“Grau zero da aldrabice”: o momento TAP que nos escapou por causa de Trump

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António Cotrim/LUSA

Christine Ourmières-Widener e Jorge Seguro Sanches, antes de audição no Parlamento

Conversa entre um deputado da IL e a presidente-executiva da TAP não passou na maioria da comunicação social. Mas traz outro assunto controverso.

Tal como já se previa (talvez não a esta escala), a audição de Christine Ourmières-Widener no Parlamento está a criar várias “réplicas”.

Nos dias seguintes às conversas com os deputados, destacaram-se dois assuntos.

O primeiro foi a reunião que a presidente-executiva da TAP teve com membros do Governo e com um deputado do Partido Socialista, um dia antes de ser ouvida no Parlamento, em Janeiro.

O segundo foi a pressão à qual Christine foi sujeita, por parte de alguém do Governo, para alterar um voo de Marcelo Rebelo de Sousa, que queria voltar mais cedo de Moçambique.

Mas houve outro momento importante neste processo, perto das 18h30m daquela terça-feira. Uma conversa que não foi acompanhada em directo como outras – porque, à mesma hora, Donald Trump entrou num tribunal, respondendo à acusação de 34 crimes de que é alvo; e as televisões começaram a concentrar-se nos EUA.

Bernardo Blanco, deputado da Iniciativa Liberal, entre outros assuntos, recordou o dia 26 de Dezembro de 2022, quando a então dupla de ministros Pedro Nuno Santos e Fernando Medina pediu esclarecimentos à TAP sobre a indemnização paga a Alexandra Reis, na altura secretária de Estado.

A questão é que, poucas horas depois, no mesmo dia, houve uma reunião entre Christine Ourmières-Widener, o seu advogado e, entre outras pessoas, Hugo Mendes, secretário de Estado. O esclarecimento foi elaborado com a colaboração, com sugestões de um secretário de Estado.

Ou seja, o Governo pediu respostas à TAP e essas respostas foram dadas com ajuda do próprio Governo.

Confrontada com esta situação, Christine respondeu que, como o Hugo Mendes “conhecia bem o processo”, provavelmente foi isso que originou a sua presença no encontro. “Estes factos ocorreram há um ano e acho que precisávamos de conhecer todos os factos para assegurar que a resposta era consistente com a realidade”, justificou a ainda presidente-executiva da TAP.

João Miguel Tavares não ficou convencido: “Este episódio é inacreditável. Ninguém acreditava que os ministros em causa não soubessem da indemnização a Alexandra Reis. Ninguém dava um passo sem saber”.

“Mas o Governo que disse à CEO ‘explique-me isto’ estava, horas depois, a discutir com a CEO qual a resposta que devia dar à sua própria pergunta… Isto é o grau zero da aldrabice política. Sabemos que, na política, nem sempre se conta a verdade; mas tem que haver um limite, não pode valer tudo. Não sei se é possível descer abaixo disto”, criticou o comentador, na SIC Notícias.

De volta ao Parlamento, Bernardo Blanco disse à líder da TAP que entendeu a presença de Hugo Mendes na reunião; só acha que o ex-ministro Pedro Nuno Santos poderia ter evitado este comunicado: “Olhava para o lado e fazia as perguntas ao secretário de Estado, em vez de fazer este número público”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

6 Comments

  1. Já aqui disse que isto da TAP não passou de um golpe palaciano para afastar rivais políticos do mesmo partido.
    Mas o mais grave disto tudo é que estamos a ver a repetição da maioria do socrates. Se não reparem na repetição dos tiques de poder absoluto tal como no tempo do socrates. TAP = BES 2.0
    A gelatina política só fala, fala e não faz nada. É preciso a coragem de obrigar o costa a reformar o governo todo já que pelos visto o povinho não é suficiente sábio para alterar isto. “Se calhar” convém dizer isto quando se sabe que o nosso partido não vai ganhar as eleições (talvez porque são farinha do mesmo saco) a este PS.

  2. Este ciclo infernal, ficará na história das podridões governativas neste pobre país. E um Presidente “doente” a permitir estas desgraças! E um povo a “comer e calar” e a ser surripiado ! Meus Deus, alguém que ponha mão nisto!

    • Uma espécie de governação completamente ao deus-dará, na linha do que foi a criação de dois aeroportos que durou menos de 24 horas. Um rol de anedotismos que, em breve, estarão em livro.

  3. Neste caso, para além das hesitações mais que óbvias, as falhas do “governo”, ao que já se sabe, estiveram todas ligadas a um tal Hugo Mendes que, pelos vistos, funcionava em roda livre seem controlo do próprio ministro que o nomeou. Pedro Nuno Santos contratou-o contra a opinião de Costa e esse foi o seu enorme erro.
    Quanto a Costa, já devia ter aprendido que é um erro convidar para o governo vários “miúdos” que não têm estofo para funções de ministro, por falta de maturidade. Mas, à parte todos estes casos variados, que de facto vendem muitos jornais e telejornais, parace-me justo afirmar que António Costa tem conduzido o governo de forma bastante razoável no que se refere às cruciais questões económicas e financeiras, como todos os indicadores internacionais demonstram. A redução sustentada da dívida pública e do deficit anual é fundamental para tudo aquilo que o País (através deste ou doutro governo) precisa de fazer. O mundo financeiro aproveita qualquer crise para explorar um País que não fornece indicações de estabilidade financeira. Como se viu há dez anos.

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