O grupo anunciou que já controla a província de Panchir, o último bastião que ainda faltava conquistar, mas a Frente Nacional de Resistência nega e diz que continua na luta.
Segundo avança o The Guardian, os talibãs estão perto da vitória total depois de chegarem à capital de Panchir, a última província do Afeganistão que resiste ao domínio do grupo radical islâmico. Recorde-se que há cerca de três semanas os talibãs assumiram o controlo de Cabul e que já controlam 34 províncias no país.
O grupo tem publicado fotografias nas redes socais a mostrar os militantes às portas da habitação do governador da província na zona leste do Afeganistão e o porta-voz fez um comunicado onde anuncia o controlo talibã.
“Com esta vitória, o nosso país está completamente libertado do marasmo da guerra”, afirmou Zabihullah Mujahid esta segunda-feira. “A província de Panchir, que era o último ninho do inimigo que escapou, foi limpa esta manhã e ontem à noite. As forças do Emirado têm uma presença activa lá agora”, referiu.
Breaking: #Taliban liberated #Panjshir . pic.twitter.com/UxNTlBYh7S
— Tariq Ghazniwal (@TGhazniwal) September 6, 2021
O porta-voz refere também que o grupo tentou controlar Panchir sem violência e de forma diplomática, mas que isso foi impossível depois dos comandantes da resistência, Amrullah Saleh – que era vice-presidente do governo deposto pelos talibãs e que se refugiou no vale – e Ahmad Massoud, terem recusado sentar-se à mesa das negociações.
“Temos acabar com a guerra depois de conquistarmos Cabul e era esse o plano, mas infelizmente alguns fugiram de Cabul para Panchir com uma quantidade massiva de material e estavam a tentar perturbar a nação e dar dores de cabeça no futuro”, revelou Mujahid.
Em vários vídeos publicados online, os talibãs mostram-se a hastear a sua bandeira na capital de Panchir e afirmam que a província caiu às 7h20 da manhã. O grupo alega também que a resistência abandonou três helicópteros perante o avanço talibã.
Resistência nega vitória talibã
No entanto, a Frente Nacional de Resistência (NRF) nega que os talibãs tenham capturado a província e afirma que as forças de oposição continuam a lutar no vale de Panchir.
“A reivindicação dos talibãs da ocupação de Panchir é falsa. As forças da NRF estão presentes em posições estratégicas no vale e continuam a lutar. Nós asseguramos às pessoas do Afeganistão que a luta contra os talibãs e os seus aliados vai continuar até a justiça e a liberdade vencerem”, escreveu o grupo no Twitter.
No entanto, a liderança do grupo, que já se tinha mostrado aberta a negociar com os talibãs, ainda não se pronunciou. Segundo a Al-Jazeera, as localizações de Ahmed Massoud e Amrullah Saleh não foram imediatamente conhecidas, mas Ali Maisam Nazari, um responsável na resistência, revelou que Massoud estava em “segurança” e que falaria à nação em “breve”.
Caso se confirme o controlo dos talibãs, seria a primeira vez que o vale de Panchir cairia desde o início das quatro décadas de conflito no Afeganistão. A região ficou conhecida por ser o lugar da resistência às forças soviéticas na década de 80 e aos talibãs nos anos 90.
A conquista de Panchir pode também acelerar o anúncio do novo governo talibã. Até agora, só se conhece quem vai ser o líder, o diplomata Abdul Ghani Baradar. O anúncio dos talibã ocorre também na mesma altura em que Anthony Blinken, Secretário de Estado norte-americano, é esperado em Doha, no Qatar, onde vai debater a situação no Afeganistão.
A chanceler alemã, Angela Merkel, mostrou-se disponível para “falar com os talibãs” sobre como “retirar as pessoas que trabalharam para a Alemanha do país”. O Reino Unido e os EUA também estão abertos para negociarem com o grupo.
Durante o período de transição, os talibãs já asseguraram que vão colaborar com as Nações Unidas para darem resposta às necessidades humanitárias do país, que se encontra numa situação difícil devido à seca.
Martin Griffiths, líder humanitário da ONU, já chegou a Cabul para se encontrar com a liderança talibã. “As autoridades prometeram a segurança do pessoal humanitário e que o acesso a ajuda às pessoas em necessidade vai ser garantido, assim como a liberdade de movimento dos trabalhadores – homens e mulheres, afirmou Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas.