100 dias de presidência imperial de Donald Trump II

4

The White House

Os primeiros 100 dias do segundo mandato presidencial de Donald Trump foram marcados por medidas controversas, movimentos inesperados, e um número sem precedentes de ordens executivas e decisões polémicas.

Na terça-feira assinalam-se os 100 dias do segundo mandato de Donald Trump — um marco no início dos mandatos presidenciais, em que tradicionalmente, na política norte-americana, o progresso de um presidente é medido em relação às promessas de campanha.

Na comparação entre os dois mandatos de Trump, os analistas consideram que o republicano está mais bem preparado neste segundo mandato — e disposto a tomar medidas mais drásticas em praticamente em todas as áreas de atuação, muitas delas sem comparação na história do país.

Entre a deportação de ativistas e imigrantes, uma guerra comercial com a imposição de tarifas alfandegárias a quase todos os parceiros comerciais, e batalhas com o poder judicial, há críticos que defendem que Trump está a encaminhar os Estados Unidos para “uma autocracia” ou uma “presidência imperial”.

Outros consideram que Donald  Trump está apenas a dar corpo às ideias e promessas que lançou durante a campanha — sufragadas pelos eleitores que o tornaram o 47.º Presidente dos Estados Unidos.

Faltam 1370 dias para o fim do segundo mandato de Donald Trump. Abaixo, deixamos-lhe uma radiografia tirada pela Lusa aos números e pontos essenciais que marcaram os primeiros 100.

Diplomacia de choque

Os Estados Unidos ajudaram a fundar a ONU, depois da Segunda Guerra Mundial para prevenir futuros conflitos globais e promover a paz e a segurança internacionais.

Contudo, isso não impediu Donald Trump de retirar o país de alguns dos organismos das Nações Unidas, como a Organização Mundial da Saúde ou o Conselho de Direitos Humanos.

Também suspendeu todo o financiamento à agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) e adiantou que ia rever o envolvimento na UNESCO,  Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Além disso, abandonou ou cortou o financiamento a acordos multilaterais em questões que vão da saúde aos direitos humanos.

Ainda no universo da diplomacia, Trump causou choque internacional ao rebatizar o Golfo do México como “Golfo da América”, ao prometer assumir o controlo do Canal do Panamá ou ao admitir a possibilidade de recorrer à força militar ou à coerção económica para assumir o controlo da Gronelândia.

Insistiu na intenção de anexar o Canadá, referindo-se ao ex-primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau como governador e ao país como “o 51.º estado” norte-americano.

Ainda em matéria de movimentos diplomáticos inesperados, Trump apressou-se a tentar normalizar as relações com a Rússia, apesar da guerra contra a Ucrânia ainda em curso.

Conflitos

No início de fevereiro, Trump sugeriu que os EUA deviam assumir o controlo da Faixa de Gaza, enclave destruído pela guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, para reconstruir e transformar na “Riviera do Médio Oriente”.

Desde então, para choque de parte da comunidade internacional, tem insistido que os habitantes de Gaza deviam ser transferidos permanentemente para países como Egito e a Jordânia.

Em relação à guerra na Ucrânia, têm sido evidentes as dificuldades de Trump em cumprir a promessa de uma resolução rápida do conflito.

Segundo analistas, Trump, ao contrário do antecessor Joe Biden, tem delineado uma solução que favorece amplamente a Rússia, antecipando a possibilidade de cedência a Moscovo de territórios ucranianos ou a rejeição da adesão da Ucrânia à NATO.

Enquanto a nova administração norte-americana se tem focado em relações pessoais e eventos isolados para tentar encerrar esta guerra, ficará para a história a tensa reunião no Sala Oval da Casa Branca entre Trump e o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, no final de fevereiro.

Na ocasião, o chefe de Estado norte-americano e o vice-Presidente, JD Vance, criticaram severamente Zelensky e acusarem-no de não contribuir para um plano de paz com o Presidente russo, Vladimir Putin.

Justiça

Vários especialistas em Direito Constitucional consideraram que Trump está a realizar um “ataque sem precedentes” ao sistema judicial do país, colocando em risco o Estado de Direito.

Os tribunais federais estão atualmente a julgar mais de uma centena de ações judiciais contra as medidas do Presidente, muitas delas relacionadas com a imigração.

Desde que as políticas de Trump começaram a enfrentar barreiras legais, os assessores e apoiantes do Presidente entraram numa cruzada contra juízes e escritórios de advogados, questionando diariamente a legitimidade do sistema judicial norte-americano.

