Em entrevista à SIC Notícias, Durão Barroso concordou com a criação dos coronabonds, mas defendeu que a prioridade é resolver “a crise humanitária”.
Durão Barroso considerou, em entrevista à SIC Notícias, que as instituições europeias têm respondido de forma cabal aos pedidos de apoio dos estados membros no combate a pandemia de covid-19.
Para o ex-presidente da Comissão Europeia, os maiores problemas têm sido colocados por alguns países. Assim, Durão Barroso considerou que a emissão dos chamados “coronabonds” seriam uma boa opção. Por outro lado, alertou que terá de haver cedências de todas as partes, o que será muito difícil.
“É necessário que apareça uma coordenação de ajuda orçamental. Quanto a isso, seria bom a meu ver, que fossem as eurobonds. Penso que uma via possível é utilizar o Mecanismo Europeu de Estabilidade, criado em 2008, mas que tem de ser reformulado e ter alguma flexibilidade”, sublinhou.
Apesar de a pandemia de Covid-19 provocar um impacto brutal no crescimento exponencial das dívidas dos países, levando a uma crise económica, Durão Barroso considera que, primeiro, é necessário resolver a crise humanitária.
“Temos tem de pôr a prioridade na questão humanitária. Temos também de pensar como vamos gerir esta dívida no futuro, mas para já a urgência é a urgência humanitária”, disse Durão Barroso, sublinhando que esta “é uma crise de outra dimensão”.
Três anos para montar coronabonds
Em entrevista ao Financial Times, Klaus Regling, diretor-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade, lançou um “balde de água fria” sobre aqueles que veem a emissão conjunta de dívida na zona euro como uma solução urgente para a crise. Tornar operacional um mecanismo de emissão de coronabonds levaria “um, dois ou, até, três anos”, garante.
“Levaria um, dois, ou três anos para criar uma nova instituição europeia para emitir dívida conjunta – e os estados-membros teriam de entregar capital ou garantias, ou empenhar receitas [fiscais] futuras. Não é possível criar títulos de dívida a partir do ar”, afirmou Regling.
Se a intenção é cobrir necessidades financeiras de curto prazo, para investir na saúde ou apoiar as economias, Regling acredita que “a única forma que existe é usar as instituições existentes, com os mecanismos que já existem“
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen está do lado do bloco de países que são contra os coronabonds, o instrumento de dívida conjunta que é o ponto da discórdia. A Alemanha também se opõe aos coronabonds, tal como Holanda, Áustria e Finlândia, enquanto Portugal, Espanha, Itália e França são defensores deste apoio.
Durante a crise da zona euro, entre 2010 e 2014, a hipótese de emissão de dívida europeia foi muito discutida, a pedido dos países mais afetados pela subida dos juros das suas dívidas nacionais.