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É urgente moldar as áreas urbanas de África para suportar futuras pandemias

Kim Ludbrook / EPA

Quando o tema é a Covid-19, o poder das cidades provém do número de interações entre pessoas, empresas e mercados que estes centros populacionais permitem. Apesar de todas as suas virtudes, a verdade é que as cidades são um terreno fértil para o contágio.

O cenário da pandemia de Covid-19 em África podia ser muito pior, tendo em conta as características de muitas cidades deste continente, que, sem medidas de mitigação apropriadas, poderiam fazer escalar o número de casos positivos de infeção pelo novo coronavírus.

Aliás, os níveis de densidade em certas partes das cidades africanas podem ser ainda mais altos do que os de Nova York: estima-se que cerca de 2/3 da população de Nairóbi viva em apenas 6% das suas terras e em Kampala, 71% das famílias dormem num quarto individual.

De acordo com um artigo do The Conversation, estima-se ainda que apenas 56% da população urbana da África Subsaariana tenha acesso a água canalizada e, mesmo muitos dos que têm acesso, precisam de percorrer longas distâncias para ter acesso a este bem essencial.

Este problema levanta a questão de saber se a lavagem frequente das mãos é viável. O mesmo vale para o distanciamento social – a segunda medida preventiva recomendada – devido à densidade populacional. Acresce ainda o problema dos serviços de saúde precários, que não teriam margem de manobra para lidar com taxas de infeção semelhantes às de Itália, por exemplo.

Cidades de todo o mundo e ao longo da História têm-se adaptado e reinventado perante crises e desastres. Alguns analistas preveem que as cidades norte-americanas serão reformuladas por esta crise, nomeadamente no que diz respeito ao teletrabalho, com alguns especialistas a defenderem que isto significa que os escritórios localizados centralmente irão diminuir.

No entanto, a natureza dos empregos é diferente nas cidades africanas e trabalhar em casa não será, certamente, uma opção. Pelo contrário: depois da crise provocada pelo novo coronavírus, podemos assistir à migração rural-urbana, com pessoas a reunirem-se nos centros urbanos em busca de mais oportunidades económicas.

As cidades necessitam, por isso, de investir em infraestrutura produtivas, como infraestruturas de água e esgoto, e melhorar a saúde, com a criação de um maior número de unidades hospitalares.

A densidade populacional que torna os africanos suscetíveis a doenças, também os torna mais eficientes para fornecer infraestruturas a um grande número de pessoas. Ao moldar o futuro urbano da África, as autoridades de saúde pública devem assumir um papel central, numa parceria com urbanistas e economistas.

ZAP //

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