Em março, o Presidente ameaçou tomar medidas contra advogados e equipas jurídicas que apresentem ações judiciais contra as medidas migratórias do Governo, resultando num clima de intimidação.

Além dos ataques ao sistema judicial, Donald Trump tem fomentado rumores de uma possível candidatura a um terceiro mandato presidencial, o que seria uma clara violação da Constituição, que prevê um máximo de dois.

Educação, Cultura e Ciência

Trump “cortou o financiamento da investigação e interrompeu grandes áreas de ciência financiadas pelo Governo federal como parte de uma iniciativa de corte de despesas liderada pelo bilionário Elon Musk“, alertou a revista científica Nature, que aponta que 75% dos cientistas ponderam agora abandonar o país.

A Casa Branca tenciona também reduzir em 50% o orçamento da NASA, a icónica agência espacial norte-americana, e anunciou o corte de milhares de milhões de dólares em financiamento para universidades de todo o país que não alinharam com as amplas reformas governamentais exigidas pelo executivo.

Além disso, baniu de alguns espaços federais uma série de livros que promovem diversidade, equidade e inclusão, incluindo obras sobre Holocausto, feminismo, direitos cívicos e racismo, assim como a famosa autobiografia da escritora e poetisa norte-americana Maya Angelou.

A medida marca mais um passo no amplo esforço do Governo Trump para eliminar o chamado conteúdo ‘DEI’ (Diversidade, equidade e inclusão) das agências federais.

 

Imigração

Trump prometeu a maior deportação em massa da história norte-americana. Desde que tomou posse, esse plano tem sido colocado em marcha, mas não ao ritmo que o atual executivo antevia.

O Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) deportou pouco mais de 12.300 imigrantes entre 1 e 28 de março, um pouco abaixo das 12.700 pessoas deportadas no mesmo período do ano passado, segundo dados obtidos pela cadeia NBC News.

Nesse sentido, o Governo tem aumentado a pressão sobre os imigrantes para que deixem voluntariamente os Estados Unidos, além de ter chegado a um acordo com o Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, para enviar os imigrantes detidos nos EUA para esse país da América Central.

Os EUA também já revogaram vistos a centenas de estudantes universitários por protestos contra a guerra em Gaza.

103 ordens executivas assinadas

Donald Trump assinou ordens executivas a um ritmo sem precedentes na história moderna norte-americana. Uma grande parte está relacionada com reduções no Governo federal.

Ordens executivas são diretivas presidenciais que não exigem aprovação do Congresso e têm força de lei se o tópico da ordem estiver sob a autoridade constitucional do chefe de Estado.

Algumas destas ordens, incluindo para acabar com a cidadania por direito de nascimento ou congelar a maioria da ajuda externa norte-americana, foram suspensas por juízes devido a possível abuso do poder executivo.

Trump fez também um grande uso deste poder para desregulamentar o uso de combustíveis fósseis, travar a imigração ou, em grande número, para ajustar tarifas sobre importações.

5 projetos de lei aprovados

Trump ratificou apenas cinco projetos de lei até agora: três resoluções da Lei de Revisão do Congresso, que anulam regulamentações do ex-presidente Joe Biden, a Lei Laken Riley, que determina a detenção de imigrantes ilegais acusados de crimes graves, e um projeto de lei de financiamento provisório necessário para evitar uma paralisação do Governo no mês passado.

Pela primeira vez desde 2017, o Partido Republicano controla a Casa Branca e as duas casas do Congresso, o que, teoricamente, abriria caminho para uma série de possíveis vitórias legislativas.

No primeiro mandato, Trump já tinha ratificado 24 projetos de lei até meados de abril. Neste segundo mandato, está a governar por Ordem Executiva.

97 ordens de Joe Biden revertidas

“Em apenas dois meses”, Trump revogou mais ações executivas do que o número total de ordens executivas que Biden assinou no primeiro ano de mandato, anunciou a Casa Branca no mês passado.

A Presidência norte-americana justificou essa revogação como uma medida necessária “para acabar com a ideologia radical, eliminar regulamentações desnecessárias e priorizar os interesses dos cidadãos americanos”, inaugurando assim uma “nova era de ouro para os Estados Unidos”.

As revogações abrangeram desde regulamentações destinadas a reduzir os custos de assistência médica até às proteções contra discriminação de género, passando por ordens executivas relacionadas às mudanças climáticas.

Taxa de aprovação: 45%

Donald Trump termina o primeiro trimestre do segundo mandato com uma taxa média de aprovação de 45%, superior aos 41% obtidos no primeiro mandato, “mas bem abaixo de todos os outros Presidentes eleitos nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial”, indica uma sondagem da Gallup, empresa norte-americana de pesquisa de opinião.

