António Pedro Santos / Lusa

A importância do gás natural na estabilidade do sistema elétrico. Universidade tem serviços de energia inovadores e inteligentes.
O presidente da Eurogas defende que o apagão que deixou Portugal e Espanha sem eletricidade durante mais de 10 horas demonstrou a importância do gás natural na estabilidade do sistema elétrico, e aponta Portugal como peça-chave na transição energética europeia.
“Portugal já depende em grande parte do Gás Natural Liquefeito (GNL) e está a planear substituir até 20% do gás fóssil por biometano e hidrogénio verde. Isto está perfeitamente alinhado com a visão europeia para descarbonizar o sistema mantendo a resiliência”, disse Cristian Signoretto, presidente da associação europeia do setor do gás, em entrevista à Lusa.
O responsável destacou que as turbinas a gás proporcionam inércia ao sistema – capacidade de manter a estabilidade da rede elétrica – e são fundamentais para assegurar o equilíbrio quando as fontes renováveis, como o sol e o vento, não produzem energia suficiente.
“As turbinas a gás foram essenciais durante o apagão de abril, evidenciando a necessidade de soluções técnicas robustas para garantir a segurança do abastecimento”, afirmou.
Nesse sentido, defende que a transição energética europeia deve manter soluções técnicas capazes de garantir a segurança de abastecimento.
Durante o incidente que afetou toda a Península Ibérica, foram ativadas duas centrais com capacidade autónoma de arranque (‘blackstart’): uma hidroelétrica (Castelo de Bode) e outra a gás natural (Tapada do Outeiro), que permitiram restaurar o fornecimento elétrico.
Além disso, Cristian Signoretto destacou que Portugal está bem posicionado para ser uma peça-chave na transição energética europeia graças ao seu potencial em energias renováveis e gases verdes.
Relativamente ao hidrogénio verde, apontou que Portugal e Espanha são “abençoadas com sol e vento”, apresentando um potencial elevado para suprir o mercado interno e para exportação. “Transformar energia renovável em hidrogénio permitirá estabilizar o sistema e criar um novo setor industrial. Portugal é um destino atrativo para investimento, mas é preciso acelerar os apoios e a procura”, acrescentou.
Embora vários projetos estejam a sofrer atrasos devido a limitações de financiamento e procura, o presidente da Eurogas defende uma abordagem pragmática para o desenvolvimento do hidrogénio. “É preferível ter hidrogénio com 60 ou 70% de descarbonização agora do que esperar por um cenário 100% verde e ficar sem alternativas”, comentou.
Além disso, reforçou que a descarbonização do sistema energético europeu deve integrar o gás natural e os gases de baixo carbono, pois “é mais barato descarbonizar o gás do que eletrificar tudo”.
O responsável salientou ainda que setores como o residencial e o industrial ainda dependem fortemente do gás, e a substituição total por eletricidade enfrenta limitações técnicas e financeiras. “A eletrificação da última milha é significativamente mais dispendiosa do que integrar gases renováveis através de tecnologias como biometano, captura e armazenamento de carbono (CAC) ou hidrogénio com baixa pegada de carbono”, explicou.
A Eurogas defende uma transição energética baseada na neutralidade tecnológica, que combine eletrificação, moléculas limpas e soluções industriais viáveis. Para Cristian Signoretto, o fundamental é atingir a meta de emissões líquidas nulas, independentemente da tecnologia utilizada. “Metas climáticas demasiado rígidas ou idealistas podem comprometer a adesão política e social ao processo de transição”, concluiu.
Soluções para flexibilidade
Já a Universidade de Coimbra, mais concretamente o Instituto de Sistemas e Robótica (ISR), tem soluções para a flexibilidade da rede elétrica nacional para mitigar efeitos de potenciais cortes de energia.
Nos últimos dois anos e meio, a equipa do ISR tem vindo a trabalhar no desenvolvimento de serviços de energia inovadores e inteligentes que visam a otimização e redução dos consumos de energia nos edifícios, lê-se em comunicado enviado ao ZAP.
O ISR também aposta em estratégias de orquestração/conjugação de serviços de energia, que reduzam os consumos e criem flexibilidade para a rede elétrica nacional, de forma mitigar os efeitos de potenciais cortes de energia ou apagões.
O investigador Nuno Quaresma explica que a ideia do projeto é mostrar que a gestão concertada de serviços de energia permite, não só reduzir custos, como também eliminar os desperdícios de energia (consumos em standby e a utilização incorreta dos equipamentos), permitindo obter poupanças energéticas muito significativas.
«Os resultados são muito promissores. O pacote integrado de serviços de eficiência energética, que está a ser testado, combina a eficiência no consumo, a produção de energia renovável distribuída, a resposta à procura, a mobilidade elétrica e o armazenamento de energia», conta o coordenador.
Este modelo «valoriza a eficiência energética, a flexibilidade do lado da procura e promove a comercialização de pacotes de serviços de energia de forma integrada. Nesse sentido, os principais objetivos centram-se em facilitar a vida dos consumidores, reduzir custos, maximizar a utilização das fontes renováveis e otimizar a operação das empresas de serviços energéticos», descreve Nuno Quaresma.
A ideia é sobretudo demonstrar que as conjugações destes serviços de energia, em conjunto com as tarifas de compra de eletricidade, possibilitam a maximização dos recursos renováveis (solar e armazenamento de energia) e, ao mesmo tempo, a redução dos consumos e dos custos energéticos dos edifícios.
O projeto chama-se BungEES, tem mais de 100 projetos piloto a decorrer em Portugal, Espanha, França, Républica Checa e Eslováquia. Os resultados vão ser apresentados na próxima semana, no dia 25 de junho.
ZAP // Lusa
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16 Junho, 2025 Apagão: a importância do gás natural e as soluções da UC