A tecnologia ajuda os humanos a manter ligações, trabalhar e relaxar após um longo dia. Porém, a forma como esta pode melhorar a vida dos animais, especialmente aqueles em cativeiro, permanece uma questão em aberto.
Uma equipa de cientistas da Aalto University em colaboração com o Jardim Zoológico Korkeasaari, ambos na Finlândia, projetou e construiu um dispositivo de vídeo para que macacos saki de cara branca (pithecia) o pudessem ativar como e quando quisessem.
Embora os sistemas de enriquecimento para animais de jardim zoológico já existam há algum tempo, poucos oferecem aos animais a capacidade de escolher quando e como usar o dispositivo, embora a escolha e o controlo promovam o bem-estar animal.
“Estávamos muito interessados em como podemos dar aos animais o controlo sobre o seu ambiente e, especialmente, como podem controlar a tecnologia. Normalmente, quando usamos tecnologia com animais, usamo-la neles, por isso reproduzimos sons ou vídeos em vez de lhes dar a opção de controlar a tecnologia por conta própria”, explicou a investigadora da Aalto University, Ilyena Hirskyj-Douglas, em comunicado.
O mecanismo, um túnel construído em madeira e acrílico e equipado com monitor, câmara e sensores para monitorizar o uso do espaço, foi colocado no habitat dos macacos saki do Jardim Zoológico Korkeasaari.
O dispositivo reproduzia cinco cenas diferentes: vida marinha, como peixes e águas-vivas; vermes ondulantes; outros animais de jardim zoológico, como zebras, lémures e veados; arte abstrata ou florestas exuberantes.
Além disso, cabia aos animais decidir se queriam, ou não, entrar no aparelho – ação equivalente a clicar no botão “reproduzir” – para ver o vídeo da semana.
Os animais passaram a maior parte do tempo a ver vídeos de minhocas a deslizar ou cenas subaquáticas, mas os investigadores consideram difícil dizer com certeza qual era o vídeo que os macacos mais gostavam. Isto porque esses vídeos foram exibidos a meio do estudo, quando os animais já estavam habituados a usar o dispositivo, mas este ainda era relativamente novo, o que fazia com que se interessassem por ele.
Por outro lado, os cientistas descobriram que os macacos se arranhavam com muito menos frequência quando viam o vídeo, o que indica que se coçavam menos – um sinal de stress para animais em cativeiro.
Embora não seja possível estabelecer uma ligação causal entre atividades específicas e os níveis de stress dos animais, uma coisa é certa: diferentes tipos de estímulos proporcionam-lhes novas coisas para fazer, o que é importante para o seu bem-estar.
A equipa baseou o dispositivo de vídeo num estudo anterior, publicado em setembro de 2020, no qual o mesmo dispositivo foi usado em forma de túnel para reproduzir diferentes sons e músicas. Na época, os investigadores descobriram que os macacos ouviam mais os sons do trânsito do que os sons da chuva, música ou silêncio.
Kirsi Pynnönen-Oudman, coordenador de investigação do Jardim Zoológico Korkeasaari, acredita que tanto o áudio como o vídeo podem ser usados para enriquecer a vida de primatas e possivelmente de algumas aves, como papagaios e corvos, que viverão nas suas instalações no futuro.
“O equipamento deve, naturalmente, suportar a manipulação de animais e, aqueles que têm, por exemplo, dentes afiados devem ter o seu próprio equipamento. A vantagem é que a disponibilidade de conteúdo de vídeo e áudio é quase ilimitada, portanto, o uso do dispositivo não é caro”, disse.
Este estudo foi publicado em fevereiro na revista científica Animals.