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Armas apontadas a Rio pelo acordo com o Chega (e ainda sobra para Marcelo)

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José Coelho / Lusa

O acordo de legislatura do PSD-Açores com o Chega está a causar estragos no continente. Da esquerda à direita, há quem caia em cima de Rui Rio e ainda quem aponte a Marcelo Rebelo de Sousa.

Rui Rio tem sido alvo de duras críticas por ter firmado um acordo com o Chega para a viabilização do futuro Governo a cinco na Região Autónoma dos Açores: chegam da esquerda, da direita e até do PSD. Além disso, avança o Expresso, sobram também para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por ter aceite o acordo.

António Costa já tocou no assunto duas vezes: a primeira, no final da reunião da Comissão Nacional do PS, para dizer que o acordo com a “extrema-direita xenófoba” nos Açores ultrapassou uma “linha vermelha” da “direita democrática”; e na segunda-feira, em entrevista à TVI, na qual sublinhou que o problema não são “os termos do acordo, mas a natureza do Chega” e a “normalização”.

Do núcleo socialista, erguem-se as vozes de descontentamento. Na sexta-feira, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, referiu que um acordo deste tipo significaria uma “rutura com o património cultural e de valores humanistas que estão inscritos na Constituição”.

Esta terça-feira, em comunicado, o PS reiterou que o acordo significa que o PSD é “capaz de vender a alma ao diabo (hipotecando-se a propostas de reposição da barbárie, como a prisão perpétua ou a castração química) para atingir o exercício do poder”.

No Twitter, o deputado Tiago Barbosa Ribeiro admitiu estar a associar o Chega ao movimento de Mário Machado.

João Galamba, secretário de Estado da Energia e dirigente socialista, usou a mesma rede social para escrever: “Depois do fumar e não inalar, parece que temos o é só regional, não nacional.”

Do Bloco de Esquerda, a reação já era esperada. Catarina Martins acusou Rui Rio de e envolver numa “contradição gigantesca”, abrindo a porta “ao discurso do ódio, xenófobo, autoritário”. O líder parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, disse que o partido de Rio “normaliza quem quer destruir a democracia”.

O eurodeputado José Gusmão acusou, numa publicação no Twitter, a “direita tradicional” de “estender a passadeira” ao Chega. “Pelo menos, ficamos todos a saber das companhias que o PSD levará para o poder. E do que está disposto a fazer para lá chegar.”

Os comunistas raramente entram em confronto direto com o Chega, mas houve uma exceção. Jerónimo de Sousa fez uma pausa na sua intervenção sobre o Orçamento do Estado para responder a André Ventura, que se ria: “Está a achar graça? Eu não lhe acho graça nenhuma!”. De acordo com o Expresso, foi a vez de o PCP/Açores responder, acusando os partidos de direita de estarem unidos “pelo reacionarismo e oportunismo”.

As críticas não se ficam pela esquerda e estendem-se à direita. Um grupo de personalidades nacionais ligadas aos valores da direita criticaram duramente o PSD pelo acordo que assinou com o Chega, numa carta publicada no Público.

Desde os sociais-democratas Miguel Poiares Maduro e José Eduardo Martins aos escritores Miguel Esteves Cardoso e Pedro Mexia, passando pelo músico Samuel Úria, consideram que a estratégia do PSD é “um erro”.

Pedro Duarte e José Eduardo Martins demarcaram-se da posição do líder social-democrata ainda o acordo não estava assinado. “Quando se trata de algo estrutural, de algo que tem a ver com valores e princípios, não pode estar dependente da autonomia regional”, disse Pedro Duarte em declarações ao semanário.

À defesa, Rui Rio tem defendido que o acordo não é nacional, apesar de implicar mexer em legislação nacional para cumprir alguns dos pontos que acordou com o Chega, nomeadamente a redução de deputados ou a redução do Rendimento Social de Inserção.

