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Osama, 5 anos, 9 quilos. O rosto de uma geração que terá graves problemas de saúde para a vida

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HAITHAM IMAD/EPA

Osama al-Raqab, de cinco anos, sofre de desnutrição grave.

Atrasadas no crescimento, deficientes intelectuais e motoras com capacidades sensoriais enfraquecidas, mais vulneráveis a doenças, anãs. É este o quadro da geração de crianças da Faixa de Gaza que a ciência — e Israel — pintam.

Osama al-Raqab, o menino na foto acima, tem 5 anos: quase tantos como quilos, que são só 9.

A falta de comida e o desespero obrigaram a mãe de Osama a levá-lo para o Hospital Nasser, em Khan Younis, no sul de Gaza, onde todas as 2,1 milhões de pessoas está hoje em risco de passar fome, 19 meses depois de Israel dar início à sua ofensiva na Faixa. Enlatados não ajudam a sua fibrose cística.

“Com a fome em Gaza, só comemos lentilhas enlatadas”, dizia a sua mãe há um mês à agência AP: “se as fronteiras continuarem fechadas, até isso perderemos.”

Osama é uma de milhares de crianças vítimas de desnutrição prolongada grave e que já levam cicatrizes para a vida, embora algumas não nunca tenham sequer visto a luz do dia. A grave escassez de alimentos e medicamentos está a empurrá-las para a desnutrição crónica, que terá consequências devastadoras a curto e longo prazo, alertam especialistas em saúde e agências humanitárias.

A carência de nutrientes essenciais deixará muitas destas crianças permanentemente afetadas por atrasos no desenvolvimento físico e mental, incluindo nanismo, enfraquecimento do sistema imunitário e maior vulnerabilidade a doenças infecciosas como pneumonia e diarreia, duas das maiores causas de morte infantil do mundo.

Os bebés e atuais fetos, se sobreviverem, enfrentam previsões particularmente duras. A desnutrição materna durante a gravidez afeta irreversivelmente o desenvolvimento cerebral no útero e a má nutrição materna também leva a uma taxa mais elevada de partos prematuros, devido ao enfraquecimento da função placentária.

Os bebés prematuros enfrentam mais riscos ao longo da vida, incluindo deficiências intelectuais e motoras, atraso no crescimento e enfraquecimento das capacidades sensoriais.

Os danos já causados são duradouros e, à partida, irreversíveis — ou, pelo menos, “podem persistir por cinco ou seis décadas”, alerta o obstetra e ginecologista da Faculdade de Medicina da Universidade Ain Shams, no Egito, Alaa Elfeky, ao SciDev.Net.

Cerca de 470 mil pessoas em Gaza enfrentarão níveis “catastróficos” de fome até ao final de setembro. Este é o nível mais grave na escala de insegurança alimentar, alerta o quadro integrado de classificação da segurança alimentar da ONU.

A UNICEF para a Palestina avisa que está a ficar sem suprimentos nutricionais. “No início de 2025 estimava-se que aproximadamente 60 mil crianças necessitavam de tratamento; atualmente, a grande maioria das crianças em Gaza enfrenta grave privação alimentar”, diz o diretor de comunicações da organização, Jonathan Crickx.

O bloqueio à entrada de alimento persiste. Neste momento, 116 000 toneladas métricas de ajuda alimentar estão retidas em camiões nos corredores de emergência. Seria o suficiente para alimentar um milhão de pessoas durante quatro meses, mas Israel não deixa os veículos ajudar os palestinianos necessitados.

Embora Israel tenha aliviado recentemente um bloqueio de 11 semanas, permitindo a entrada de cerca de 90 camiões de ajuda humanitária em Gaza na semana passada, a ajuda continua a ser extremamente insuficiente.

Sabemos há meses que a piorar este cenário está o facto de a infraestrutura médica em Gaza estar a entrar em colapso, com unidades neonatais sobrelotadas — com até cinco recém-nascidos a partilhar uma única incubadora — e hospitais sobrecarregados e sem recursos.

No Hospital do Kuwait, em Rafah, por exemplo, 85% dos medicamentos acabaram e não há alimentos tão básicos como pão, revela o diretor da unidade hospitalar, Suhaib Al-Hams. Aqui, “a maioria das pessoas está anémica“, e por isso o hospital já não consegue encontrar dadores de sangue suficientes para atender os cerca de 4 mil pacientes diários.

A guerra em Gaza já vitimou mais de 50 mil crianças e não tem fim à vista. Mais de 93% das crianças na Faixa, cerca de 930 mil, estão atualmente em risco de passar fome, segundo a ONU.

Tomás Guimarães, ZAP //

1 Comment

  1. Mostrem as fotografias dos pais dele…. Todas as crianças que vi nesse estado os pais estavam todos bem encarados e com peso assim da media para o tamanho. Já que eles acreditam que o allah predestina tudo… allah sabe melhor

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