Um dos homens que, no dia 9 de abril de 2003, derrubou a estátua do ditador está arrependido pelo que fez e diz que o Iraque está ainda pior depois desse episódio.
“Hoje, quando passo por aquela praça, sinto vergonha”, afirma o iraquiano Khadim al-Jabbouri, referindo-se à praça Firdos, em Bagdade.
Foi aí que o mecânico, juntamente com a força de muitos outros homens, ajudou a derrubar a famosa estátua de Saddam Hussein.
O episódio aconteceu em 2003 e as imagens correram mundo, com a queda da estátua a tornar-se o símbolo de esperança e da chegada de uma nova etapa ao país.
Mas hoje, Al-Jabbouri, que viu mais de uma dezena de parentes executados pelo antigo regime, diz estar arrependido do que fez e que, se pudesse, gostava de ter o ditador de volta.
“Porque é que derrubei aquela estátua? Se pudesse, colocava-a de novo no lugar, podia reconstrui-la, mas tenho medo de ser morto”, questiona o iraquiano, citado pela BBC.
Treze anos depois da invasão americana, o mecânico é um dos muitos iraquianos frustrados com o rumo que o país tomou desde a guerra.
Imerso em vários conflitos, com um poder fragmentado e territorialmente ameaçado pelos terroristas do Estado Islâmico, o Iraque nunca emergiu da violência extrema em que mergulhou desde o conflito.
Caso disso foi o ataque do último domingo em Bagdade, quando um carro-bomba explodiu no centro da capital, num local repleto de jovens e de famílias que celebravam o fim do Ramadão, o mês sagrado dos islâmicos.
Os novos balanços indicam que o número de mortos subiu para 250, fazendo desse dia o mais sangrento dos últimos anos no país.
“O regime de Saddam foi implacável e assassino e levou o país a uma série de guerras desastrosas e a sanções internacionais. Mas, olhando para os últimos treze anos, o mundo que existia antes de 9 de abril de 2003 era mais calmo e seguro”, considera Jeremy Bowen, editor do Médio Oriente da BBC.
“Os iraquianos não tiveram um único dia de paz desde a queda do regime”, acrescentou.
Relatório Chilcot publicado
A história da invasão do Iraque vem à tona exatamente no mesmo dia em que uma investigação sobre a participação do Reino Unido na guerra é publicada.
Elaborada pelo político John Chilcot, a pedido do Governo britânico, a investigação concluiu que “o Reino Unido escolheu juntar-se à invasão do Iraque antes de esgotar as opções pacíficas para um desarmamento”.
“A ação militar não era, na altura, o último recurso”, disse Chilcot, acrescentando que a investigação concluiu também que os planos para a ocupação do Iraque foram “completamente desadequados”.
“Apesar das advertências explícitas, as consequências da invasão foram subestimadas. O planeamento e os preparativos para o Iraque pós-Saddam foram completamente desadequados”, disse.
No relatório, que está disponível online, lê-se ainda que Tony Blair garantiu apoio incondicional a George W. Bush, “aconteça o que acontecer”.
Mas para Al-Jabbouri, que hoje vive refugiado no Líbano, as conclusões já são claras há muito tempo.
“Bush e Blair são uns mentirosos. Destruíram o Iraque e voltamos à estaca zero. Se eu fosse criminoso, matava-os com as minhas próprias mãos”, afirma.
ZAP / BBC
Nada me admira, infelizmente parece que andamos todos de cavalo para burro e até por cá alguns vão torcendo a orelha!
Este acordou tarde 🙂
Os governantes (?) de Portugal e de outros países em 2003 que apoiaram os Estados Unidos na invasão do Iraque não estão isentos de culpa em relação ao estado de violência a que este país chegou.
Completamente de acordo… cúmplices!