Jogos Olímpicos, Barcelona, Montpellier, Praga, Colômbia. Adeptos voltam aos recintos mas esse regresso origina mesmo consequências positivas na qualidade do espetáculo?
Barcelona – Juventus. Troféu Joan Gasper, no Estádio Johan Cruyff. No meio da vitória catalã por 3-0 (golos de Depay, Braithwaite e Puig), destacou-se o regresso do público aos jogos do Barcelona. Cerca de três mil pessoas cedo…assobiaram Samuel Umtiti.
O defesa francês, que estará a dificultar a saída do clube, ouviu assobios de cada vez que tocava na bola. Gerard Piqué, mesmo durante o jogo, aproximou-se da bancada e pediu aos adeptos para pararem de assobiar o seu colega de equipa.
O caso de Umtiti destacou-se mas Miralem Pjanić, Antoine Griezmann e Philippe Coutinho (provavelmente pelo mesmo motivo) também foram assobiados pelos adeptos do Barcelona.
Montpellier – Marselha. Em campo, muita emoção, golos bonitos e reviravolta dos visitantes. O Marselha estava a perder por dois golos mas ganhou por 3-2. Mas o que está a ser mais comentado, em relação a esse jogo, é o que aconteceu a Rongier.
Perto do final, e enquanto celebrava o golo que fechou o resultado, o jogador do Marselha foi atingido por uma das (muitas) garrafas atiradas pelos adeptos locais. Ficou com um corte bem visível, na boca.
Mais tarde, na marcação de um canto, o jogo viria a ser mesmo interrompido durante quase um quarto de hora por causa do lançamento contínuo de garrafas.
Sparta de Praga – Mónaco. Antes destes dois casos (ambos no domingo), a partida da Liga dos Campeões na República Checa foi também interrompida por causa dos adeptos, na terça-feira passada.
Aurélien Tchouameni inaugurou o marcador a favor do Mónaco e, ao festejar o golo, ouviu sons que faziam lembrar os macacos, que vinham dos adeptos do Sparta.
Independiente Santa Fe – Atlético Nacional. Horas depois do episódio em Praga, cenas fortes de violência entre adeptos na Colômbia, durante o intervalo desse duelo. Duas pessoas ficaram com ferimentos graves.
Jogos Olímpicos sem público: como correram?
Correram…com inúmeros recordes. O atletismo foi a modalidade mais mediática, com recordes do mundo – destacaram-se os dos 400 metros barreiras masculinos e do triplo salto feminino – e 10 recordes olímpicos batidos em Tóquio.
Mas os registos incríveis espalharam-se para várias modalidades, com recordes do mundo em seis modalidades: atletismo, natação, ciclismo de pista, tiro, halterofilismo e a estreante escalada.
Nesta edição dos Jogos Olímpicos, mesmo sem público em quase todos os eventos, foram batidos 17 recordes do mundo.
Melhor evento de sempre
E, voltando à pista, a Federação Internacional do Atletismo informou que os Jogos Olímpicos de Tóquio foram mesmo o evento de atletismo com maior qualidade de sempre, no que diz respeito aos resultados alcançados.
Ou seja, e sobretudo no “desporto rei”, a ausência de adeptos não retirou qualidade aos tempos, aos saltos, aos lançamentos. Pelo contrário. Com possível influência da pista, nas corridas.
A revista Time, ainda antes do início dos Jogos Olímpicos, publicou um artigo que se centrava precisamente no efeito que as bancadas vazias poderiam ter no desempenho dos atletas em Tóquio.
Apesar de reconhecer que um “desvio” do que é normal influencia o espetáculo desportivo, e que os atletas ficam motivados ao ouvir aplausos (ou assobios), a revista salienta duas coisas.
A primeira: os participantes em muitas modalidades – tiro, tiro com arco, ténis, ténis de mesa, badminton, saltos para a água ou golfe – agradecem o silêncio, para se concentrarem mais facilmente.
A segunda: se perguntarmos aos atletas se a ausência de adeptos afeta o seu desempenho, os atletas responderão que estão preparados para competir em qualquer cenário. A entrega e o esforço serão iguais, mesmo que não haja adeptos no recinto.
Quem precisa das bancadas cheias?
Pegando na sequência, em poucos dias, destes casos dispensáveis no futebol logo na semana do regresso de alguns adeptos aos estádios (mencionámos episódios mediáticos, mas muitos outros terão acontecido), e nos registos e recordes nos Jogos Olímpicos, pode-se colocar a pergunta: são os atletas que precisam dos adeptos, ou são os adeptos que precisam de ver os atletas?
Os desportistas podem preferir ver bancadas com pessoas do que ver bancadas vazias. E claro que se notou ao longo deste período que, sobretudo no início, era esquisito assistir a um jogo sem adeptos.
Mas, a julgar pelo que se viu durante o último ano e meio (inúmeros jogos de futebol e Jogos Olímpicos, por exemplo), a qualidade do espetáculo não diminuiu. Os jogadores, ou restantes atletas, não se empenharam menos e não pareceram menos motivados. Não precisaram de adeptos para darem tudo.
E voltam as questões: é o público que está nas bancadas para os atletas? Ou são os atletas que estão nos recintos para o público?
Os adeptos pagam para ver um espetáculo (no desporto e não só). E levanta-se a perspetiva seguinte: a maioria dos adeptos paga, não para dar apoio ao jogador, mas para assistir a um bom espetáculo e que liberte emoções, preferencialmente positivas.
A julgar pelo rosto dos adeptos que foram aos estádios na primeira jornada da I Liga de futebol – e o ZAP testemunhou isso presencialmente, nos arredores de um dos nove estádios – são os adeptos, e não os jogadores, que estão realmente mais felizes por este regresso do público às bancadas. Estavam a precisar de voltar a ver jogos ao vivo.