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Contradição? Ventura muda discurso e diz que Passos Coelho foi complacente com o PS

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Tiago Petinga / Lusa

O ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, com o líder do Chega, André Ventura

Se há cinco meses não poupava os elogios ao antigo primeiro-ministro, Ventura assume agora uma outra postura e tece várias críticas a Pedro Passos Coelho.

Depois de na semana passada ter feito questão de se sentar ao lado de Passos Coelho e cumprimentá-lo publicamente, André Ventura referiu agora que, na altura da sua governação, o ex-primeiro-ministro “não foi capaz de chamar à responsabilidade os que deixaram o país neste estado”.

“Ao contrário de Passos Coelho, não vamos ser os limpa-lençóis. Não vamos ser os fofinhos a fazer os cortes que a esquerda foi incapaz de fazer”, afirmou André Ventura no discurso de encerramento do III Congresso Nacional do Chega, este domingo, em Coimbra.

À saída das Caves de Coimbra, questionado sobre a demarcação que acabara de fazer, clarificou ao Expresso que “não senti necessidade de me demarcar de Passos Coelho. O que quis dizer foi que, durante o tempo de Pedro Passos Coelho, o Governo era muitas vezes apresentado como aquele que tinha de fazer reformas e cortes estruturais para corrigir aquilo que o PS tinha feito”.

Acrescenta que era assumido “como se fosse uma missão”. Com o Chega, “essa missão não vai existir. Vamos chamar à responsabilidade os que deixaram o país neste estado”.

Para o líder do Chega, Passos Coelho “não foi capaz de o fazer”, pois “nunca foi capaz de dizer que a razão desses cortes era a forma como o PS deixou o país”.

Por sua vez, garante que se o seu partido chegar ao Governo “vamos fazer um levantamento muito rigoroso das contas do país, um levantamento das responsabilidades que têm de ser apuradas. E vamos apresentar isso aos portugueses como se fosse uma fatura, para que percebam que estamos neste estado porque foi assim que o PS nos deixou”.

De recordar que em dezembro do ano passado, altura em que estava em campanha eleitoral pelas presidenciais, André Ventura foi entrevistado pelo Expresso e fez questão de mostrar a sua admiração e lealdade ao antigo chefe do Executivo.

“É um homem que admiro”, disse então. Na altura, revelou que “às vezes” fala com Passos, reforçando a sua gratidão: “Passos Coelho segurou-me [como candidato à Câmara de Loures] numa altura em que parte do PSD não queria. E isso vou dever-lhe sempre”.

Questionado este domingo se já saldou a dívida de gratidão, que dizia ser eterna, Ventura garantiu que tem “a mesma dívida de gratidão”, não só com Passos mas também com outros políticos do PSD e de outras áreas.

O III Congresso do Chega ocorreu ao longo deste fim de semana e André Ventura focou-se em deixar uma mensagem muito clara: o Chega quer deixar de ser apenas o partido de protesto e quer ser governo, mas recorda que, “antes de governarmos Portugal, temos de conseguir governar-nos a nós próprios”.

No discurso de encerramento, Ventura comprometeu-se a “limpar” o país e a “julgar” a esquerda pelos sucessivos anos em que, “de Mário Soares a António Costa”, esta governou.

Ana Isabel Moura, ZAP //

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