O Bangladesh arrisca-se a criar uma “nova crise” para os refugiados rohingya se em abril avançar com os planos para transferir 23 mil refugiados para Bhashan Char, uma ilha desabitada propensa a ciclones.
O alerta foi dado esta segunda-feira pela relatora especial das Nações Unidas sobre Myanmar, Yanghee Lee, no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.
Lee afirmou não ter a certeza se a ilha do Golfo de Bengala é “verdadeiramente habitável”, advertindo, citada pela Al Jazeera, que as deslocalizações “mal planeadas” e sem o consentimento dos refugiados “têm o potencial de criar uma nova crise”.
Cerca de dez mil civis fugiram das suas casas no estado de Rakhine, em Myanmar, desde novembro do ano passado, devido à violência e à falta de ajuda humanitária, contabilizou a relatora da ONU.
Embora a atenção global se concentre na situação dos rohingya em Myanmar, muitos grupos étnicos de Rakhine têm sido afetados pelos confrontos entre os militares e os insurgentes Arakan. Os confrontos já levaram à morte de “vários civis, incluindo crianças”, sublinhou Lee.
Os rohingya são uma minoria muçulmana alvo de uma campanha de repressão em Myanmar. Organizações de defesa dos direitos humanos dizem que, se forem deslocados, os refugiados ficarão presos em Bhashan Char, uma ilha lamacenta e de baixa altitude que inunda durante a estação das monções e oferece poucas oportunidades de subsistência.
No final de fevereiro, o Bangladesh afirmou, no Conselho de Segurança da ONU, que iria deixar de aceitar refugiados rohingya. A posição do Bangladesh foi transmitida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Shahidul Haque, que declarou que “não é possível” acomodar mais refugiados rohingya no território.
Os problemas colocados no processo de regresso de centenas de milhares de rohingya a Myanmar “vão de mal a pior”, alertou o governante, apelando ao Conselho de Segurança para tomar medidas “concretas”.
Shahidul Haque acusou ainda as autoridades de Myanmar de “promessas vazias” durante as negociações entre os dois países para o repatriamento gradual dos vários milhares de rohingya atualmente refugiados em campos no Bangladesh.