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“Mário Centeno é Vítor Gaspar com açúcar”

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António Lobo Xavier, advogado e comentador político do programa Quadratura do Círculo – que em breve passará a chamar-se Circulatura do Quadrado e morará na TVI – considerou que Mário Centeno, que lidera a pasta das Finanças, é, na verdade, uma espécie de “Vítor Gaspar com açúcar”.

Em entrevista ao jornal Observador, o advogado e conselheiro de Estado falou sobre a mudança do programa da SIC para a TVI, defendeu o Presidente da República, comparou Mário Centeno ao ministro das Finanças de Pedro Passos Coelho e recordou ainda o “glorioso” PSD do anterior primeiro-ministro.

Foi quando falava do “glorioso” PSD de Passos Coelho que surgiu a comparação entre Centeno e Vítor Gaspar. Para Lobo Xavier, este PSD-troika foi “fundamental para o país” e “muito corajoso”, considerando que só “pessoas com as características – para o bem e para o mal — de Pedro Passos Coelho” é que podiam ter liderado um governo naquela época.

“Voltando atrás, compreende-se que o PSD de Rui Rio quisesse fazer algum corte, mas esse corte não podia significar ‘somos iguais ao PS’. O drama disto tudo é justamente que Mário Centeno é uma espécie de Vítor Gaspar, embora mais disfarçado, mais suave, com a mesma eficácia ou até mais, e por isso é difícil fazer oposição e ser alternativa”.

E sustentou: “Repare: Centeno cobra enormes impostos ou não? Cobra. Tenta equilibrar o Orçamento e consegue? Sim. Cumpre as coisas que Bruxelas quer? Cumpre. Cria austeridade em outros sectores da economia? Cria…”.

Questionado sobre excesso de cativações e as suas consequências diretas nos serviços públicos, o comentador político tomou a título de exemplo o caso da Saúde para dar conta que são os mais desfavorecidos que acabam por ficar mais prejudicados.

“Tenho dito muito isso na Quadratura: são as pessoas sem seguros de saúde, com baixos rendimentos, trabalhadores por conta de outrem, que são afetadas pelos problemas hospitalares. Eu não estava a elogiar Mário Centeno, dizia-lhe apenas que ele é um Vítor Gaspar com açúcar e que isso tem servido para levar as pessoas atrás”, disse.

“[As pessoas] também gostam de um certo rigor orçamental, e Centeno consegue-o subindo os impostos como os outros. E seguindo os ditames de Bruxelas, mesmo que desprotegendo certas áreas de serviço público. Ora, o que é que se contrapõe a esta política, o que é que Passos Coelho podia dizer? Talvez algumas coisas: que há muitos sectores sociais desprotegidos, que os serviços públicos estão abandonados, que quase nada se conseguiu em termos de combate à desigualdade”, defendeu.

Marcelo “é genuíno mas age em torno de valores”

Relativamente ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República e à atuação do atual primeiro-ministro, Lobo Xavier, de 56, anos, começou por frisar que os “tempos mudaram muito”.

“Em 1994, nada do que nós hoje vemos seria possível! O parlamento era uma coisa diferente, as pessoas eram uma coisa diferente, as relações entre os partidos eram uma coisa diferente, a Presidência da República era uma coisa diferente, escondida, comedida. E mesmo este primeiro-ministro tem características próprias que eu não encontrei quando estava na política ativa”, afirmou.

Instado a concretizar estas grandes mudanças, o conselheiro de Estado realça a genuidade de Marcelo Rebelo de Sousa. “A esta Presidência. Um desempenho que traduz uma opção clara pela genuinidade ou pelo menos é assim que eu a vejo. Como se o Presidente tivesse dito a ele mesmo: ‘Aquilo que eu fui como pessoa toda a vida, é, para o mal e para o bem, como vou ser na Presidência’. O Presidente é genuíno mas age em torno de valores”, disse.

Indagado sobre os valores que têm guiado o chefe de Estado, Lobo Xavier considerou que a genuinidade de Marcelo Rebelo de Sousa “seria perigosa se não estivesse sempre organizada por valores. “Mesmo para mim, que sou relativamente conservador nalgumas coisas — vendo aqui e ali algum excesso – quando olho para o trabalho do Presidente vejo sempre, muito claramente, os seus valores, a começar por exemplo nos valores da preocupação social e da aflição com a pobreza, que estão lá sempre”.

