disse na quinta-feira Yoon Taeho, funcionário do Ministério da Saúde, durante uma conferência sobre vírus, onde apelou aos moradores da capital para ficar em casa.
Apesar das preocupações com o aumento das infeções, o Governo tem resistido aos apelos para retomar as diretrizes mais fortes de distanciamento social – que foram sendo levantadas em abril -, apontando para os prejuízos de uma economia frágil.
De acordo com a Time, esta posição parece contrastar com a urgência transmitida pelos especialistas na área da saúde, incluindo a diretora do KCDC, Jung Eun-kyeong, que alertou para uma nova crise de covid-19, desta vez na região mais populosa do país.
A responsável afirmou que os profissionais de saúde estão a lutar para rastrear as transmissões que se estão a espalhar de forma rápida e imprevisível, à medida que as pessoas retomam as atividades.
Embora a Coreia do Sul tenha tido um aumento maior de infeções em fevereiro e março, com centenas de novos casos relatados todos os dias, a verdade é que esses casos foram mais fáceis de rastrear. A maioria estava concentrada numa única igreja em Daegu, a quarta maior cidade da Coreia do Sul, com 2,5 milhões de habitantes.
Agora, os focos surgiram por quase toda a capital. Pelo menos 146 casos estão relacionados com trabalhadores de um armazém operado pela empresa de tecnologia Coupang, acusada de não implementar medidas preventivas e de fazer com que os funcionários trabalhem mesmo quando estão doentes.
Cerca de 200 casos foram vinculados a bares e outros locais de entretenimento, enquanto mais de 90 foram associados a reuniões numa igreja perto de Seul e 116 a vendedores ambulantes contratados pela Richway, um fornecedor de produtos de saúde. A maioria desses vendedores tem entre 60 e 70 anos.
A Coreia do Sul conta com 11.947 casos confirmados e 276 mortes. A maioria das pessoas já recuperou, mas o número de casos ativos subiu acima dos mil na última semana.
Na semana passada, autoridades de saúde e funcionários do hospital participaram de um exercício para compartilhar as capacidades hospitalares entre Seul e as cidades próximas e garantir o transporte rápido de pacientes, de forma a que um aumento de casos numa determinada área não sobrecarregue o sistema de saúde.
Em meados de abril, o governo decidiu suspender as ordens administrativas que aconselhavam o encerramento de espaços desportivos, permitindo o retorno do desporto profissional – embora sem espetadores – e a reabertura gradual das escolas.
Porém, nas últimas semanas, tanto Seul como as cidades próximas restauraram alguns dos controles, encerrando milhares de bares e espaços de karaoke. As autoridades também começaram a exigir que os locais de entretenimento, ginásios e salas de concerto registem os seus clientes com códigos QR, para que possam ser facilmente localizados através dos para ‘smartphones’ quando necessário.
O Ministério da Saúde e o KCDC pediram repetidamente aos habitantes da capital que se abstivessem de reuniões desnecessárias e outras atividades públicas, mas dados fornecidos por operadoras móveis, empresas de cartão de crédito e operadoras de transporte públicos mostram que as pessoas estão tão ativas como antes.
A Time indicou ainda que, segundo o Governo, impor regras mais rígidas de distanciamento seria uma decisão difícil, considerando o impacto que poderia ter na economia do país. Também seria difícil fechar novamente as escolas, num país onde a competitividade escolar e os diplomas universitários de elite são vistos como cruciais para perspetivas de carreira.
O primeiro-ministro Chung Sye-kyun lembrou recentemente que as escolas permaneceram abertas mesmo durante a Guerra da Coreia, que ocorreu entre 1950 e 1953, e que seria errado “falhar nos sonhos e no futuro dos nossos filhos por causa das dificuldades atuais”.