Marcelo Rebelo de Sousa em silêncio

Ana Gomes, candidata a Belém, usou o Twitter para questionar o secretismo do acordo e dirigiu-se tanto a Pedro Catarino, Representante da República, como a Marcelo Rebelo de Sousa.

Um acordo destes, secreto????? Que impede o PSD de o revelar? Que impede o Representante da República de o revelar? E quem o nomeou, SEXA Presidente da República, vai explicar o q pensa sobre acordo que implica tão sinistramente o partido de que foi dirigente? #Açores”, escreveu.

Marisa Matias também trouxe a discussão para a corrida a Belém. “O Presidente da República tem a obrigação de proteger a Constituição. Em relação aos Açores não está a fazê-lo”, escreveu a bloquista.

O capitão de Abril Rodrigo Sousa Castro também se pronunciou, questionando não só Rui Rio ao acusar o partido de Sá Carneiro de “estender uma passadeira vermelha a um partido neonazi que pretende destruir a República de Sá Carneiro”, como apontando o dedo a Marcelo Rebelo de Sousa.

“O Presidente da República, através do Representante da República nos Açores, deu um sinal inequívoco de que não mexerá uma palha para defender a Democracia e a República, de quem declarou aberta e publicamente querer destruí-las”, escreveu.

Ventura admite Governo de direita em Portugal

André Ventura considera que o acordo com o PSD é um passo histórico e abre o caminho, “pela primeira vez em muitos anos”, a um futuro Governo de direita em Portugal.

“Nós temos dois caminhos a partir daqui. Ou há esta diabolização do Chega, tolerada pelo PSD, em que prefere dar as mãos à extrema-esquerda e ao PS e continuar a diabolizar o Chega, ou percebe que não vai haver futuro Governo em Portugal à direita sem o Chega e começamos a fazer um caminho”, disse, citado pela Renascença.

O líder do Chega deixou ainda um desafio direto a Rui Rio: para que o mesmo aconteça no futuro no continente, o PSD terá de radicalizar-se.

“O PSD disse que admitia conversar com o Chega se o Chega se moderasse, o Chega admite conversar com o PSD se o PSD se radicalizar nalgumas coisas. Quais são essas coisas? São o combate à corrupção, o combate ao desperdício do sistema político, como o que temos com 230 deputados, o combate à pedofilia, o combate ao sistema fiscal absurdo em que uns pagam para quem não quer trabalhar e não quer fazer nada. Isso é o que pedimos em termos de radicalização do PSD”, justificou.

LM, ZAP //

25 Comments

  1. Não vi tanto escândalo quando o PS se aliou ao BE e PCP para roubar as eleições ao PSD.
    Alguém.em sabe dizer qual é a diferença entre o Chega e o BE e o PCP? Que eu saiba o Chega não defende os regimes ditatoriais da Venezuela e Coreia do Norte. O BE e o PCP defendem!

    • Apoiado, penso exactamente o mesmo. Nas frases e consternações da esquerda é que se vê quem está a optar por radicalismos, extremismos e quase que um regime ditatorial. A democracia é livre, e os partidos e pessoas são livres de tomar as decisões que entendam serem melhores para o partido e para o país. Que eu saiba está coligação não é um crime, mas parece ser para alguns.

      • Realmente a venda dos esquerdistas é só para um lado.
        A democracia só é valida quando as eleições lhes são favoráveis (ou permitem acordos com a “democrática” extrema esquerda).
        Enfim, exactamente a mesma argumentação que a Esquerda Unida em Espanha usou quando a CEDES ganhou as eleições no decurso da 2ª República. Depois deu no que deu…

    • comparar defensores da constituição como o BE ou o PCP (este que lutou décadas pela liberdade) com um grupo de xenófobos, racista, misóginos, é lamentável. A ignorância e/ou a mentira é atrevida