“Mas saiamos desse campo — onde facilmente toda a gente concorda – e sigamos para a primeira metade do mandato do Presidente da República, onde ele tratou de um lugar que estava vazio. À direita do PS estava tudo vazio: os partidos que tinham ficado chocados com a solução governativa, tendo sido corridos após terem ganho as eleições, demoraram muito tempo a encontrar um caminho, estiveram muito tempo obstinados. E o Presidente da República funcionou como tempero de soluções que podiam ter sido muito piores no funcionamento da chamada geringonça”, concluiu.

“Muito do que sou devo-o um bocado à Quadratura”

Lobo Xavier falou ainda do Quadratura do Círculo que em breve passará a ser emitido na TVI, revelando que o termo do programa “foi uma surpresa”, apesar de reconhecer que “todas as coisas acabam”.

“Mas umas acabam de melhores maneiras, outras, de piores. A nossa foi pelo menos inesperada: não nos pareceu natural que, num programa com 15 anos, fosse anunciado aos seus participantes — que não são nenhuns garotos — que dentro de 15 dias já não contavam connosco. Sim, houve um certo desconsolo, houve o nosso brio, mas não guardo rancores”, confessou Lobo Xavier ao Observador.

“Gostei muito deste tempo na SIC, e agora mudámos para outra estação que queria a Quadratura com muita vontade…”, disse, referindo-se à TVI que já adiantou que o programa passará a chamar-se “Circulatura do Quadrado”.

Notando que o “legado sindical” do programa de comentário político é – e sempre foi – Pacheco Pereira, revelou que as decisões sempre foram tomadas por unanimidade  o mesmo aconteceu com a mudança de emissora: “É que não se tratou só de escolher uma estação melhor do que outra, foi imaginar qual o ‘sítio’ onde estivéssemos menos expostos a certas ideias do mundo da política, sobre o que deve ser uma estação pública”.

“A Quadratura assenta na ideia de que não há representação de partidos. Nem o Pacheco Pereira — o que me parece bastante óbvio — é representante do seu partido, nem eu do CDS, nem o Jorge Coelho do PS. Isto é, são estes nomes e não outros. E também há mais partidos no Parlamento, mas não há na Quadratura. Pareceu-nos que esta fórmula, digamos, livre, em que nós somos donos e tratamos da composição do programa por unanimidade, talvez fosse mais fácil…”, sustentou.

Questionado sobre se seria mais difícil “encaixar” o programa numa estação pública, Lobo Xavier disse que as “pessoas da RTP também estariam dispostas a lutar por isso, mas não teriam a vida facilitada do lado de fora… Quisemos evitar alguns desses aspetos – a política é assim”. No fundo, admitiu, as complicações foram cortadas à priori, tentando evitar esses riscos: “E de que gostamos, onde temos liberdade editorial, onde explicámos que só aceitávamos se tivéssemos liberdade, inclusivamente, para criticar a própria orientação editorial da estação, como também sempre fizemos na SIC”, rematou.   

SA, ZAP //

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5 Comments

  1. É a diferença é que, bem ou mal, o Centino lá vai cumprindo os objetivos definidos, enquanto o Gasparzinho nunca cumpriu nenhum e, pelo excelente serviço, ainda foi premiado com um cargo na máfia do FMI.

    • O amigo é mesmo muito limitado. Os outros passaram de mais de 8% de buraco para 3%. E a conjuntura internacional não era a atual. Preço de petróleo, crescimento das economias parceiras,… Tudo era pior. Este palerma que lá está agora, aumenta os impostos; a base de impostos também aumenta (devido ao aumento da atividade económica como resultado da melhoria dos mercados parceiros) e apenas reduzirá de 3% para 0. Quem é que esteve melhor? Bem se vê que economia e finanças o amigo não percebe nada. Fique-se pela bola… e por Deus.

      • Amigo?!
        Deves estar na tasca…
        Então o Gasparzinho não acertou uma e tu ainda perguntas quem esteve melhor?
        Nota-se que, de finanças e de economia, ele percebia pouco!…
        A bola e a igreja costumam combinar bem com os “expert” das tascas…

  2. Gostei do observado Centeno com açúcar = a V Gaspar.
    Mas acho Centeno pior, pois numa altura que devia aliviar os impostos aos cidadãos, não só aumentou como criou mais taxas, que é igual a mais impostos.

  3. Pois, pois. Não se podem comparar os períodos da governação, um entrou a meio do caos e o segundo entrou com a cama feita. O Vitinho aumentava um imposto ou criava uma nova taxa e era logo um alvoroço. O Centinho limpa-nos até ao tutano e anda toda a gente feliz.

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