Ana Gomes, candidata às eleições presidenciais, considerou “elucidativo” que o antigo primeiro-ministro José Sócrates a tenha atacado e elogiado Marcelo Rebelo de Sousa.
Questionada pelos jornalistas sobre o artigo de José Sócrates divulgado na sexta-feira, em que alerta para a “brutalidade” da extrema-direita e critica a “maledicência” para “agradar a pasquins” da candidata Ana Gomes, a diploma e antiga eurodeputada socialista não quis fazer muitos comentários.
“Não vou falar de quem nos organizou o desvio de recursos do Estado, quero falar de fortalecer o Estado onde este precisa de ser forte”, afirmou, no final de uma visita a instalações do INEM em Coimbra.
“Eu acho muito elucidativo que José Sócrates venha defender o professor Marcelo Rebelo de Sousa e atracar-me a mim”, começou por dizer a ex-eurodeputada do PS, rindo-se em seguida.
A candidata acrescentou ser “muito elucidativo” que alguns não queiram que se “fale do BES, da teia de corrupção, de fuga a fisco, de captura do estado, dos bloqueamentos da justiça relativamente aos megaprocessos do BES e da Operação Marquês”.
“Não tenho mais nada a dizer, os portugueses que pagam as consequências do BES e da criminalidade associada ao BES percebem o que significa esse posicionamento”, referiu.
As posições de Sócrates constam de um artigo publicado na sexta-feira na revista brasileira “Carta Capital”, intitulado “Ventos da tragédia”, no qual começa por se referir às lições da História, tendo como base uma biografia de Mussolini, ” M – o filho do século”, de Antonio Scurati, e à recente invasão do Capitólio em Washington por apoiantes do Presidente cessante dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Aqui, em Portugal, entrámos também em campanha eleitoral para Presidente da República. E também aqui a vaga de degradação política chegou de forma avassaladora. A entrada na campanha do candidato da extrema direita [André Ventura] mudou tudo”, sustenta o antigo líder socialista.
Segundo José Sócrates, “o espetáculo é agora de violência, agressão pessoal e brutalidade, primeiro nas palavras – começa sempre nas palavras”.
Depois, no post scriptum, do mesmo antigo, Sócrates refere-se também à atuação da candidata presidencial Ana Gomes, ex-eurodeputada do PS, lamentando que a esquerda portuguesa também não resista a entrar “no jogo populista”.
“Uma das candidatas usa igualmente a cartada do combate à corrupção, sem nenhum respeito pela inocência, pela presunção de inocência, pelos direitos individuais garantidos pela Constituição ou, mais simplesmente, pela boa educação e respeito devido aos demais. Toda uma carreira política dedicada à maledicência – maldizer os adversários, os ricos, os poderosos e maldizer também os seus próprios camaradas” no PS, critica.
Para José Sócrates, Ana Gomes segue a linha de “maldizer para agradar aos pasquins e garantir popularidade”.
“O próprio Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa] tem de se defender das maldosas insinuações da candidata. No final, fica-nos a enjoativa impressão de que nada disto tem outro objetivo que não seja disfarçar um enorme vazio político”, acrescenta.
Este sábado, Ana Gomes voltou a acusar o atual chefe de Estado de ter “minado” uma requisição civil dos privados na saúde, responsabilizando Marcelo por nem todos os meios humanos e físicos estarem a ser aproveitados.
No final de uma visita às instalações do INEM em Coimbra, a candidata admitiu estar preocupada com os números crescentes de casos e óbitos devido à covid-19, e recordou que deve ter sido a primeira candidata a falar na necessidade de requisição civil dos privados e do setor social.
“Foi o professor Marcelo Rebelo de Sousa que, de facto, minou, impediu uma melhor negociação do Estado com os privados”, acusou.
Ana Gomes considerou que a requisição civil dos privados “a custo justo” foi prejudicada por o atual Presidente da República e recandidato ao cargo ter dado “palco e força aos privados contra a decisão e intenções da ministra da Saúde”.
“Isto tem de ser dito e os portugueses têm de saber isto: foi o professor Marcelo Rebelo de Sousa que, ao impor no próprio decreto presidencial que o Estado devesse procurar antes acordos com os privados em vez de imediatamente avançar para a requisição civil a custo justo, também determinou que, até hoje, a capacidade instalada não esteja a ser totalmente aproveitada e os recursos humanos também não estejam a ser totalmente mobilizados”, afirmou.
ZAP // Lusa