Há câmaras que ainda estão a pagar os estádios do Europeu de Futebol de 2004. Em causa estão dez estádios e 107,4 milhões de euros, sendo que algumas autarquias têm dívidas altas em empréstimos contraídos nesse ano.
De acordo com os relatórios e contas do ano passado e com as autarquias que custearam os estádios que confirmaram ao Jornal de Notícias, há câmaras ainda a pagar os estádios do Europeu de Futebol de 2004 e Leiria lidera as dívidas com 34,8 milhões por pagar.
No entanto, pode ainda ser ultrapassada por Braga, que tem 29 milhões em dívida, mas está a braços com processos judiciais de mais de 20 milhões de euros. Se Braga for condenada a pagar todos os processos, a dívida ascende a 49 milhões de euros.
Apesar de todos os estádios de futebol terem sido inaugurados a tempo do Euro 2004, 14 anos depois os custos ainda se fazem sentir, nomeadamente as derrapagens orçamentais e os empréstimos de longo prazo que ainda continuam a ser uma dor de cabeça para algumas autarquias.
Segundo o Relatório de Contas de 2017 da Câmara de Leira, por exemplo, estão por pagar 21 milhões de euros em quatro empréstimos bancários, mais de 13,8 milhões do empréstimo contraído pela Leirisport, cujo ónus recaiu sobre a Câmara.
Depois de Leiria, segue-se Braga, a autarquia que construiu o estádio mais caro do Euro 2004. O valor de 33 milhões de euros do projeto inicial passou para 65 milhões com o arquiteto Souto Moura. Hoje, a obra vai já com uma fatura de 160 milhões, resultantes das obras a mais nas fundações e bancada nascente, necessidade de recorrer a uma empresa italiana de engenharia para ligar as palas do estádio em betão, e autos de medição feitos de forma errada pela Câmara.
Em suma, a derrapagem ultrapassa os 100 milhões de euros, dos quais estão 29 por pagar. Ainda assim, a fatura vai ser ainda mais alta.
Coimbra tem também uma dívida alta de 15,7 milhões por pagar do empréstimo a 20 anos que contraiu. O estádio Cidade de Coimbra esteve para ser construído por 15 milhões, mas custou 40. Já em Guimarães, a derrapagem foi mais curta. A requalificação do estádio D. Afonso Henriques deveria ficar por 27,5 milhões, mas custou 30 milhões, faltando pagar 7,6 milhões em três empréstimos.
Em Aveiro, o estádio deveria ter custado 31 milhões, mas teve uma fatura de 65 milhões. Segundo o presidente da Câmara, “encontra-se em dívida o total de 7,1 milhões de euros”, dos quais seis milhões são empréstimos da Câmara e 1,1 milhões da empresa municipal que gere o estádio.
Já o Porto está ainda a pagar a ajuda de 15 milhões dada pelo Executivo de Rui Rio aos estádio do Dragão e do Bessa. Segundo o Relatório e Contas da Autarquia, faltava pagar 7,2 milhões no final de 2017.
No caso do estádio do Algarve, faltam pagar seis milhões de euros, distribuídos equitativamente pelas câmaras de Faro e de Loulé.
A verdade é que, pondo de lado o sucesso a nível de participação desportiva, o Euro 2004 deixou quase todas as câmaras com empréstimos para pagar até à próxima década. Só perto de 2030, e caso os compromissos sejam cumpridos, é que todos os estádios vão estar pagos aos bancos.