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Governo aperta cerco, mas especialistas queriam mais. Desconfinamento pode estar em risco

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Patricia De Melo Moreira / EPA

Numa altura em que os números de casos diários não para de subir, a preocupação cresce. Apesar das novas medidas tomadas pelo Executivo na zona de Lisboa – a mais afetada do país – Portugal já pode estar numa situação irreversível e o processo de desconfinamento pode estar em causa.

O número de infeções por covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo está a disparar e a tendência é para crescer.

A capital já ultrapassou os 240 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, o que levou o Governo a adotar medidas mais “apertadas” na Área Metropolitana de Lisboa aos fins de semanas.

Contudo, as novas restrições impostas na região não agradam aos especialistas que acreditam que é necessário fazer mais.

Vários médicos de saúde pública pedem medidas “duras”, mas descartam que a aposta principal passe por um reforço da vacinação nesta região, apesar de LVT ser a região mais atrasada do país ao nível da vacinação completa.

Uma vez que o principal objetivo da vacinação é conter as mortes e as infeções graves, Bernardo Gomes, médico de saúde pública, defende em declarações ao ECO que, no imediato, este pode não ser o melhor método para travar rapidamente a pandemia da região de Lisboa.

Ainda assim, a autarquia de Lisboa já informou que para colmatar o atraso na vacinação e para atingir as 65 mil doses administradas por semana, os centros de vacinação da cidade de Lisboa vão ter horário alargado a partir da próxima segunda-feira.

Se, por um lado, Bernardo Gomes é taxativo ao referir que o reforço da vacinação em Lisboa e Vale do Tejo não deve ser “a principal aposta” neste momento, já que não permite o controlo imediato da pandemia e que “tem que se aproveitar o máximo da capacidade logística em todo o país”, Carlos Robalo Cordeiro é mais cauteloso.

Para o diretor do serviço de Pneumologia dos Hospitais da Unidade de Coimbra, o reforço da vacinação nesta região é “uma das formas que podem ajudar a minimizar o impacto daquilo que está a surgir como uma quarta vaga”.

Apesar da elevada incidência de casos de infeção no concelho de Lisboa estar a preocupar as autoridades de saúde nacionais, ainda não foi esta semana que o Governo decidiu recuar no desconfinamento.

Ainda assim, o Executivo apertou “o cerco” nesta zona, ao proibir a circulação de pessoas de e para a Área Metropolitana de Lisboa aos fins de semana.

Contudo, e aliado à vacinação, os especialistas pedem um aumento da testagem, uma maior fiscalização do teletrabalho e restrição de horários.

Bernardo Gomes considera que deve haver um retrocesso das medidas aplicadas nesta região, dando como exemplo uma “maior fiscalização ao teletrabalho” e “uma aposta muito forte” para que as pessoas passem mais tempo ao ar livre.

Também Robalo Cordeiro é a favor de um retrocesso imediato das medidas, referindo que “o que se está a passar em Lisboa vai ter repercussão em muito breve prazo em todo o país”.

Por isso, diz que é “determinante” que se possam promover “medidas de contenção com urgência”, promover a adoção do teletrabalho, o que vai diminuir a pressão nos transportes públicos”, bem como restringir novamente os horários de algumas atividades, como a restauração e o comércio.

O pneumologista defende ainda que é “fundamental” aumentar o nível de testagem, assinalando que o certificado digital covid poderá também ser “importante para atrair as pessoas e promover a adesão a estes processos, quer de vacinação, quer de testagem”.

Portugal “muito dificilmente” segue para nova fase do desconfinamento

Segundo o Governo, estava previsto que a próxima fase de desconfinamento entrasse em vigor no dia 28 de julho, mas esta data poderá de ter de ser adiada.

Durante a conferência de imprensa de ontem, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, avisou aos portugueses que “muito dificilmente” o país terá condições para avançar para a nova fase de desconfinamento.

“Ao longo da última semana, a situação epidemiológica tem-se vindo a deteriorar”, alertou a governante.

No início do mês, o Governo criou duas novas fases no plano de controlo da pandemia. A 28 de junho estava previsto que os transportes públicos pudessem voltar a funcionar sem restrição de lotação e a reabertura das lojas de cidadão sem marcação prévia, por exemplo.

“Semanalmente, fazemos aqui a avaliação da situação a nível nacional. E ela hoje afasta-se claramente da zona verde [da matriz de risco], o que significa que, para a semana, quando estava prevista uma nova fase de desconfinamento, ela muito dificilmente, a continuarem estes números, se irá verificar”, finalizou Mariana Vieira da Silva.

Aumento de casos coloca Portugal em contraciclo com UE

Entre meados de março e o final de abril, Portugal foi o país da UE a registar uma menor taxa de incidência da covid-19, mas a tendência tem-se invertido nas últimas semanas.

Segundo uma análise do Público com base em dados do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC), o país é o 13.º na lista de países da UE com a incidência mais elevada.

De acordo com o jornal, Portugal recuou diversas posições também porque muitos países melhoraram os seus valores nas últimas semanas.

Malta é, atualmente, o país da UE com uma taxa de incidência mais baixa (nove casos por 100 mil habitantes), lugar que ocupa há cinco semanas consecutivas. Seguem-se a Roménia (11 casos) e a Polónia (14). No extremo oposto estão a Letónia (154), a Dinamarca (153) e os Países Baixos (139).

Portugal está agora em contraciclo com o resto da UE, que tem verificado, em média, uma redução da incidência nas últimas semanas. No final de março, os 27 estados-membros tinham, em conjunto, uma incidência média de 490 casos por 100 mil habitantes, enquanto que, atualmente, o valor está nos 71 casos.

Por outro lado, Portugal é quinto na lista de países com menos mortes atribuídas à covid-19. Além disso, a taxa de testagem voltou a cair, estando atualmente nos 2731 testes realizados por 100 mil habitantes.

ZAP //

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