Musk tem um plano de paz para a Ucrânia (e lançou o caos diplomático na Internet)

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Bret Hartman, TED / Flickr

Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX

O fundador da Tesla e SpaceX é cliente habitual do Twitter, onde os seus posts lançam invariavelmente controvérsia. Desta vez, apresentou um “Plano de Paz para a Ucrânia” em quatro pontos— e desafiou os seus seguidores a votar o plano numa sondagem.

Elon Musk, o visionário fundador (entre outras empresas icónicas) da Tesla e SpaceX, é presença habitual no Twitter, que chegou a anunciar querer comprar, e os seus posts geram habitualmente controvérsia.

Desta vez, as ondas do choque do seu mais recente tweet extravasaram o âmbito dos fãs nas redes sociais e chegaram a políticos e diplomatas russos e ucranianos — e até a um par de presidentes da república, conta o Washington Post.

Esta segunda-feira, no mesmo dia em que o parlamento russo votava a formalização da anexação das regiões ocupadas pela Rússia na Ucrânia, Musk lançou um “Plano de Paz em quatro pontos” para por fim à guerra no país.

O primeiro ponto do plano de Musk é razoavelmente pacífico (exceto para os russos): “Repetir os referendos nas regiões anexadas, sob supervisão da ONU, e a Rússia abandona os territórios — se for essa a vontade do povo”.

O segundo ponto do plano para por fim ao conflito é bastante mais controverso: “A Crimeia passa formalmente a fazer parte da Rússia, como era desde 1783 (até ao disparate de Khrushchev)”.

Neste ponto, Musk replica uma versão seletiva da História, alinhando o discurso com o de Putin e ignorando que no Memorando de Budapeste, em 1994, a Rússia aceitou respeitar integralmente o território da Ucrânia, incluindo a Crimeia” (anexada pela Rússia em 2014).

Nos dois últimos pontos, Musk sugere que “a Ucrânia se mantenha neutral” e que “o fornecimento de água à Crimeia seja garantido“.

Este plano será provavelmente o resultado final desta guerra“, diz Musk. “Resta saber quantas mais pessoas vão morrer até lá“.

O tweet de Musk não tardou a captar a atenção de milhares de utilizadores — e chegou aos mais altos níveis dos canais diplomáticos dos países envolvidos.

Ao início da manhã desta segunda-feira, a sondagem já tinha mais de 1.6 milhões de votos. O “não” ao Plano de Paz ganhava, com 63% contra 37% do sim.

A publicação de Musk recebeu rapidamente inúmeras respostas — algumas das quais de personalidades de relevo.

A conta oficial do Parlamento da Ucrânia no Twitter deu uma resposta simples, com apenas uma palavra. “Não“.

O embaixador da Ucrânia na Alemanha, Andrij Melnyk, deu uma resposta peculiar: “Vai-te f**** é a minha resposta muito diplomática, @elonmusk“.

E até o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensk, entrou na discussão, lançando no Twitter a sua própria sondagem: “Qual @elonmusk gostam mais? Duas respostas: o Musk que apoia a Ucrânia. o Musk que apoia a Rússia“.

Sem surpresa, a primeira opção ganhava com larga vantagem.

Mas perante a avalanche de reações adversas, Musk voltou ao Twitter e refinou a sua sondagem. “Vamos experimentar isto“, propôs. “A vontade das pessoas que vivem no Dombass e na Crimeia deve decidir se fazem parte da Ucrânia e da Rússia: sim / não.

O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, não tardou a apresentar uma poderosa resposta: “Caro @elonmusk, quando alguém rouba os pneus de um dos seus Tesla, isso não torna o ladrão proprietário nem do Tesla nem dos pneus”.

O perfil oficial do jornal ucraniano Kyiv Post respondeu também à peculiar proposta de Musk: “Não se vota sobre o Apartheid e Nelson Mandela“.

Numa das poucas reações positivas ao tweet, o canal de notícias russo RT, próximo do Kremlin, comentou a sondagem: “Elon  Musk propõe uma solução para o conflito na Ucrânia“.

É um mau sinal, Elon“, comentou o Kyiv Post.

O próprio Dmitry Medvedev, antigo presidente, ex-primeiro ministro e atual vice-presidente da Rússia, comentou o post de Musk.

Parabéns a @elonmusk. No entanto, o elusivo agente perdeu a máscara. O seu próximo tweet será algo como ‘a Ucrânia é um estado artificial’. Adivinhando…“, diz Medvedev.

A resposta mais direta a Musk veio de Ruslan Stefanchuk, presidente do Parlamento da Ucrânia, que propôs no Telegram o seu próprio e muito peculiar Plano de Paz, também em quatro pontos:

  • A Rússia retira da Ucrânia e para de matar civis ucranianos.
  • Moscovo é vendida à China e desaparece da face da Terra, como era desde 1147 (até ao disparate de Yuri Dolgorukiy)
  • A Rússia paga compensações à Ucrânia por tudo o que fez
  • A Ucrânia torna-se membro da NATO

Elon Musk tem tido um papel interessante ao longo de todo o conflito da Ucrânia.

Pouco após a invasão russa, a pedido do vice-primeiro-ministro ucraniano, Musk anunciou que iria enviar equipamento da sua Starlink para a Ucrânia, assegurando assim em todo o país “o melhor e mais resistente” serviço de internet.

A Starlink tem mesmo tido um papel importante na resistência à invasão russa, tendo os seus satélites ajudado os drones ucranianos a atingir e destruir tanques russos.

Em março, Musk desafiou Putin para uma luta pelo futuro da Ucrânia. “Desafio por este meio Vladimir Putin a um combate único. A aposta é a Ucrânia“, publicou então  no Twitter. “Esou a falar absolutamente a sério“.

Se o impacto da Starlink no conflito teve um papel importante e inegável no desenrolar do conflito na Ucrânia, a verdade é que ninguém levou a sério o seu plano para lhe por fim com um combate com Putin.

Nem, aparentemente, o seu peculiar Plano de Paz em quatro pontos.

ZAP //

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2 Comments

  1. Musk, no meio de uma Guerra ou se está de um lado ou se está do outro. Se ficar no meio, em cima do muro a defender a PAZ, o mais certo é apanhar um balásio e ser cilindrado.

    • Perdoe-me a correção mas a esperança dos que ficam em cima do muro e acendem uma vela a Deus e outra ao diabo é, numa palavra: Enriquecer!

      Foi o que Portugal fez na 2ª Guerra mundial em que (pese embora algumas nuances importantes) fazia comércio com ambos os lados .

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