Só 9% dos trabalhadores do setor privado consegue desempenhar, de forma plena, as suas funções em teletrabalho. Segundo uma estimativa de Pedro Martins, antigo Secretário de Estado do Emprego, 26% poderão fazê-lo de forma significativa.
Pedro Martins, antigo Secretário de Estado do Emprego e professor na Queen Mary University of London, no Reino Unido, estima que apenas 9% dos trabalhadores do setor privado consigam desempenhar, de forma plena, as suas funções em teletrabalho, contra 26% poderão fazê-lo de forma significativa.
Ao Jornal Económico, Pedro Martins concluiu que 54,4% dos trabalhadores tem um potencial de teletrabalho muito baixo, 10% tem um potencial baixo, 26,4% tem um potencial significativo e 9% tem um potencial elevado, numa análise sobre o potencial deste regime entre as 200 profissões que representam o maior número dos empregados.
O especialista criou quatro categorias: quando “havia uma perspetiva forte de a profissão ser desempenhada com autonomia fora da empresa, classifiquei com o valor máximo; quando entendi que era praticamente impossível desempenhar a profissão nesse contexto classifiquei com o valor mínimo; utilizei ainda duas categorias intermédias”.
Entre as profissões com potencial de teletrabalho “muito baixo” estão os trabalhadores de limpeza, empregados de mesa, vendedores em loja, empregados de armazém e motoristas de veículos pesados.
Operadores de máquinas de costura, padeiros, empregados de serviços de apoio à produção, outros trabalhadores de montagem, e diretores e gerentes de restauração encontram-se na categoria de potencial de teletrabalho “baixo”.
Nas profissões com potencial de teletrabalho “significativo” encontram-se os empregados de escritório, outros trabalhadores relacionados com vendas, diretores e gerentes de outros serviços, diretores gerais e gestores executivos, diretores e gerentes do comércio.
Por último, entre as profissões com potencial de teletrabalho “elevado” estão os contabilistas, técnicos administrativos de contabilidade, secretários administrativos e executivos, operadores de serviços financeiros e analistas em gestão e organização. Nesta contagem encontram-se apenas as cinco principais profissões de cada categoria.
O ex-Secretário de Estado do Governo de Pedro Passos Coelho sublinhou ainda “a relação positiva entre o potencial de teletrabalho e o nível de qualificação/sofisticação da profissão, sem prejuízo de várias exceções importantes”. Assim, 18% dos trabalhadores com salário mínimo ou inferior (trabalho a tempo parcial ou aprendizes) desempenham funções com potencial de teletrabalho, face a 63% para trabalhadores com dois mil euros ou mais por mês de remuneração base.
Questionado pelo Jornal Económico sobre a produtividade e o potencial de teletrabalho, o economista diz que “a relação é positiva, mas não muito acentuada, talvez por causa da diversidade de profissões dentro de cada empresa”.
Mas há muita discrepância: “por exemplo, as atividades de informação e de comunicação apresentam um indicador de potencial de teletrabalho de 88%, enquanto que o alojamento e a restauração, a agricultura, e os transportes apresentam valores abaixo de 20%”, disse.
O valor mais baixo, de 10%, encontra-se no caso do alojamento e restauração, que representa mais de 250 mil empregados.