Miguel A. Lopes / Lusa

Segundo relatório divulgado neste sábado, que relata a cronologia do acidente, o cabo que unia as cabinas do elevador da Glória “cedeu no ponto de fixação” da carruagem que descarrilou. O guarda-freio acionou os travões para tentar suster o movimento de descida, que aconteceu a 60 km/h, durante 50 segundos.
Do estudo feito aos destroços no local do acidente do Elevador da Glória pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), “foi de imediato constatado que o cabo que unia as duas cabinas cedeu no seu ponto de fixação dentro do trambolho, a peça de encaixe superior da cabina n.º 1”.
A conclusão foi apresentada este sábado em Nota Informativa divulgada pelo organismo, à qual a agência Lusa teve acesso.
Segundo a investigação, “o restante cabo” e todo o sistema, como “o volante de inversão e as polias onde este desenvolve o seu trajeto, encontravam-se lubrificadas e sem anomalias aparentes”.
A nota acrescenta que “o cabo no trambolho superior da cabina n.º 2, que estava junto à Praça dos Restauradores, encontrava-se também sem anomalias aparentes”.
O cabo utilizado é constituído por seis cordões de 36 arames de aço com alma em fibra, com um diâmetro total nominal de 32 milímetros (mm) e uma carga de rotura aproximadamente de 68 toneladas, sendo este tipo de cabo usado neste ascensor há cerca de seis anos, explica a nota do GPIAAF
“Tem fixada uma vida útil de 600 dias para este uso e aquele existente no momento do acidente tinha sido instalado há 337 dias, tendo ainda uma vida útil de 263 dias até à sua substituição. É considerado pela entidade operadora do sistema que a vida útil definida tem um coeficiente de segurança significativo”, realça a nota do GPIAAF.
Quanto à manutenção e conservação do sistema do ascensor da Glória, a investigação refere que “está contratualizada pela entidade operadora, Carris, a uma empresa externa de prestação de serviços especializada, cujos termos do contrato existente definem que compete à primeira o fornecimento dos cabos e à segunda a sua instalação sob a fiscalização da primeira”.
O GPIAAF constatou ainda que “o ascensor não está na alçada da supervisão do Instituto da Mobilidade e dos Transportes”.
Guarda-freio acionou travões
O guarda-freio do elevador que descarrilou acionou os travões automático e manual para tentar suster o movimento de descida do veículo, mas essas ações não surtiram efeito, e a carruagem continuou em aceleração até se descarrilar, 170 metros depois.
O GPIAAF estima que o embate da carruagem do elevador da Glória, em Lisboa, contra um edifício tenha ocorrido a “uma velocidade da ordem dos 60 km/h e que todo o evento tenha “decorrido num tempo inferior a 50 segundos”.
O elevador da Glória percorre 276 metros, vence um desnível de 45 metros, com uma inclinação média de 18%, sendo a “sua velocidade máxima de funcionamento” de 11,5 quilómetros hora, levando pouco mais de um minuto a realizar o percurso, realça a nota informativa do GPIAAF.
É constituído por dois veículos, designados por “cabinas” e numerados 1 e 2, cada um com cerca de 14 toneladas de tara e capacidade para 42 pessoas, 22 das quais sentadas e as restantes em pé, além do condutor (‘guarda-freio’).
O ascensor da Glória, classificado como monumento nacional, na sua tipologia e configuração atual, data de 1914, embora tenha ao longo destes 111 anos sido sujeito a diversas intervenções de conservação e beneficiação, além da manutenção periódica definida para cada momento.
Cronologia do acidente
Segundo relata o GPIAAF, pelas 18:00 de quarta-feira, 3 de setembro, o ascensor encontrava-se com as suas cabinas estacionadas em ambas as estações: a n.º 1 no cimo da Calçada da Glória e a n.º 2 em baixo, junto à Praça dos Restauradores, recebendo passageiros.
A nota adianta que “neste momento da investigação não está ainda inequivocamente determinado qual era o número exato de pessoas em cada veículo, sendo que os guarda-freios controlam a capacidade de acordo com a lotação máxima permitida”.
O GPIAAF conta que “cerca das 18:03, após os normais procedimentos de coordenação entre os respetivos guarda-freios, as cabinas iniciam a sua viagem”.
“Alguns instantes após o início do movimento e quando não teriam percorrido mais de cerca de seis metros, as cabinas perdem subitamente a força de equilíbrio garantida pelo cabo de ligação que as une”, explica este organismo.
Segundo o GPIAAF, “a cabina n.º 2 recua bruscamente, sendo o seu movimento sustido cerca de 10 metros depois pela sua saída parcial além do final da via-férrea e enterramento do trambolho do lado inferior no final da vala do cabo”.
“Já a cabina n.º 1, no cimo da Calçada da Glória, prossegue o seu movimento descendente aumentando a sua velocidade. De imediato, o guarda-freio do veículo acionou o freio pneumático bem como o freio manual a fim de tentar suster o movimento. Essas ações não tiveram efeito em suster ou reduzir a velocidade do veículo e a cabina continuou em aceleração pelo declive”, revela a investigação.
Cerca de 170 metros após o início do seu percurso, no início da curva à direita que o alinhamento da Calçada apresenta na sua parte final, “o veículo, devido à velocidade, descarrila e começa a tombar para a esquerda no sentido da marcha”.
“No entanto, as forças desenvolvidas acabam por arrancar o pavimento e o veículo perde totalmente o guiamento, embatendo lateralmente a parte superior da cabina na parede do edifício existente do lado esquerdo da Calçada, o que iniciou a destruição da caixa de madeira, e depois frontalmente contra um poste de iluminação pública e outro de suporte da rede aérea elétrica do ascensor”, lê-se na NI.
O GPIAAF diz que “os dois postes, ambos em ferro fundido, causaram danos muito significativos na caixa”, acrescentando que a cabina terminou “pouco depois o seu movimento descontrolado contra a esquina de um outro edifício”.
ZAP // Lusa
Acidente do Elevador da Glória
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7 Setembro, 2025 Elevador: cabo cedeu no ponto de fixação da cabine. Guarda-freio acionou travões
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Não foi este Sr. que foi acessor do PSD na AR e teve também cargo na AT…? Estou enganado?