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Revolta contra os preços dos combustíveis. Greves, ameaças de bloqueio e transporte escolar em risco

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Manuel de Almeida / Lusa

Em julho, manifestantes protestaram contra o preço dos combustíveis em Lisboa

A contínua subida dos preços dos combustíveis está a gerar uma onda de contestação, com cidadãos a apelarem à greve ao abastecimento, os camionistas a ameaçarem com protestos, alertas de aumento de bens essenciais, como o pão, e um aviso de que o transporte escolar pode faltar.

Os portugueses estão fartos da escalada nos preços dos combustíveis que, nesta semana, ultrapassaram, pela primeira vez em Portugal, os dois euros por litro.

Quando se prevê que os aumentos não parem, cada vez mais cidadãos protestam contra este cenário, nomeadamente nas redes sociais. E há um grupo do Facebook que já reúne mais de 450 mil membros e que apela à participação em “greves aos combustíveis”.

“Temos que deixar de ser este povo “manso” que admite tudo”, apontam os gestores deste grupo que apela a que as pessoas não abasteçam os seus carros nos dias 15 de Outubro, 21 e 22, e 28 e 29 deste mês.

Vamos “lutar”, sejamos ricos, classe média ou classe baixa… Todos nós sofremos com isto!”, vincam ainda estes cidadãos.

Camionistas podem voltar a bloquear o país

Pelo meio dos protestos dos cidadãos, há apelos aos camionistas para bloquearem os acessos às cidades, tal como aconteceu em 2019.

E o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários (ANTRAM), Pedro Polónio, admite que pode mesmo haver protestos dos camionistas, salientando que já haverá “movimentações” nesse sentido com muitas transportadoras “à beira da falência”, conforme declarações à SIC.

“[Há um] grande número de empresas muito pequenas, de uma, duas, três pessoas que chegam a uma altura em que já não têm mais nada a perder e não me admira nada que estas pessoas se juntem e comecem a fazer este tipo de protestos”, alerta Pedro Polónio.

“As pessoas quando ficam de cabeça perdida tomam o tipo de acções que acharem mais convenientes”, destaca ainda o líder da ANTRAM, recordando que há dois anos, quando os camionistas paralisaram o país, o contexto era “menos adverso do que aquele que temos hoje”.

Transporte escolar em risco

A Associação Rodoviária de Transportes Pesados de Passageiros (ARP) também se junta à revolta contra o aumento dos preços nos combustíveis, alertando que se nada for feito, “em Janeiro não há transporte escolar”.

O aviso é do presidente da ARP, Rui Pinto Lopes, que, em declarações à Rádio Renascença, nota que os preços estão a ter “um reflexo catastrófico nas empresas”. “Estamos a pagar mais 30 cêntimos por litro do que em Janeiro”, lamenta.

Este responsável realça que, “neste momento, as empresas estão a começar a pagar para trabalhar”, pois tinham por base preços bem diferentes, no início do ano, e agora vêem-se a contas com um “aumento incomportável”.

“Se não houver um apoio do Estado para fazer face a este aumento provocado pelo próprio Estado, não conseguiremos sobreviver“, alerta ainda Rui Pinto Lopes.

Já o presidente da Associação de Transportadores de Passageiros (Antrop), Luís Cabaço Martins, apela, também em declarações à Renascença, a excepções e a um desagravamento fiscal para as empresas que actuam neste sector.

Cabaço Martins fala em “reduzir o preço do gasóleo para esse sector, e sobretudo não o agravar, como está já previsto”, sublinhando que é um campo onde o Governo pode intervir “para que o transporte público continue a ser viável e uma alternativa para a redução dos quilómetros feitos em transporte individual”.

Preços vão voltar a subir na próxima semana

Entretanto, com os preços a dispararem, sucedem-se os apelos ao Governo para baixar os impostos sobre os combustíveis.

Há até uma petição pública para a “Redução do imposto sobre combustíveis e produtos petrolíferos – para a sua equivalência com Espanha” que já conta com mais de 16 mil subscritores.

