Esta quarta-feira, no Parlamento, o coordenador da task force do plano de vacinação contra a covid-19 assumiu que Portugal não estava preparado para a administração massiva de vacinas num curto espaço de tempo e rebateu críticas ao sistema de convocatória das pessoas.
“As coisas não estavam preparadas. Se alguém pensa que estava tudo preparado, não estava. O país não estava preparado para dar 20 milhões de vacinas em cerca de seis meses”, disse o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo durante uma audição na comissão parlamentar de Saúde.
“Há um conjunto de adaptações que estão a ser feitas em ritmo muito acelerado e também têm falhas e temos de viver com elas. Se alguém pensar que este processo vai ser isento de falhas, está a pensar mal, de certeza, e a exigir coisas que são impossíveis de fazer”, acrescentou.
Gouveia e Melo admitiu que “o agendamento e a convocatória são uma elevada preocupação em termos organizativos”, mas realçou o trabalho da task force para “melhorar os dados”, a criação de alternativas – entre as quais destacou o sistema de autoagendamento – e a montagem da operação e da logística necessárias para o processo de vacinação.
Manifestando-se certo de mais “contratempos”, o coordenador lembrou a falta de tempo para o planeamento e a preparação de infraestruturas, mas recusou estar a queixar-se da missão a seu cargo.
“Estamos a conseguir responder, com dificuldades e preocupações, mas há um forte empenho, quer do Ministério da Saúde, quer dos profissionais no terreno. Não tenho de me queixar de nada”, afirmou, reiterando ainda a preocupação com a capacidade dos sistemas de informação para gerirem os dados necessários à convocatória diária de 100 mil pessoas para vacinação a partir de maio.
“Estou preocupado neste momento em concretizar um plano que vacine 100 mil pessoas diariamente e que consiga ‘em pico’ até vacinar 150 mil pessoas. Isto não é uma corrida de 100 metros e sim uma maratona”, observou ainda o responsável pela coordenação do processo de vacinação.
Às perguntas dos deputados sobre a contratação dos recursos humanos necessários para o reforço da operação no segundo trimestre – e que Gouveia e Melo já estimou em “cerca de 2.500 enfermeiros, 400 médicos e 2.300 assistentes” -, o coordenador notou que “há luz verde para a contratação” e realçou o caráter crítico deste processo para o país.
“Os recursos terão de aparecer e ser disponibilizados para fazer esta tarefa. Não me parece que vá haver um grande problema; claro que vai haver problemas de contratação, de preparação, de como vão ser os contratos, mas esse também é um problema com o qual não me posso preocupar neste momento. Desde que os recursos sejam disponibilizados, a minha grande preocupação é organizar esses recursos”, disse.
Gouveia e Melo salientou ainda que, depois de vacinados os prioritários da primeira fase, o critério deverá ser exclusivamente etário.
De acordo com o Observador, o vice-almirante afirmou que existe uma correlação entre muitas doenças que agravam um quadro clínico de covid-19 e a idade, defendendo uma vacinação “por faixas etárias decrescentes”. A exceção são doenças graves que afetam doentes “muito jovens”.
O vice-almirante indicou, no Parlamento, que no domingo foram alcançadas as 500.275 segundas doses administradas em Portugal e atingida a marca dos 80% de idosos acima dos 80 anos já vacinados.
No final do verão “teremos certamente, se as vacinas que estão aprovadas e estão contratadas e se pensa chegarem ao país, mais de 70% da população com a primeira dose”, frisou.
Centros de vacinação rápida
Os 150 centros de vacinação rápida contra a covid-19 vão começar a operar no início de maio, avançou o coordenador da task force para o programa de vacinação.
Questionado pelos deputados da comissão parlamentar de Saúde, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo começou por afirmar que os 150 centros serão abertos em 11 de abril, mas disse que “o que está em causa é ter esses centros a operar a partir do início de maio”.
Gouveia e Melo adiantou que estão a ser negociadas as formas como vão ser contratados os profissionais de saúde necessários para estas unidades, num número calculado em 2.500 enfermeiros, 400 médicos e 2.300 assistentes.
Gouveia Melo disse que os profissionais serão essencialmente do Serviço Nacional de Saúde(SNS), mas outros vão, necessariamente, ser contratados.
“A ideia é usar até 20% dos enfermeiros que estão nos cuidados primários de saúde, como sabem são 9.000 enfermeiros, portanto, 20% são 1.800 enfermeiros e depois acrescentar a estes 1.800, os enfermeiros que forem necessários e recursos humanos que forem necessários para os postos de vacinação rápida”, disse.
De acordo com o responsável, nos postos de vacinação rápida, a eficiência do processo é quatro vezes superior à vacinação nos centros de saúde normais.
“Com os mesmos recursos humanos nós conseguimos ter uma eficiência muito superior nesse processo, para além da comodidade, para além da segurança física, porque são feitos em grandes espaços arejados, que permite uma maior segurança e distanciamento físico”, defendeu Gouveia e Melo.
O deputado do BE Moisés Ferreira considerou ser “um bocadinho paradoxal”, numa altura em que o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses diz que existem quase 2.000 profissionais em situação precária com o risco de serem mandados embora do SNS, o coordenador dizer é preciso contratar milhares de profissionais, entre eles enfermeiros.
“Se calhar há aqui uma solução óbvia que é não dispensar os enfermeiros que estão em situação precária, mas dar-lhes um contrato digno e estável para também assegurarem esta contratação”, defendeu o deputado bloquista.
ZAP // Lusa
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