O verão acabou, mas a crise nas maternidades não. Blocos de parto continuam a fechar

O problema “complexo” das maternidades não acabou com o verão. Foram propostas medidas como a reorganização dos serviços, com mobilização de recursos ou encerramento definitivo de blocos de parto, para responder à “crise” das urgências de ginecologia e blocos de parto.

Já lá vão quatro meses, desde que as várias urgências de ginecologia e blocos de parto começaram a ser notícia devido a encerramentos temporários.

Agora que os médicos já não estão de férias, seria de esperar que a situação acalmasse, mas não é isso que está a acontecer, avança o Público.

Há maternidades que continuam a fechar de forma intermitente, durante várias horas e dias, principalmente em Lisboa e Vale do Tejo (LVT). As grávidas são por isso obrigadas a consultar horários no portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por vezes, têm de percorrer quilómetros para serem atendidas.

Quem terá de resolver esta situação de “crise” nas maternidades e nos blocos de partos será a nova Direção Executiva do SNS, nas mãos de Manuel Pizarro.

A comissão nomeada pela ex-ministra Marta Temido, que se demitiu a 30 de agosto, para decidir medidas a tomar nesta “crise” das urgências de ginecologia e obstetrícia reuniu-se, pela primeira vez, com Manuel Pizarro e com Fernando Araújo, o líder da Direção Executiva do SNS, esta segunda-feira.

A comissão foi criada em junho, quando os encerramentos de maternidades — devido à falta de médicos para assegurar escalas de urgência — começaram a ocorrer de forma cada vez mais sistemática.

Marta Temido decidiu aumentar os valores das horas extraordinárias dos médicos do quadro dos hospitais, até janeiro de 2023, para tentar aliviar a situação. No entanto, a medida não parece ter surtido grande efeito.

No caso de Lisboa e Vale do Tejo, ao longo desta semana e início da próxima, estão novamente previstos encerramentos intermitentes de vários blocos de parto – os do hospital de São Francisco Xavier (Lisboa), de Loures, de Amadora-Sintra, de Vila Franca de Xira, de Setúbal, do Barreiro, de Almada e de Abrantes.

“Agora é claro que este não é só um problema do período de férias. A situação é crítica, é preciso tomar medidas de fundo e rapidamente, de forma a evitar que se degrade ainda mais”, alerta Diogo Ayres de Campos, coordenador da comissão.

O coordenador lembra ainda que a proposta de reorganização está nas mãos da tutela há dez dias, e cabe ao Governo decidir o que fazer.

Das medidas propostas no documento, destaca-se a concentração de recursos, tendo em conta que faltarão cerca de duas centenas de especialistas para assegurar o funcionamento em pleno das escalas de urgência no SNS.

Esta medida poderá ser concretizada através do encerramento definitivo de alguns blocos de parto ou com a mobilização das equipas de uns hospitais para outros.

Outra alternativa, segundo realça Ayres de Campos, “pode ser pagar muito mais e ir buscar médicos ao setor privado“. Outra das medidas poderá passar pela revisão das equipas médicas, permitindo que alguns fiquem em regime de prevenção.

A comissão definiu “uma série de sugestões e os seus prós e contras”, sublinha o coordenador da comissão, salientando que o documento porque, para além dos partos e da obstetrícia, inclui a medicina de reprodução e a oncologia ginecológica.

O panorama está traçado e, a partir de agora, está fora do âmbito da comissão”, conclui Ayres de Campos. Cabe agora ao ministro da Saúde e à Direção Executiva do SNS divulgar o documento e tomar decisões.

Alice Carqueja, ZAP //

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