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“A Google sabe sempre onde são os primeiros surtos de gripe”

Hoje em dia, “há uma tendência para disponibilizar tudo na Internet”, o que pode ser perigoso e ter consequências para toda a vida. O alerta é da presidente da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) que destaca o “poder” da Google, frisando que “sabe sempre onde são os primeiros surtos de gripe”.

“Não é por acaso que a Google criou uma empresa na área da saúde“, considera a presidente da CNPD, Filipa Calvão, em entrevista ao Público, notando que o motor de busca tem “mais informação de saúde do que qualquer estabelecimento hospitalar”.

A Google “consegue determinar onde há maior predominância de gripe” e “sabe sempre primeiro onde são os primeiros surtos, com as pessoas a queixarem-se ou a fazerem buscas na Internet”, sustenta Filipa Calvão.

A responsável lembra ainda que a Google sabe “o nosso nome, seja porque temos um email ou porque usamos redes sociais onde a informação é cruzada”, admitindo que este verdadeiro Big Brother é “um bocadinho angustiante”.

Numa entrevista de balanço da entrada em vigor do Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD), que visa homogeneizar as normas de privacidade de protecção de dados na União Europeia, Filipa Calvão entende que a nova Lei gerou alguma “apreensão” e “histeria”. “Houve exageros e alguma precipitação“, assume.

A presidente da CNPD repara que, hoje em dia, “há uma tendência para disponibilizar tudo na Internet”, nomeadamente até por parte de entidades públicas. “O Código de Procedimento Administrativo promove a publicação de muita coisa no site das entidades públicas”, salienta, frisando que “o legislador nacional não ponderou bem as coisas”.

“É importante haver um controlo público — por exemplo, na distribuição de subsídios — mas é preciso pensar nas consequências para as pessoas que são objecto daqueles apoios”, diz, realçando que “há famílias com crianças que precisam daqueles subsídios e a publicitação na Internet, por parte das escolas por exemplo, estigmatiza-as“.

“A informação que recebeu o subsídio “x” fica para a vida”, nota Filipa Calvão, reparando que “há empresas que vivem de recolher dados, de os misturar e cruzar” e que “vão criando perfis sobre as pessoas“. “Quando numa análise desta informação vai este dado de que o indivíduo é pobre, este perfil vai reproduzir-se quase automaticamente ao longo da vida daquela pessoa”, o que gera uma “estigmatização no acesso a seguros, a empréstimos para compra de casa ou carro”, alerta.

Tudo isto condiciona a vida. É costume dizer-se nos algoritmos que quando se é pobre nunca mais se enriquece”, salienta a presidente da CNPD, concluindo que “é preciso ter alguma cautela com a informação disponibilizada na Internet”.

ZAP //

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