Ventura pede reunião com Montenegro: “O Chega é que perdeu a confiança no PSD!”

José Sena Goulão / LUSA

André Ventura e Luís Montenegro no Parlamento

“À hora que ele quiser, onde quiser”. Presidente do Chega insiste em acordo com o PSD: “Estamos disponíveis para desbloquear”.

Não houve eleição de qualquer presidente da Assembleia da República, após três tentativas no mesmo dia.

Luís Montenegro esteve sempre em silêncio ao longo desta terça-feira, Pedro Nuno Santos também.

André Ventura falou mais do que uma vez e, ao fechar a noite, depois das 23h e depois da terceira eleição frustrada, começou por dizer que PS e PSD estão “balcanizados em duas situações”.

Para o líder do Chega, que repetiu que foi a AD que durante a manhã anunciou que afinal não havia acordo à direita, diz que há uma “solução fácil: entendimento sobre o candidato”.

Por isso, vai pedir reunião com o primeiro-ministro indigitado: “Esta noite vou pedir novamente a Luís Montenegro – ainda que, honestamente, comece a achar que não o deva fazer – uma reunião à hora que ele quiser, onde quiser“.

Ventura quer um “entendimento à direita, não à esquerda, para vencermos a candidatura de Francisco Assis” – até ao meio-dia de amanhã, quarta-feira.

“Estamos a pedir um voto a favor sem sequer terem (o PSD) a mínima consideração de dizer ao partido que nome propõem, porque é que propõem…”, afirmou o presidente do Chega.

Uma jornalista perguntou se o PSD não pode ter perdido a confiança no Chega, depois de o próprio Ventura ter anunciado que o seu partido iria viabilizar a eleição de Aguiar-Branco, mas não o fez no momento da votação.

Se alguém perdeu, foi o Chega! Se alguém podia perder (a confiança no PSD), foi o Chega“, respondeu.

E justificou: “Porque, desde a primeira hora, avisou que o cenário de estabilidade estava a agravar-se, que este momento iria chegar mais tarde ou mais cedo; o PSD disse sempre que não”.

Ventura recusa demonstração de força: “Foi uma demonstração de humildade, de quem pede para respeitar 1,1 milhões de portugueses”.

Caso não haja entendimento, o Chega vai apresentar outro candidato à presidência da Assembleia da República. “Mas faz sentido continuar este rol interminável de eleições porque alguém não quer ceder no que é mais óbvio em democracia: todos sabemos respeitar os votos uns dos outros?”, perguntou.

André Ventura reforçou que o Chega quer chegar a um entendimento à volta de um candidato do PSD, não do Chega: “É um nome deles! O que é que querem mais?“. Porque o importante era “dialogar” entre PSD e Chega.

O deputado admitiu, novamente, que está a dar a sensação de se rebaixar: “O país está acima disto. Este espectáculo que estamos a dar ao país vale mais e é mais importante do que qualquer rebaixamento que possa sentir agora”.

“Eu não sou de pedir nada em troca”, garantiu André Ventura.

O “circo” e o “cheque em branco”

Quase ao mesmo tempo, Joaquim Miranda Sarmento (PSD), com muito menos palavras, disse que o PSD está “aberto a diálogo com todas as forças políticas para resolver este problemas”.

Outro líder parlamentar, Eurico Brilhante Dias (PS) repetiu que os socialistas nunca foram contactados sobre a eleição de um presidente da Assembleia da República. E o acordo público entre AD e Chega é que foi quebrado, algo que surpreendeu o PS, admite.

Nuno Melo disse que o CDS “quase parece que aterrou numa realidade paralela. Houve quem desse um triste sinal ao país; é um número de circo. O CDS não está aqui para números de circo”, comentou o líder do partido. Esclareceu: “Eu disse que não houve nenhum acordo (do Chega) com o CDS”, não disse que não havia nenhum acordo com a AD.

O Livre não ficou nada surpreendido com este dia invulgar na Assembleia da República. Rui Tavares lembrou os três blocos – esquerda, direita e extrema-direita – e disse que o PSD é manteve silêncio sobre esse cenário “até ao limite”. Acha que Aguiar-Branco deveria ter explicado como seria o seu mandato porque “não se passam cheques em branco, nem sequer a Aguiar-Branco”.

Paula Santos (PCP) acha que este dia na Assembleia da República foi “lastimável”. Mas repetiu o tom dos comunistas: os portugueses estão à espera de soluções para os problemas reais do país.

Por fim, Inês de Sousa Real (PAN) destacou que o acordo quebrado à direita é um sinal da “instabilidade governativa” que vai ter impacto na vida das pessoas. E anunciou que votou a favor de Francisco Assis, esperando que haja entendimento nas próximas horas.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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