As vendas de cerveja e de roupa masculina estão em queda, as de baton em alta. A receita dos bordeis e as gorjetas das dançarinas caíram… e há menos loiras. Os indicadores não tradicionais de atividade económica estão a enviar-nos sinais preocupantes: a economia está em apuros.
Enquanto algumas pessoas observam ansiosamente o mercado de ações à procura de sinais de recessão, outras procuram indícios mais subtis de que a economia está em dificuldades.
Uma delas é Catherine De Noire, doutoranda em psicologia organizacional, influencer e gerente de um bordel legalizado. Quando o negócio no seu bordel sofre uma queda inesperada, De Noire interpreta-o como um sinal de que a economia está em apuros, conta o HuffPost.
Embora esteja sediada na Europa, eDe Noire la acredita que a agitação económica nos Estados Unidos “desencadeia uma enorme incerteza” do outro lado do Atlântico devido à influência global americana.
De Noire notou pela primeira vez um declínio no negócio logo após Donald Trump ter sido eleito em novembro de 2024 — numa altura em que os americanos e o resto do mundo antecipavam alguma turbulência.
As strippers nos EUA também estão a sentir dificuldades. A dançarina e influencer Vulgar Vanity conta que quando começou a dançar em 2022, conseguia ganhar milhares de euros apenas a dançar durante grandes eventos, como o Grande Prémio de Fórmula 1 e o festival de música South by Southwest.
Este ano é diferente. “Nem me dei ao trabalho de trabalhar no South by Southwest porque na primeira sexta-feira à noite em que tentei trabalhar, entrei num clube completamente vazio e não ganhei dinheiro nenhum“, diz a influencer.
Vanity diz que muitos dos seus clientes habituais não estão a dar gorjetas ou estão a dar menos de metade do que costumavam. Salienta que é apenas uma dançarina e “obviamente não é economista” — mas observa que outras dançarinas e trabalhadores que dependem de gorjetas também estão a sofrer.
A sua teoria é que os clientes já não dão gorjetas tão generosas devido ao aumento dos custos e à incerteza económica. Vanity está preocupada que isto signifique que estamos à beira de uma recessão ou depressão total.
Estas astutas mulheres estarão certas?
Indicadores como um declínio no negócio dos bordéis, gorjetas mais baixas para strippers e outras medidas não tradicionais de saúde económica “têm uma certa validade, mas podem ser mais indicadores coincidentes do que antecedentes“, explica Marta Norton, estratega numa empresa de investimentos nova-iorquina
Embora Norton considere este interessante tipo de evidência episódica, diz que analisa fontes de dados mais tradicionais, especialmente os lucros das empresas e o mercado de ações, para prever se uma recessão está no nosso futuro.
Por essas medidas tradicionais, diz Norton, “podemos estar a abrandar“, mas não estamos a enfrentar uma recessão iminente. “Ainda“.
Catherine De Noire acredita que as tarifas que Donald Trump anunciou no que chamou de “Dia da Libertação” irão definitivamente contribuir para um maior declínio e recessão, e tem os seus próprios dados para sustentar essa opinião. Mas há outros indícios de que algo se passa com a economia.
Os índices não tradicionais
O passado mostrou que medidas não tradicionais podem dizer-nos muito sobre a saúde da economia, e há neste momento diversos índices de atividade que apresentam sinais preocupantes, nota o HuffPost.
Em primeiro lugar, o “Índice dos Bordéis”. Segundo De Noire, o movimento no seu bordel geralmente aumenta na primavera, quando as pessoas desistem das suas resoluções de Ano Novo e recuperam dos gastos das festas.
Mas este ano, o negócio está em baixa. De Noire atribui a “enorme queda” nos rendimentos do seu bordel à insegurança dos clientes em relação à economia.
“Há significativamente menos clientes a entrar, e as trabalhadoras do sexo estão a reportar ganhos visivelmente mais baixos — cerca de metade do que ganhavam durante o mesmo período do ano passado”, diz a candidata a doutoramento.
Segundo De Noire, isto sugere que as pessoas estão a poupar dinheiro ou a realocar os seus gastos para coisas que consideram mais essenciais, provavelmente porque se estão a preparar para tempos difíceis.
Outro sinal preocupante é o “Índice das Strippers“, que são frequentemente as primeiras a notar uma queda na economia. As dançarinas “obviamente não são uma prioridade ou necessidade doméstica” e “são as primeiras a sentir porque somos as primeiras a ser postas de lado”, explica Vanity.
Segundo David Kindness, contabilista e especialista em finanças, “o ‘índice das strippers’ é um daqueles indicadores estranhos mas estranhamente eficazes” de saúde económica: acompanha quanto as strippers estão a ganhar e com que frequência os clientes vão a clubes de strip.
“Quando as gorjetas diminuem e o movimento de clientes reduz, isso geralmente significa que as pessoas estão a guardar o seu dinheiro extra“, explicou Kindness.
O “Índice da Cerveja” é também um bom indicador de que há uma recessão no horizonte, diz Jack Buffington, professor assistente de gestão da cadeia de abastecimento na Universidade de Denver.
“A cerveja é um gasto discricionário e social“, explica Buffington. “Por isso, as pessoas reduzem o que gastam em cerveja quando estão preocupadas com a economia”.
É muito mais barato comprar um pack de seis cervejas do que beber cerveja de pressão numa saída noturna, diz o professor. Uma queda no consumo de cerveja de pressão, em cervejas artesanais caras em particular, é um prenúncio de recessão.
“As vendas de cerveja artesanal estão muito em baixa”, nota Buffington.
Outro indicador preocupante é o “Índice da Roupa Interior Masculina“. Em 2008, o ex-presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan, observou que a queda nas vendas de roupa interior masculina provavelmente significava que estávamos a caminho de uma recessão.
“Há uma tendência preocupante. As vendas caíram 6% nos últimos meses”, diz Lokenauth. “Os homens só deixam de substituir a roupa interior quando estão preocupados com dinheiro, por isso podemos estar em apuros”.
Em sentido contrário funciona o “Índice do Batom“, que ilustra um padrão de consumo aparentemente contraditório durante recessões económicas, explica o analista de dados financeiros Kevin Shahnazari: quando a economia está em baixa, as vendas sobem.
O “Índice do Batom” não se aplica apenas ao batom, mas a outros hábitos de consumo: quando o dinheiro é escasso, os consumidores substituem compras dispendiosas por pequenos luxos baratos, como o batom.
“Na recessão de 2008, as vendas de cosméticos aumentaram, mostrando que mesmo em tempos difíceis, as pessoas desejam pequenas compras de conforto que dão impulsos psicológicos sem um grande desembolso financeiro”, explica Shahnazari. “Quando falta dinheiro, as pessoas tendem a evitar um jantar caro fora, mas podem tomar um café, ou ir ao cinema“.
E finalmente, o “Índice das Morenas“. Se repararmos que há menos penteados loiros, isso pode ser um sinal de que uma recessão está a aproximar-se.
“Os estilistas são dos primeiros a notar mudanças económicas e, ultimamente, muitos dizem que os clientes pedem opções mais simples e baratas“, diz Kindness. “Os clientes mudam de penteados que exigem muita manutenção para looks naturais que exigem menos cuidados, como forma de poupar dinheiro.
“Há sinais de que os gastos em salões de beleza estão a diminuir”, nota o contabilista. “Se vir por aí ‘morenas da recessão’, que antes eram loiras, pode ser um sinal de que uma recessão está a chegar“.
Aparentemente, todos estes índices não tradicionais de atividade económica estão a deixar-nos sinais de que estamos em sarilhos…