
Os diamantes vermelhos são o quinto material mais caro do Mundo: custam 4,3 milhões de euros por grama
Quando se trata de materiais realmente preciosos, ouro, platina ou prata são baratinhos — comparados com os preços astronómicos que algumas substâncias atingem. E a substância mais cara que existe (na verdade, que anti-existe) na Terra tem o inconcebível custo de 54 biliões de euros por grama.
Era a manhã de 24 de setembro de 2023 quando uma cápsula espacial apareceu nos céus do Utah Test and Training Range do Departamento de Defesa dos EUA.
A flutuar até à Terra, sob um para-quedas, estava um único recipiente contendo 121 gramas de material da superfície de um asteroide chamado Bennu, recolhido pela missão OSIRIS-REx da NASA.
Pouco mais de um ano depois da aterragem da OSIRIS-REx, sabemos agora que as amostras de Bennu contêm compostos ricos em carbono e minerais ricos em água.
Em janeiro de 2025, os cientistas confirmaram que o asteroide tem mesmo uma variedade de matéria orgânica mais rica do que a que temos na Terra e contém todos os ingredientes que constituem o nosso ADN.
Isto indica que asteróides como o Bennu, que são vestígios de uma época muito anterior do Sistema Solar, podem ter fornecido à Terra, nos seus primórdios, os blocos químicos essenciais para a construção da vida.
No entanto, estas descobertas têm um custo. As amostras da OSIRIS-REx são atualmente uma das substâncias mais caras da Terra, com um preço extraordinário de 8,7 milhões de euros por grama.
Esta amostra não é o único material atualmente cotado a um preço exorbitante. Muitos outros materiais incrivelmente raros e caros excedem em muito o preço da amostra do asteroide.
A BBC Science Focus identificou os sete materiais mais caros do mundo — embora seja importante notar que, uma vez que muitas das substâncias listadas não são transacionadas como mercadorias comuns, as estimativas de preço podem variar muito.
Assim, tempere todos os valores abaixo indicados com uma pitadinha de sal — cerca de 0,001 euros por grama…
7. Hélio-3: 8,8 mil euros /grama
O hélio-3 é um isótopo leve do hélio, o que significa que lhe falta o segundo neutrão que se encontra nas variedades comuns do gás. É escasso na atmosfera da Terra e a maior parte provém do decaimento radioativo do isótopo de hidrogénio trítio, que também é uma substância rara.
O trítio, avaliado em cerca de 26 mil euros por grama, é utilizado em armas nucleares e em alguns tipos de reatores nucleares. Com uma semi-vida de pouco mais de 12 anos, está constantemente a produzir hélio-3, mas a produção mundial anual situa-se apenas entre 10 e 20 kg.
O isótopo é muito procurado para ferramentas de inspeção nuclear devido à sua capacidade de detetar neutrões dispersos. Pode também ser utilizado em sistemas criogénicos avançados necessários para computadores quânticos e dispositivos supercondutores.
No futuro, poderia servir como combustível limpo para reatores de fusão nuclear, mas neste caso a procura ultrapassaria claramente a oferta atual.
Pensa-se que a superfície lunar absorveu átomos de hélio-3 durante toda a sua existência de quatro mil milhões de anos, pelo que o isótopo poderia, em teoria, ser aí extraído e enviado para a Terra.
O custo de uma tal operação, combinado com o valor do isótopo no fornecimento de energia limpa ao mundo, poderia elevar o preço para quase 3 milhões de euros por grama.
6. Esmeraldas, rubis e safiras: 440 mil euros /g
Como qualquer pessoa que goste de usar coisas brilhantes sabe, estas pedras preciosas são muito apreciadas para utilização em joalharia. O seu valor deriva da sua raridade natural e da sua beleza depois de a pedra em bruto ter sido trabalhada numa joia deslumbrante por um artesão especializado.
As esmeraldas são mais raras do que os diamantes comuns, adquirindo a sua cor única devido aos elementos crómio e vanádio que se encontram no seu interior. Os rubis também adquirem a sua cor vermelha profunda devido ao crómio. As safiras são famosas por serem azuis, mas podem ter outras cores, consoante o metal presente.
Outro fator importante é o significado cultural, histórico e simbólico da pedra preciosa. Cobiçados pela realeza como emblemas de status e transformados em talismãs de amor e afeto pelo comércio de jóias, estes raros tesouros naturais são também apreciados pelos investidores.
Nos últimos anos, a painite, um mineral recentemente descoberto, conquistou o seu lugar no comércio de jóias. Encontrado apenas em Myanmar, é um mineral borato raro cujas inclusões de crómio e vanádio lhe conferem uma cor vermelha.
Não sendo (ainda) tão caro como as esmeraldas, os rubis e as safiras, o seu valor ronda os 264 mil euros por grama.
5. Diamantes vermelhos: 4,3 milhões de euros /g
O valor dos diamantes vermelhos vem da sua extrema raridade, com menos de 30 conhecidos em todo o mundo. Encontram-se apenas em algumas minas de diamantes na Austrália, no Brasil e na África do Sul, e a maior parte deles provém de um local em particular: a mina de diamantes Argyle, na Austrália Ocidental.
As operações de mineração estavam em pleno andamento em Argyle em meados da década de 1980, depois de um único tubo de minério ter sido descoberto, em 1979.
Mas, em 2020, a mina de Argyle foi encerrada pelos seus proprietários — depois de 865 milhões de quilates de diamantes brutos terem sido extraídos das rochas — porque estava a chegar à exaustão. Os diamantes vermelhos constituíam apenas uma fração cada vez menor deste total.
Os diamantes coloridos, de um modo geral, não são raros, incluindo os diamantes laranja, azuis e amarelos. Muitas vezes, isto acontece devido a impurezas sob a forma de outros elementos – como o azoto, no caso dos diamantes amarelos, e o boro, no caso dos azuis.
No entanto, o mistério por detrás da cor dos diamantes vermelhos continua por resolver, uma vez que não existem quaisquer impurezas nos mesmos.
Em vez disso, os cientistas pensam que a estrutura da rede cristalina do diamante pode, de alguma forma, ter sido distorcida durante a sua formação. Se for esse o caso, é a forma como a luz interage com o diamante que cria a cor.
A maioria dos diamantes vermelhos são pequenos, pesando menos de um quilate. O maior exemplo não foi encontrado na Austrália, mas no Brasil: pesa 13,9 quilates (2,8g) como uma pedra bruta, e 5,11 quilates (1g) quando cortado numa joia.
Agora é conhecido como o Diamante Vermelho Moussaieff, nome do joalheiro que o comprou por volta de 2001 por uma quantia não revelada.
4. Amostras do Bennu: 8,7 milhões de euros /grama
O custo das amostras trazidas pelo Bennu é calculado de forma surpreendentemente simples: dividindo o custo da missão pela quantidade de material devolvido. No caso da OSIRIS-REx, a conceção, o lançamento e a operação em si custaram cerca de 10 mil milhões de euros.
Se tudo tivesse corrido como esperado, o custo por grama teria sido cerca do dobro, porque se esperava que a missão apenas capturasse cerca de 60g. Mas com um total de 121 g de asteroide, a amostra revelou-se menos escassa – e, por conseguinte, menos valiosa.
Uma missão anterior de retorno de amostras de asteróides, a Hyabusa-2 do Japão, entregou amostras do asteroide Ryugu em 2020. Com base num método de cálculo semelhante, estas amostras custaram cerca de 9,7 milhões de euros por grama.
Embora só tenha devolvido uns escassos 5g, a missão foi mais barata do que a OSIRIS-REx — tornando o conteúdo cósmico do Ryugu menos desejável.
3. Califórnio-252: 23 milhões de euros /grama
O califórnio-252 (Cf-252) é um isótopo radioativo que não se encontra na natureza e só pode ser produzido em reatores nucleares ou aceleradores de partículas. Como sugere o seu nome, foi produzido pela primeira vez no laboratório de radiação da Universidade da Califórnia, em 1950.
O valor do califórnio-252 advém do facto de ser uma fonte colossal de neutrões. Um único micrograma do isótopo pode produzir cerca de 139 milhões de neutrões por minuto.
Isto torna-o altamente letal, mas crucial para certas aplicações. Uma delas é nos reatores nucleares, onde o isótopo é utilizado para dar início às reações em cadeia que produzem energia.