Em termos de comparação, Joe Biden teve 53% de aprovação no primeiro trimestre na Casa Branca. A taxa média do primeiro trimestre para todos os Presidentes eleitos de 1952 a 2020 é de 60%.

A taxa de aprovação de apenas 41% no início do primeiro mandato, no entanto, não impediu Donald Trump de ser eleito para um segundo em 2024.

Desemprego: 4,2%

Em março, o mercado de trabalho dos Estados Unidos permaneceu sólido, com 228.000 postos de trabalho criados, acima dos 117.000 em fevereiro e melhor que a estimativa dos analistas de 140.000 empregos, indicou o Departamento de Estatísticas do Trabalho.

Contudo, a taxa de desemprego subiu para 4,2%, acima da previsão de 4,1%, uma vez que a taxa de participação na força de trabalho também aumentou.

Porém, um cenário de grande incerteza instalou-se no país, depois das tarifas alfandegárias anunciadas por Trump no início do mês, o que fez intensificar os temores de que uma guerra comercial global possa prejudicar o crescimento económico norte-americano e afetar vários indicadores económicos do país.

47.928 imigrantes em centros de detenção

Os EUA têm em marcha um plano para executar “a maior deportação em massa da história”, prometeu Donald Trump.

Uma das etapas do processo passa pela detenção de alguns desses imigrantes e pelo encaminhamento para centros de detenção do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), onde aguardam pela eventual deportação.

A NBC News contou, até 16 de abril, 47.928 imigrantes detidos em instalações do ICE. Desse total, 30,5% tinham condenações penais, 23,1% acusações criminais pendentes, 46,4% violaram as leis de imigração do país, mas não tem qualquer condenação criminal ou acusações criminais pendentes registadas, e 10,4% foram encaminhados para deportação rápida.

O número de deportados não é divulgado regularmente ao público. Contudo, segundo a NBC News, o ICE deportou cerca de 11.000 migrantes em fevereiro e mais de 12.300 em março.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Trump é ruim? Pode até ser, mas venham ver como está o Brasil de Lula – que, aliás, nem deve estar no Brasil, uma vez que ele e sua comitiva de 300 “amigos públicos” passa 1/3 do tempo do mandato viajando pelo mundo e torrando erário público a troco de nada…
    Direita é ruim, esquerda é ruim… Isso quer dizer que a democracia é ruim? Não é de se duvidar…

    1
    1
    • Crescimento do PIB de 3,4% em 2024, menor taxa de desemprego (6,1%) da série histórica da PNAD Contínua desde 2012., isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5000 por mês, 8,7 milhões de pessoas deixaram a pobreza, atingindo o menor nível desde 2012, busca do desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa. Apoio à agricultura de baixo carbono e à agricultura familiar. Combate ao garimpo ilegal. Fortalecimento do SUS, com investimento na vacinação e em telemedicina. E o mais importante: Preservar o estado democrático de direito e as instituições de estado do Brasil. Chora mais, aceita que dói menos.

      • Incrível. É só falar mal desse tal desse presidiário chamado Lula que sempre aparece um esquerdista desesperado mostrando “tudo o que ele fez de bom”. Podia aproveitar pra ser um pouco menos puxa-saco, pesquisar um pouco mais e mostrar também o que ele fez de ruim, né? Inclusive é fácil até de achar as falhas e distorções nesse texto aí, que deve ter sido copiado e colado direto da cartilha pró-governo, com índices contrários que servem para colocar por terra a maior parte dessas supostas “realizações”. Inflação de 2024 (4,83%) maior que o PIB, recorde de incêndios na Amazônia e Pantanal, perda de poder aquisitivo, perseguições semelhantes às da ditadura militar com pretexto de “preservar o estado democrático de direito (do PT) e as instituições (petistas)”, etc. Enfim… já vi esse tipo de discussão antes e sei que vai ter mais uma infinidade de réplicas que não vão levar a nada. É quase como discutir que Deus é uma alucinação coletiva com um crente. Muitos argumentos, muitas ‘verdades’ de ambos os lados, perda de tempo e o dinheiro no nosso bolso indo parar todo na mão do governo corrupto. Encerro aqui.

  2. A uma coisa muito curiosa que a esquerda gosta de criticar a administração de Trump relativamente ao protesionismo e no Brasil que tem a mesma política de proteção da indústria local e é governado pela esquerda aí ninguém critica.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.