Mas o Governo resiste a reduzir a carga fiscal sobre os combustíveis. O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, sublinhou isso mesmo nesta semana, considerando que é preciso entender se esta subida de preços “é uma coisa esporádica e excepcional” antes de “alterar muito significativamente a estrutura destes impostos”.

Na proposta de Orçamento de Estado para 2022, também não está previsto qualquer alívio fiscal sobre os combustíveis.

Neste mês, a Assembleia da República aprovou uma proposta do Governo para fixar limites aos preços nas situações em que se acredite que estão demasiado altos “sem justificação”. Uma iniciativa que gerou revolta nos revendedores de combustíveis.

Entretanto, os preços dos combustíveis devem voltar a subir na próxima semana. Uma fonte do sector revela à SIC que o aumento deverá rondar os 1,5 cêntimos, tanto na gasolina como no gasóleo.

Esse aumento deve-se, segundo a mesma fonte, à subida de preço dos produtos refinados nos mercados internacionais.

ZAP //

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21 Comments

  1. E eu critiquei o Vox espanhol, por anexar Portugal a Espanha, no mapa…….se isto continua assim, mais vale sermos mesmo anexados a Espanha onde os combustíveis e gás são muito mais baratos. Se os espanhóis conseguem ter combustíveis mais baratos, há alguma coisa muita errada na gestão de Portugal.

  2. Claro que há alguma coisa de muito errada em portugal e chama-se impostos desmesurados e o querer igualar o custo de vida aos restantes países ricos da europa mas sem igualar os salários!

  3. Se todos os que podem parassem os carros / motos e fossem trabalhar em meios alternativos, mais sustentáveis (bicicletas / trotinetas) e com isso os vendedores de combustíveis e o Estado perdessem receita, talvez fosse o melhor protesto!!!
    De acordo com estudos da CM de Lisboa 38% das viagens em deslocações de curta distância (até 5 km), são feitas em automóvel particular, se passassem a ser feitas por exemplo de bicicleta, permitiam poupar até 30% do tempo de viagem, garantindo deslocações de porta a porta e sem gastos com combustível e sem pagamentos à EMEL!
    Apesar de Lisboa ser conhecida como a cidade das 7 colinas, 73% das suas ruas são planas ou apresentam declives inferiores a 5%, ou seja, são acessíveis à maioria dos utilizadores. Por outro lado, a proliferação da bicicleta elétrica, permite solucionar as dificuldades impostas pela orografia das colinas de Lisboa.
    Se puderem, mudem para meios de transportes sustentáveis e parem de consumir combustíveis fósseis, a vossa saúde e a de todos agradece e o planeta também!!!

    • Já cá faltava o ecotretas… O problema aqui não é o ambiente, são os impostos abusivos com a desculpa do ambiente. É uma hipocrisia que até os ambientalistas deviam contestar. E já agora, Portugal não é Lisboa, nem todo ele é plano, nem todo ele tem transportes públicos e há locais que têm temperaturas negativas, não são como a capital ensolarada. E as pessoas que moram nestes locais ganham regra geral menos e passam por muitas maiores dificuldades. O ambientalismo é bonito quando temos tudo à porta…

    • E o senhor Prof entende que o senhor Costa ou outro não é muito mais visionário do que as suas ideias de cidadão honrado? Logo haveria impostos sobre bicicletas sobre peões e tudo o que mexesse, o mal de facto é estarmos governados por gente desonesta, vigarista e incompetente a todos os níveis!

  4. O povo é sereno… e estúpido. Votem novamente nestes bandalhos. Não se esqueçam que temos hoje os combustíveis com maior carga fiscal do que no tempo da Troika. Parabéns, Costa!

