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“Trono de sinhá”. Diretora da Vogue demite-se depois de dar festa alusiva à escravatura

(dr)

A diretora da Vogue Brasil pediu demissão do cargo na sequência de uma festa que deu alusiva à escravatura. Donata Meirelles celebrava os seus 50 anos em Salvador, num evento onde também participou o músico Caetano Veloso.

É possível ver, em várias fotografias captadas durante o evento, Donata Meirelles sentada numa cadeira, ladeada por quatro mulheres negras à sua volta que vestem roupas tradicionais de baianas do acarajé. A imagem foi interpretada como a representação de uma “sinhá” rodeada das suas “mucamas”, remetendo para o período da escravatura, tal como escreve o Folha de São Paulo.

A festa em causa ocorreu na última sexta-feira, no Palácio de Aclamação, num jantar luxuoso, que contou com a presença de Caetano Veloso que deu um pequeno concerto. Dias depois, já nesta quarta-feira, Donata Meirelles pediu demissão.

“Com tristeza no coração, mas com a coragem e a cabeça erguida que sempre pautaram a minha vida, inicio um novo ciclo e peço demissão da Vogue Brasil, uma publicação que ajudei a construir”, escreveu em comunicado citado pelo portal UOL.

“Amo-te Vogue, amo-te desde de miúda. Conta comigo para continuar a fazer a diferença no mercado editorial e de moda, defendendo e promovendo todas as belezas humanas, como continuarei a defender”, escreveu na mesma nota.

Donata Meirelles, que ocupou o cargo durante sete anos, disse que a sua intenção não foi ser racista, mas antes homenagear a cultura do Candomblé.

Um dia depois da festa, e através da sua conta de Instagram, a antiga diretora da revista respondeu à polémica explicando que, na fotografia, a cadeira em que está sentada não é de “sinhá” e que os trajes são de mulheres baianas e não de mucamas, pedindo contudo desculpa por “ter causado uma impressão diferente”.

A Vogue Brasil reagiu em comunicado, lamentando “profundamente” o ocorrido. A revista acrescentou ainda esperar que o debate em torno desta polémica sirva de aprendizagem. “Nós acreditamos em ações afirmativas e prepositivas e também que a empatia é a melhor alternativa para a construção de uma sociedade mais justa, em que as desigualdades históricas do País sejam debatidas e enfrentadas”, acrescentou.

A repercussão da festa chegou a ser internacional: Shelby Ivey Christie, diretora de marketing da L’Óreal e ex-executiva de vendas da Vogue dos Estados Unidos, usou o Twitter para considerar de “nojento” o tema da festa de Meirelles.

A primeira vez que a edição brasileira da revista Vogue colocou uma mulher negra na capa foi em 2011, 36 anos depois de ser lançada.

ZAP //

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