A demissão de António Costa como primeiro-ministro foi vista como a sua “morte política”, até porque estão em causa suspeitas de corrupção contra ele. Mas essa ideia é exagerada. Falta saber por onde se dará a redenção de Costa…
O juiz de instrução criminal deixou cair por terra as acusações de corrupção no caso judicial que levou à demissão de António Costa, considerando que são pouco fundamentadas as suspeitas de que o primeiro-ministro demissionário foi alvo de pressões para beneficiar os responsáveis do Datacenter em Sines.
Contudo, até considerando a habitual demora na justiça portuguesa, “provavelmente, Costa não poderá exercer cargos públicos porque este processo vai demorar anos“, entende o politólogo José Adelino Maltez em declarações ao Diário de Notícias (DN).
O próprio Costa disse algo parecido no sábado passado, assumindo que “com grande probabilidade” não voltará a exercer “nunca mais qualquer cargo público”.
Contudo, essa percepção pode ser exagerada. Até porque “a informação disponível já não é a que pensávamos na semana passada, a realidade hoje não é a mesma e a narrativa conta muito“, aponta a politóloga Patrícia Calca, também em declarações ao DN.
E Costa já começou uma “campanha mediática” para se afastar do seu ex-chefe de gabinete, Vítor Escária, e do gestor e amigo Diogo Lacerda Machado, ambos implicados no caso que o derrubou, como nota Patrícia Calca.
A politóloga também repara que “da esquerda à direita, ninguém pôs em causa a seriedade do primeiro-ministro“, o que é uma vantagem. E, assim, admite que é possível que Costa “volte a ter uma posição relevante”.
Belém no horizonte em 2026
As eleições presidenciais de 2026 surgem no horizonte como uma possibilidade para a redenção de Costa. Essa hipótese ganhará mais força caso a investigação do Ministério Público (MP) não dê em nada.
“Poderá acontecer se a justiça for célere”, entende o politólogo António Costa Pinto em declarações ao DN.
Há cerca de um ano, Costa afastou por completo a possibilidade de se candidatar à Presidência da República. Usou mesmo o “nunca” para sublinhar que não tinha essa intenção no horizonte.
“Quem gosta de ser primeiro-ministro, quem tem uma vocação executiva, se for para a Presidência da República só arranjará complicações e dificuldades a quem está a exercer funções”, destacou na altura.
Contudo, os tempos são outros e na política, é recorrente que o que ontem foi verdade, hoje se torne mentira.
Alto cargo na UE
Além de Belém, Costa também pode ter a União Europeia (UE) no horizonte. Contudo, também aqui a lentidão da justiça portuguesa pode ser um problema.
O ainda líder do PS estava na linha da frente para ocupar um algo cargo na UE depois das eleições europeias de 2024. Costa era o preferido dos socialistas para suceder a Charles Michel como presidente do Conselho Europeu a partir de Novembro de 2024.
Mas, agora, face à sua demissão e às suspeitas de corrupção, o jornal online Politico nota que o centro-esquerda europeu já procura um novo nome para substituir o “trunfo” Costa.
Porém, como Costa ainda não foi acusado de nada, Bruxelas continua a ser possível. Até porque não seria a primeira vez que um alto funcionário da UE é nomeado depois de estar envolvido num escândalo, como repara o Politico.
Exemplo disso é Jean-Claude Juncker que, em 2014, foi eleito presidente da Comissão Europeia depois de se ter demitido do cargo de primeiro-ministro do Luxemburgo no seguimento de um escândalo com os serviços secretos do país.
A própria Ursula von der Leyen, a actual presidente da Comissão Europeia, também esteve envolvida num escândalo quando era ministra da Defesa na Alemanha, devido a contratos milionários concedidos a consultores externos sem a devida supervisão.
Assim, Costa ainda pode manter o seu sonho europeu de um alto cargo na UE, mas, para isso, precisa que a justiça portuguesa seja célere. E “poucos esperam qualquer tipo de clareza sobre a situação de Costa dentro de um ano”, alerta o Politico.
Portanto, é preciso esperar para ver. Mas, em todo o caso, as notícias da “morte política” de Costa são exageradas.
Não faz grande falta. Aldrabões já temos muitos.