  5. Adoro a treta do “Subida de preço dos produtos refinados nos mercados internacionais”. Dá a entender que nos alimentamos de produtos petrolíferos no mercado internacional. Bom, a fechar refinarias, isso é uma verdade com tudo para vir a acontecer.
    Um dia destes alguém se vai lembrar de criar “A bolsa de valor das alfaces para os mercados internacionais”. Assim, os feirantes vendiam as alfaces sempre por este valor, podendo inclusive haver essa escalada de preços. Quem é que estaria a ganhar com isso, mesmo que o adubo (crude), se mantivesse ao mesmo preço ???? O produtor de Alfaces (Galp) ….. Mas ele diria sempre que a culpa era da escalada de preços do mercado internacional ….
    E imaginemos que alguém tivesse uma margemzita de lucro (coisa pouca!!!) associada ao preço final (tipo um impostozito), também iria dizer que a culpa não era dele (embora isso fosse muito bom para ele)….
    Até se podia dar ao luxo ser um tipo impecável e fazer um descontozito de 1 ou 2 cêntimos para parecer “uma pessoa de bem” …..

  6. A electricidade mais cara da Europa, os combustiveis com uma carga fiscal que é um roubo, justiça que não funciona, corrupção em muitos sectores da sociedade, um partido que se foi tornando quase impune a tudo é o que temos. Depois vemos as sondagens e os portugueses continuam a dar uma quase maioria absoluta a este governo. De que se queixam? devem estar todos bem. Pelos vistos hà quem goste de este estado de coisas, Siga. É só ruido, quando chegar a altura de colocar a cruz no boletim de voto, lá vai tudo para os mesmos. Noutros paises movimentos civicos fizeram mudar coisas, por aqui é só conversa de café, que matam e esfolam, mas depois rabo entre as pernas. Tipico português.

    • Não queria estragar a indignação, mas basta ir a Espanha para ver a electricidade mais cara do que em Portugal.
      Os partidos e o governo também não vendem electricidade nem combustíveis…

      • Pois compara a electricidade com Espanha, mas não compara os combustiveis, é só o que lhe dá jeito. Mas foi este governo que criou uum adicional de imposto aos combustiveis, prometendo retirar quando os preços voltassem ao normal mas nunca mais mexeu. Este Governo apesar das promessas tem continuado a aumentar a carga fiscal. Também quando diz que os governos não vendem combustiveis nem electricidade, mas carregam de impostos esses mesmos serviços/produtos essenciais a toda a gente de forma a criar uma enorme carga fiscal indirecta e que é mais dificilmente contestada. Em resumo acabam baixando uma centena de milhões em impostos directos para aumentar mil milhões em impostos indirectos. Chico espertice saloia.

        • Mau… foste tu quem falou na electricidade – e logo com mentiras!!
          A não ser que a Espanha (a Alemanha, etc) não sejam na Europa…

          Mais uma vez, quando e quanto foi o aumento dos impostos sobre os combustíveis?
          Por acaso mexeram no início da semana. É por isso que convém saber do que se fala antes de comentar…

          • O aumento sobre os combustiveis foi quando o mentiroso Costa achou que estavam muito baixos e resolveu criar um imposto adicional de 6 centimos por litro, com a promessa de baixar quando os preços baixassem. Como em tudo o resto mentiu e baixar nunca mais.

          • Isso foi em 2016, portanto, foi criado no governo anterior – quando o preço dos combustíveis estava em baixa…
            Claro que o Costa falhou e mentiu porque já há muito que devia ter retirado esse imposto adicional na totalidade (tirou algum no início da semana), mas, o problema do preço dos combustíveis está longe de ser esse imposto adicional…

  7. Se a descarbonização é a desculpa utilizada e nos toca a todos, há alguma maneira mais eficaz de distribuir esse custo por todos do que através de uma baixa de impostos sobre os combustíveis?

    • Se o argumento fosse verdadeiro, faria sentido do ponto de vista económico aumentar o preço. Aumenta-se o preço reduz-se a procura, logo reduz-se a poluição…

    • Então? O que te aconteceu?!
      Sim, em 2016 foi no governo anterior (do Costa/Geringonça).
      Neste governo (no atual) não houve qualquer aumento nos impostos sobre os combustíveis!

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