Outra das suas utilizações críticas é na medicina, especificamente como parte de tratamentos contra o cancro. O facto de os neutrões do Cf-252 serem letais para as células vivas significa que podem ser altamente eficazes em terapias de radiação bem direcionadas contra as células cancerígenas. É por isso que, apesar do seu elevado custo, o Cf-252 está disponível comercialmente.
2. Fulerenos endoédricos à base de átomos de azoto: 122 milhões de euros /grama
Os metamateriais são substâncias artificiais com propriedades que são raras ou que não se encontram de todo na natureza. Um exemplo são os nanotubos de carbono — estruturas cilíndricas minúsculas que podem ter apenas alguns nanómetros (um bilionésimo de metro) de largura.
No entanto, apesar da sua complexidade, são atualmente muito utilizados na eletrónica e na criação de materiais fortes e leves, especialmente na engenharia aeroespacial.
Em termos relativos, são muito baratos, custando cerca de 440 euros por grama, mas na vanguarda da disciplina as coisas são muito diferentes.
Em 2016, cientistas da Designer Carbon Materials, uma empresa com ligações à Universidade de Oxford, criaram uma nova substânciaà base de átomos de azoto, chamada fulereno endoédrico, que foi recentemente vendida pelo equivalente a 122 milhões de euros por grama.
Um fulereno é uma molécula que contém 60 átomos de carbono dispostos numa estrutura fechada que se assemelha a uma bola de futebol com painéis pentagonais e hexagonais.
Esta semelhança levou a que este fulereno fosse apelidado de “buckyballs” após a sua primeira geração num laboratório na década de 1980.
Com efeito, os átomos de carbono formam uma estrutura semelhante a uma gaiola que a Designer Carbon Materials pensou inteligentemente para prender um átomo de azoto no seu interior.
O azoto é especial porque o campo magnético gerado pelo núcleo do átomo interage com o gerado pelos seus eletrões. Isto faz com que os eletrões transitem entre níveis de energia, produzindo o equivalente a um “tique” num relógio.
Assim, em princípio, o fulereno endoédrico à base de átomos de azoto poderia ser utilizado para criar minúsculos relógios atómicos — que, entre outras coisas, são a própria base da navegação por satélite.
Atualmente, os relógios atómicos dos satélites de navegação são do tamanho de caixas de sapatos. Mas a utilização deste fulereno específico poderia fazê-los caber dentro de um telemóvel.
1. Antimatéria: 54 biliões de euros /grama
Bem conhecida dos fãs de ficção científica como a fonte de energia que mantém a nave estelar USS Enterprise, do Star Trek, a navegar à velocidade warp, a antimatéria foi teorizada pelo matemático inglês Paul Dirac em 1928 e descoberta na realidade por Carl Anderson em 1932.
Quando a antimatéria e a matéria entram em contacto, aniquilam-se mutuamente e convertem-se em energia pura. De facto, este processo é a forma mais eficiente conhecida de libertar energia no Universo.
Usar antimatéria como fonte de combustível revolucionaria tudo. Resolveria as necessidades energéticas na Terra e forneceria tanta energia que poderia viabilizar as viagens interestelares, impulsionando naves espaciais a uma velocidade sem precedentes (mesmo que o warp drive continue a ser um produto da imaginação).
A razão para o seu custo astronómico deriva da forma como é fabricada. Atualmente, a antimatéria tem de ser fabricada artificialmente em aceleradores de partículas como o Grande Colisor de Hadrões (LHC) do CERN, localizado no subsolo ao longo da fronteira franco-suíça.
A antimatéria produzida pelo LHC é um subproduto das suas experiências que exploram a natureza da matéria. Por outras palavras: os cientistas não a estão a cultivar, enquanto tal.
Para a recolher, seria necessário utilizar “garrafas” magnéticas complexas, também conhecidas como armadilhas de Penning, que impedem que a antimatéria toque nas paredes do contentor e provoque uma explosão.
Mesmo que isso fosse possível, o custo da produção de antimatéria é verdadeiramente astronómico. O LHC custou cerca de 5 biliões de euros só para ser construído, e o seu funcionamento ronda os 890 mil euros por ano. Todos os anos, produz menos de um nanograma de antimatéria.
Assim, a menos que haja um avanço tecnológico milagroso, a antimatéria continuará a ser uma substância tentadora, mas esquiva — e a mais cara do planeta.