A Direção-Geral da Saúde alterou a norma sobre as visitas aos idosos que estão nos lares sem falar com o setor social e privado, o que deixou os responsáveis apreensivos, apesar de haver também quem concorde com a medida.
De acordo com a DGS, os idosos que estão nos lares podem receber mais do que uma visita por semana, ficando nas mãos das autoridades de saúde locais a possibilidade de voltar a suspendê-las.
Numa informação divulgada no seu site e que atualiza a que tinha sido publicada em maio, quando as visitas aos lares foram retomadas, a DGS diz que, “de acordo com as condições técnicas das estruturas ou unidades, as visitas devem realizar-se pelo menos uma vez por semana”, mas alerta que cada autoridade de saúde local poder suspender ou restringir as visitas, de acordo com o evoluir da situação epidemiológica.
As visitas aos lares estiveram suspensas em todo o país entre 13 março e o dia 18 de maio, quando foram retomadas em todas as unidades, mas, numa fase inicial, apenas uma por utente e só uma vez por semana.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) adiantou que não sabia dessa alteração e que a medida não foi falada com o setor social. “É preciso avaliar caso a caso e se há casos na instituição ou na comunidade”, disse Manuel Lemos, sublinhando que essa alteração “tem de ser falada com as instituições”.
Manuel Lemos garantiu que as misericórdias são responsáveis e saberão gerir o número de visitas, mas defendeu que o que faz sentido é que essa gestão seja feita em conjunto pelas instituições e pelas autoridades de saúde local e não apenas por esta última.
O presidente da Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso de Idosos (ALI) confirmou que o setor privado também não foi ouvido nesta alteração, algo que “teria feito sentido”, e que só soube pelas notícias na comunicação social.
Há quem concorde com a medida
No entanto, João Ferreira de Almeida concorda com a medida porque lembra que os idosos e as famílias ficaram muito afetados quando as visitas foram canceladas. Em alguns casos as visitas físicas foram substituídas pelas videochamadas, “mas não é a mesma coisa”.
Sublinhou que quando as visitas foram retomadas, houve poucos casos de famílias que tivessem desrespeitado as normas da DGS e acredita, por isso, que nos casos conhecidos de surtos de covid-19 em lares a propagação da doença fez-se pelos trabalhadores e não pelos familiares.
O responsável apontou que aumentar o número de visitar por um lado “é necessário”, mas salientou que “há um fator de incerteza muito grande” por causa das pessoas assintomáticas. João Ferreira de Almeida ainda que a gestão do número de visitas deveria ficar a cargo das instituições, uma vez que todas são diferentes e têm condições diferentes para garantir essas visitas, tendo em conta os idosos e as respetivas famílias porque também aqui as realidades são dispares.
Já o presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS) disse ter ficado “apreensivo” com esta alteração, apesar de ter sido sempre a favor das visitas. No entender de Lino Maia, tendo em conta a situação atual, com o aumento do número diário de novos casos, é preciso cautela e moderação porque “escancarar as portas neste contexto pode ser perigoso”.
Lembrou que o vírus não está nos idosos, mas vem do exterior das instituições, o que torna difícil gerir trabalhadores e familiares.
“É preciso ter muito cuidado”, sublinhou Lino Maia.
ZAP // Lusa