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“Marcha Branca” reúne milhares de enfermeiros em Lisboa

Paulo Novais / Lusa

O Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) anunciou a realização em abril de uma “greve geral, prolongada e muito dura”, depois de uma reunião com o Governo que marca o início de um período de negociações.

O presidente do Sindepor, Carlos Ramalho, disse no final da reunião que a greve é para que, “de uma vez por todas, se entenda que os enfermeiros querem negociar, mas querem negociações sérias”, acrescentando que a paralisação será em abril, mas sem anunciar a data.

Carlos Ramalho disse à Lusa que a data da greve será anunciada esta sexta-feira, quando está marcada uma marcha em Lisboa em homenagem aos enfermeiros.

O Governo e sindicatos de enfermeiros voltaram a reunir-se para tentar chegar a um acordo sobre reivindicações da classe que já levaram a greves que resultaram numa requisição civil.

O Governo reuniu-se esta quinta-feira com a Federação dos Sindicatos de Enfermeiros (Fense) e com o Sindepor, um dos dois sindicatos que estiveram na origem de greves às cirurgias que levou a uma posterior requisição civil.

No final da reunião, de menos de 30 minutos, Carlos Ramalho disse aos jornalistas que o encontro serviu para assinar o protocolo negocial e que o sindicato disse ao Governo que espera reuniões frutíferas. “Dissemos ao Governo que estamos aqui para negociar, como sempre estivemos”, o que “não tem acontecido” da parte do Governo.

A greve vai ser para todos os serviços. Mas, adiantou, “vai continuar a haver espaço para a negociação” e “as greves anunciam-se e desconvocam-se se for necessário”.

“O que queremos é ter a garantia de que as negociações desta vez vão ser sérias”, disse, adiantando que as reuniões vão acontecer de 15 em 15 dias às quartas-feiras, mas que a próxima se realiza excecionalmente no dia 21.

Carlos Ramalho insistiu que os enfermeiros não têm sido respeitados pelo Governo e que está em discussão pública um diploma de carreira que não foi fruto de negociação, sendo antes uma imposição.

O Sindepor, afirmou, está disponível para negociar todas as questões, durante o tempo que for necessário, referindo como questões fundamentais o descongelamento de progressões, atribuição de subsídio ao enfermeiro especialista e a grelha salarial.

Antes o Governo, com representantes dos ministérios da Saúde e das Finanças, reuniu-se com a Federação dos Sindicatos de Enfermeiros (Fense).

José Azevedo, presidente do Sindicato dos Enfermeiros (que faz parte da Fense), disse à Lusa que a reunião serviu para troca de documentação e que ficou novo encontro marcado também para dia 21. A Fense está a negociar com o Governo um acordo coletivo de trabalho, mas José Azevedo garantiu que nada tem a ver com o diploma de carreira que o Governo colocou em discussão pública nem este documento tem a aprovação da Federação.

Com o reatar de negociações a Fense adiou uma greve de zelo que tinha marcado para o início do mês. A 22 de fevereiro, o Ministério da Saúde disse que as reuniões se destinam à celebração do acordo coletivo de trabalho, cuja negociação decorre desde novembro de 2018.

Em janeiro e fevereiro enfermeiros fizeram uma greve às cirurgias em blocos operatórios de hospitais públicos, tendo obrigado ao adiamento de milhares de operações. O Governo decretou a 7 de fevereiro uma requisição civil e pediu um parecer à Procuradoria-Geral da República, que considerou a greve ilegal.

A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros suspendeu-a, mas o Sindepor manteve-a, tendo o seu presidente estado em greve de fome durante dois dias.

A greve, a segunda no mesmo modelo e financiada por uma recolha de fundos numa plataforma online, arrancou depois de os dois sindicatos de enfermeiros terem terminado as reuniões negociais com o Governo sem consenso, sobretudo na questão do descongelamento das progressões da carreira, no aumento do salário base e respetivas progressões e na antecipação da idade da reforma.

“Marcha branca” em Lisboa esta sexta-feira

Milhares de enfermeiros são esperados esta sexta-feira à tarde numa marcha em Lisboa, segundo o movimento que organizou a iniciativa de homenagem à enfermagem, que conta com o apoio de vários sindicatos do setor.

Sónia Viegas, do Movimento Nacional de Enfermeiros, disse à agência Lusa que são esperados “alguns milhares” de profissionais na “Marcha Branca pela Enfermagem”, que pelas 15h00 deve partir do Parque da Bela Vista em direção ao hospital Santa Maria.

Numa profissão constituída em larga maioria por mulheres, o desfile coincide com o Dia da Mulher e será também uma forma de assinalar “uma das figuras centrais da enfermagem”, Florence Nightingale, enfermeira que no século XIX mudou o paradigma da profissão, tendo sido considerada pioneira no tratamento a feridos de guerra na Guerra da Crimeia.

Os organizadores da marcha apelam aos participantes para desfilarem vestidos de branco e pedem que não sejam usados nem bandeiras, nem faixas nem quaisquer outros símbolos de reivindicação sindical ao longo da manifestação.

Contudo, a porta-voz do Movimento que impulsionou este desfile, Sónia Viegas, refere que a marcha pela enfermagem conta com o apoio da generalidade dos sindicatos dos enfermeiros, sendo que terá a participação de representantes de todas as estruturas sindicais. Alguns sindicatos, como a Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), convocaram uma greve nacional de enfermeiros para permitir a participação de mais profissionais no desfile.

ZAP // Lusa

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