      • ahhhh…
        Quais defensores da constituição? É preciso ter memória, e sim, a ignorância e/ou a mentira é atrevida.
        O PCP votou CONTRA esta constituição.
        A constituição que os “democratas” do PCP defendiam era a de 1974, a do Vasco Gonçalves e dos outros “democratas”. A constituição de 1982, que acaba com o “democrático” Conselho da Revolução, foi rejeitada pelo PCP. Voto contra, com direito a declaração de voto acessível ainda hoje no site do partido.
        E os outros “democratas”, os do MDP/CDE, PSR e UDP (que alguns conhecem como “BE”), que constituição é que defendem? Estás a brincar?
        Portanto, sem prejuízo de que sejam um grupo de xenófobos, racistas e misóginos, são obviamente comparáveis com os “democratas”.

      • olhameste vem falar de revisões constitucionais. A entrega das nacionalizações aos oligarcas da outra senhora, a começar pelo dono disto tudo. A flexibilização das leis do trabalho… de admirar é que o PCP votasse a favor. Agora ó olhameste, a constituição da democracia, é de 1976 e foi aprovada pelo PCP, PS e PSD. o CDS votou contra. vai estudar

      • O CHEGA é hoje um partido fundamental para Portugal, para equilíbrio de forças, nesta viragem radical esquerdoide em que o país mergulhou.

  2. Triste é R.Rio persistir em apoiar o Sr. A.Ventura, vai ser um abalo dos grandes no PSD. Todos conhecemos a verdadeira agenda Politica do chega, que não passa de um Lobo disfarçado em Cordeiro. Se os restantes grupos Políticos tem culpas inapagáveis no cartório, este “chega” não fica atrás, no que já provou e virá a provar !

  3. Que grande azia está a provocar este acordo, estranho como aqueles ditos de esquerda não se indispuseram com os acordos do senhor Costa com o PCP, filho legítimo do PC russo e responsável por milhões de mortes e torturados no mundo, os restantes uns mais do que outros que governam ou governaram não têm cadastro melhor, os de direita que se aliam a este coro devem andar muito distraídos acerca de história universal e andam todos a impingir-nos uma “democracia” faz de conta.

  4. Para memoria futura: Mao Tsé-tung (1893-1976) 77 milhões, Adolf Hitler (1889-1945) 21 milhões, Pol Pot (1925-1998) 2 milhões, Joseph Stalin (1878-1953) 20 milhões, Francisco Franco (1892-1975) 500 mil, Benito Mussolini (1883-1945) 440 mil, Chiang Kai-shek (1887 – 1975) 10 milhões. No nível da monstruosidade a extrema esquerda indignar-se com a extrema direita só não dá para rir porque o assunto é muito sério…

  5. A esquerdalhada não contava com esta. Só eles têm legitimidade para juntar os trapinhos e fazer uma geringonçada. Para eles, na altura, era legítimo afastar o partido vencedor das eleições. Agora é ilegítimo os outros fazerem isso. Isto só próprio de uma cambada miserável. Estão agora a comer do próprio veneno. Contorcem-se todos (e de que maneira), porque não esperavam esta. A bofetada é enorme.

  6. Talvez este acordo repugnante sirva para os portugueses verem quem é Marcelo Rebelo de Sousa e para os levar a correrem com ele da Presidência da República. Mas francamente esperava mais inteligência da parte de Rui Rio…

  7. Para que conste eu não sou apoiante nem simpatizante do chega. Mas pergunto o tribunal constitucional por proposta do PS ou outro partido impediu a existência do chega? O senhor Costa ou outro ainda vai a tempo de pedir aos tribunais que o chega seja dissolvido, em vez de mandar papais peça rapidamente a inconstitucionalidade do chega. Ou está a ter problemas dentro do partido por lhe estar a ser feito na quinta do césar o mesmo que ele fez no continente. Está a provar o seu veneno. Preparem-se que vai chegar ao Continente. O Costa abriu um precedente muito grande e que nada mais será como antes.

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