Que culpas tem o Chega no caso das malas de Miguel Arruda?

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Miguel Taveira Arruda / Facebook

Miguel Arruda com André Ventura

O ainda deputado Miguel Arruda é uma mancha para o Chega depois de ter sido constituído arguido pelo alegado furto de malas no aeroporto. No meio das suspeitas contra o político açoriano, questiona-se como é que o seu partido não achou estranha a presença de tantas malas no Parlamento.

André Ventura, presidente do Chega, insiste no pedido a Miguel Arruda para que renuncie ao seu mandato de deputado, ciente de que a sua presença no Parlamento, mesmo que fora das fileiras do partido por que foi eleito, ficando como não inscrito, é um embaraço.

Mas Arruda já disse, em declarações à RTP1, que a renúncia ao mandato de deputado “tem de ser muito bem pensada”. O deputado açoriano também assegurou que já está de baixa psiquiátrica devido a todo o tumulto criado com o já chamado “malagate”.

E Ventura não duvida de que o alegado furto de malas poderá resultar de “um problema psiquiátrico”, o que coloca em xeque a condição de Arruda como deputado, mas também o Chega por o ter escolhido para integrar as suas listas nos Açores.

Ventura assume que foi ele quem escolheu Arruda

O presidente do Chega assume a responsabilidade política pela escolha de Miguel Arruda para cabeça de lista nos Açores, mas alega que desconhecia, na altura, quaisquer “problemas psíquicos”.

“Como presidente do partido, sou eu que faço escolhas, mesmo que indicadas por terceiros”, afiança Ventura no Parlamento, em declarações aos jornalistas, assumindo a “responsabilidade política”.

“Mas o presidente de um partido não pode ser responsabilizado por todos os actos pessoais e privados que funcionários, deputados ou outros, completamente fora do seu mandato, em incumprimento de regras e da lei, levem a cabo em termos de comportamento criminal”, ressalva Ventura.

Assim, o líder do Chega pede “encarecidamente, em nome da dignidade, em nome de Portugal, em nome do grupo parlamentar pelo qual foi eleito, que [Arruda] renuncie ao seu mandato”.

Ventura insiste que se Arruda continuar como deputado não inscrito na Assembleia da República (AR) “será uma ofensa“.

Quando é que o Chega soube das malas no Parlamento?

As autoridades realizaram buscas ao gabinete de Miguel Arruda na Assembleia da República, nesta terça-feira, 28 de Janeiro, apreendendo malas, perfumes e outros objectos.

Terão sido apreendidas quatro malas e um saco de desporto que terá sido furtado em Outubro de 2024 no aeroporto de Lisboa. Na comunicação social, também surgiram várias fotos com as alegadas malas no gabinete do deputado.

Os gabinetes dos deputados na Assembleia da República são relativamente pequenos e é estranho que ninguém, sobretudo no Chega, tenha considerado inusitada a presença de tantas malas.

De resto, Arruda dividia o gabinete com o deputado Daniel Teixeira, jovem eleito por Setúbal e membro da Igreja do Evangelho Quadrangular, que, certamente, teria conhecimento da presença dos objectos no local.

Ventura assegurou, nesta terça-feira, no Parlamento, que só soube das malas no gabinete na passada quinta-feira, 23 de Janeiro, já depois de o caso se ter tornado público na comunicação social.

Mas na sexta-feira seguinte, 24 de Janeiro, foi à SIC mostrar-se surpreendido com uma imagem que mostrava várias malas no gabinete de Arruda. “Eu não sei que gabinete é este, não sei que malas são estas“, sublinhou.

Ventura não explica porque não informou logo AR sobre as malas

No Parlamento, nesta terça-feira,28 de Janeiro, Ventura assegurou também aos jornalistas que foi o Chega a denunciar ao presidente da Assembleia da República (AR), José Pedro Aguiar-Branco, a presença das malas no gabinete de Arruda.

“Foi o Chega que na quinta-feira [23 de Janeiro], comunicou ao presidente da AR a existência desses objectos e alertou para a possibilidade de estarem relacionados com o produto do crime, de um crime que tinha sido publicamente exposto”, declarou Ventura, notando que o partido também “pediu que fosse feita a necessária articulação entre o órgão de soberania, o Parlamento e as autoridades judiciais”.

Mas isso terá ocorrido já depois de Arruda ter comunicado a Ventura que passaria a deputado não inscrito, recusando-se a suspender o mandato como o líder do Chega queria.

Ventura não soube explicar porque é que o partido não comunicou logo a existência das malas depois de Arruda ter sido constituído arguido na terça-feira, 21 de Janeiro.

Aguiar-Branco confirmou que teve uma conversa nos corredores do Parlamento com o vice-presidente do Chega, Rui Paulo Sousa, sobre o caso, na quinta-feira passada, mas realçou que aquilo que foi dito era “absolutamente irrelevante para a investigação”.

“Alertar para quê? Estava uma investigação a correr, a alertar para quê”, questionou ainda Aguiar-Branco quando confrontado com a versão do Chega.

“Houve um despacho” que “solicitou que se procedesse à apreensão de alguns bens que estavam supostamente na AR e num determinado gabinete, foi solicitada a colaboração da AR para o efeito, dentro daquilo que era o quadro legal, a Assembleia fê-lo”, esclareceu ainda Aguiar-Branco.

“Tudo decorreu sem incidentes” e o resto é “retórica política”, frisou ainda o presidente da AR.

Aguiar-Branco também sublinhou que, na altura, não tinha qualquer conhecimento sobre o pedido de levantamento da imunidade parlamentar de Miguel Arruda.

ZAP // Lusa

 

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