Montenegro defendia reagrupamento familiar no congresso do PSD. Agora estamos em “caminhos perigosos”

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António Pedro Santos / LUSA

Luís Montenegro durante o congresso do PSD em 2023

O contraste entre as palavras de Luís Montenegro em Almada e as novas regras do Governo. “Tudo em interesse do país”.

Luís Montenegro falava no Congresso do PSD em Almada: “Mesmo que sejamos bem sucedidos nas políticas de natalidade, isso não produz efeitos imediatos”.

Por isso, defendia o (na altura) candidato a primeiro-ministro: “Nós precisamos mesmo de atrair, acolher e integrar imigrantes”.

“Agora, atrair, acolher e integrar é fazer simultaneamente duas coisas: regular e dignificar. Nem podemos ter a porta escancarada, nem podemos ter a porta fechada à chave. É assim que se resume a nossa política e a nossa posição”.

Até aqui, tudo coerente. Ainda hoje o agora primeiro-ministro tem essas posições.

Reagrupar em 2023

Mas, logo a seguir, no tal Congresso em 2023, Luís Montenegro falou em dois “bons caminhos” para os imigrantes.

Um é focado nos mais jovens: “Atrair jovens estudantes para o nosso ensino secundário e superior”.

O outro: “É uma boa política de atracção e de integração de imigrantes atrair os agregados familiares como um todo – e não apenas os progenitores masculinos desses agregados familiares”.

Ou seja, Luís Montenegro defendia o reagrupamento familiar completo.

Reagrupar em 2025

Mas, em 2025, o panorama mudou: o reagrupamento familiar vai contribuir para um novo aumento de imigrantes em Portugal e o Governo já anunciou medidas mais apertadas nesse assunto.

Apesar de ter recusado a ideia do Chega de bloquear chegada de familiares de imigrantes, o Executivo AD vai exigir mais aos familiares de imigrantes, além dos requisitos actuais de alojamento e meios de subsistência.

O alojamento vai ter de ser próprio, ou arrendado, e “considerado normal para uma família comparável na mesma região e que satisfaça as normas gerais de segurança e salubridade”.

Os meios de subsistência terão de ser “recursos estáveis e regulares que sejam suficientes para a sua própria subsistência e para a dos seus familiares, sem recorrer ao sistema de assistência social, e tendo em conta o número de familiares e a natureza e regularidade do rendimento”.

Em resumo: o alojamento terá de ser adequado e os meios de subsistência também. Não podem ser “qualquer um” – mas a chegada dos familiares também não pode ser sinónimo de mais “clientes” da Segurança Social.

Além disso, os novos imigrantes, familiares dos que já estão cá, devem ter em atenção a sua integração: aprender a falar português, perceber os princípios e os valores constitucionais, colocar os menores numa escola.

Tudo – e recuperando o discurso de Luís Montenegro em 2023 – são “medidas para diminuir o perigo da insegurança, o perigo da instabilidade social, que atrair imigrantes também comporta”.

E tudo “em interesse do país, a médio e longo prazo”.

Já mais recentemente, em Outubro do ano passado, no debate preparatório do Conselho Europeu, Luís Montenegro disse que o Governo iria “privilegiar uma imigração de famílias inteiras que se possam fixar em Portugal”.

“Perigoso”

Eunice Lourenço acha que, agora, o Governo não tem certeza de que o Chega vai aprovar a sua lista de medidas sobre imigração.

O Chega quer tudo e o Governo entrou nesse caminho. Uma coisa é resolver problemas; outra é cavalgar o assunto e misturar nacionalidade e imigração, fazer cedências ao Chega e abusar dos dados errados que vão ser transmitidos sobre excesso de reagrupamento familiar – e o reagrupamento familiar não é um problema“.

A comentadora na rádio Observador considera que o Governo “mudou completamente” a sua postura sobre o reagrupamento familiar – e sem ter explicado. “Acho que vamos aqui por caminhos perigosos. O debate mostrou como estamos muito perto do discurso de ódio, mesmo no Parlamento”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

1 Comment

  1. Uma notícia baseada num devaneio de uma comentadora…… My god !!!! Será assim tão imoral exigir alojamento e meios de subsistência adequados de modo a evitar futuros problemas sociais (casas sem condições, pobreza extrema ou produção em massa de filhos sem qualquer condição para os ter), ou o próximo passo desta comentadeira é exigir casas para todos e ajudas sociais…..

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