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Costa quer apressar um “casamento por escrito”. Mas PCP e BE estão por um fio

José Sena Goulão / Lusa

António Costa quer, mais do que namorar a esquerda, um novo acordo por escrito. O PCP está a fugir por entre os dedos, mas o Governo quer segurar, pelo menos, o Bloco de Esquerda.

O pedido de namoro foi feito em pleno debate do Estado da Nação: “É com os partidos que viraram connosco a página da austeridade que queremos prosseguir o caminho. A magnitude da tarefa que temos pela frente não se compadece com acordos de curto prazo.”

Mas, segundo o Expresso, o pedido não apanhou Jerónimo de Sousa e Catarina Martins de surpresa, já que o primeiro-ministro chamou os dois líderes para uma reunião onde lhes fez o pedido oficial: um novo papel escrito, com acordos que fossem para lá do próximo Orçamento.

O objetivo de António Costa é ter um papel assinado (outra vez) e o mais rápido possível. O Expresso escreve que a pressa tem um propósito formal: este é o mês do orçamento e dos planos que Portugal tem de mandar para Bruxelas, para se candidatar aos fundos.

Além do óbvio, tem ainda uma objetivo subentendido: Costa quer obter um plano conjunto plurianual, que lhe dê garantias de estabilidade política para um horizonte de, “no mínimo”, mais do que um orçamento. Enquanto que o OE2021, sem parceiro, chega numa altura em que Marcelo não pode dissolver a Assembleia da República, o mesmo não acontece com o OE2022.

Certo é que o reatar dos laços com a esquerda está a ser um processo conturbado, com o PCP cada vez mais distante e com uma sequência de eventos que dificulta entendimentos com o Governo (congresso em dezembro, presidenciais em janeiro e autárquicas em outubro de 2021); e um BE mais imprevisível.

PCP e Bloco de pé atrás

O PCP não acredita no convite de António Costa. “Os entendimentos ou convergências não são considerações em abstrato. O essencial é saber qual a política a prosseguir, as opções e objetivos que lhes estão associadas”, disse ao Expresso o gabinete de imprensa comunista, apontando ao PS uma “indisfarçável convergência” com o PSD no suplementar, fim dos debates quinzenais e as alterações à Lei do Enquadramento Orçamental.

“AA ideia de ‘entendimento sólido e duradouro’ associadas às circunstâncias verificadas em 2015 não tem fundamento, desde logo, porque mesmo nessa conjuntura o PCP manteve sempre a sua total independência de decisão”, acrescentou.

Nas eleições legislativas, os comunistas deixaram claro que não queriam mais acordos escritos e o seu primeiro sinal de demarcação absoluta foi dado com o voto contra o Suplementar.

No seio do Bloco de Esquerda acredita-se que o PCP já não voltará, o que deixa o partido com duas opções: sair da fotografia ou negociar com o PS, agora com uma posição de maior influência. Mas até nesta relação há sinais de preocupação.

Na entrevista que o primeiro-ministro concedeu à Visão, António Costa foi desafiado a comparar Catarina Martins ao primeiro-ministro holandês Mark Rutte, e respondeu que Rutte tinha “enormes vantagens” e era até “um bom parceiro” de trabalho, palavras lidas como uma provocação.

ZAP //

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