NASA

Voo inaugural do vaivém espacial Challenger, 4 de abril de 1983
“É a evisceração da NASA”. A versão preliminar da proposta de orçamento de Donald Trump, conhecida como passback, reduz para quase metade o financiamento da agência espacial. A proposta, que “mergulha a NASA na idade das trevas”, lançou a revolta na comunidade científica norte-americana.
O orçamento científico da NASA poderá ser cortado quase para metade, segundo uma versão preliminar da proposta de orçamento do Presidente Donald Trump ao Congresso.
A medida cancelaria missões em curso e futuras, no valor de milhares de milhões de dólares, de acordo com fontes com conhecimento do plano da administração citadas pelo The Washington Post.
O plano de orçamento, enviado à NASA pelo Gabinete de Gestão e Orçamento, daria à Direção da Missão Científica da NASA 3,9 mil milhões de dólares, abaixo do seu orçamento atual de cerca de 7,3 mil milhões de dólares,
A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário do Post.
“A NASA recebeu o passback do orçamento do ano fiscal de 2026 do Escritório de Gestão e Orçamento e iniciou o processo deliberativo, disse a secretária de imprensa da NASA, Bethany Stevens, numa breve declaração.
Evento de Nível de Extinção
A proposta de orçamento, embora ainda não tenha sido formalmente apresentada ao Congresso, evisceraria uma longa lista de missões planetárias e astronómicas, incluindo o próximo grande telescópio espacial da NASA e o objetivo da agência de trazer amostras de Marte para a Terra para procurar sinais de vida antiga.
O orçamento da NASA para a astrofísica sofreria um grande golpe, passando de cerca de 1,5 mil milhões de dólares para 487 milhões de dólares. As ciências planetárias sofreriam uma redução de 2,7 mil milhões de dólares para 1,9 mil milhões de dólares. As ciências da Terra desceriam de cerca de 2,2 mil milhões de dólares para 1,033 mil milhões de dólares.
A notícia foi divulgada na semana em que o multimilionário Jared Isaacman, que o escolhido por Donald Trump para ser o próximo administrador da NASA, esteve em uma audiência no Senado, apesar de ainda não ter sido confirmado no cargo.
“Este é um Evento de Nível de Extinção para a ciência da NASA”, afirmou Casey Dreier, responsável de política espacial do grupo de defesa do espaço Planetary Society.
O orçamento “acaba desnecessariamente com missões científicas funcionais e produtivas e cancela novas missões atualmente em construção, desperdiçando milhares de milhões de dólares dos contribuintes no processo. Isto não é eficiente nem uma orçamentação inteligente”, diz Dreier.
“Há dias, o responsável nomeado pela Administração para dirigir a NASA apelou a uma nova idade de ouro da ciência e das descobertas na agência. Em vez disso, a proposta de orçamento da Casa Branca mergulha a NASA numa era de trevas“, lê-se no comunicado da Planetary Society.
Segundo o Post, os telescópios espaciais Hubble e Webb, célebres pela sua longa lista de descobertas e pelas imagens deslumbrantes do universo, continuariam a ser apoiados pela proposta. No entanto, nenhum outro telescópio seria financiado.
Comer o milho das sementes
O projeto de orçamento, conhecido como passback, é um passo no processo pelo qual o presidente envia ao Congresso um pedido de orçamento para o ano fiscal de 2026. O Congresso tem o poder de salvar os programas que a Casa Branca pretende eliminar.
“Se prosseguirem com este tipo de selvajaria, a NASA vai cair num poço muito fundo”, afirmou numa entrevista Bill Nelson, administrador da NASA durante o mandato do Presidente Joe Biden. “Se destruirmos a ciência da NASA, estaremos a destruir todo o nosso programa de exploração e isso afetará também o programa de exploração humana.”
“Seria uma perda enorme para o nosso país, porque o que os homens e mulheres da Goddard fazem é a base de tudo o que fazemos no espaço”, disse o senador Chris Van Hollen (D-Maryland) ao The Washington Post. Ele disse que a delegação de Maryland vai reagir.
“Penso que haverá uma forte resistência de ambos os partidos no Congresso ao corte de missões que são a base do nosso programa espacial”, afirmou o senador democrata Chris Van Hollen ao The Washington Post.
“Isto é como comer o milho das sementes, e terá impactos muito prejudiciais no nosso programa espacial, nos programas de segurança nacional, e prejudicará a nossa liderança na área da inovação técnica e da investigação científica”, acrescentou o senador.
Musk (muito) preocupado
A NASA ainda não tem um administrador confirmado. O nomeado de Trump, o empresário bilionário Jared Isaacman, compareceu na quarta-feira perante a Comissão de Comércio, Espaço e Transporte do Senado.
A maior parte das perguntas dos membros da comissão centraram-se nas ambições da NASA em termos de voos espaciais tripulados e na questão de saber se Isaacman apoiaria a missão lunar Artemis, tal como atualmente prevista.
A missão inclui várias aterragens e uma presença humana permanente na Lua, usando foguetões e naves espaciais da NASA, bem como veículos de aterragem construídos pela SpaceX e pela Blue Origin de Jeff Bezos.
Isaacman disse que apoiava a missão lunar e prometeu que esta poderia ser realizada em paralelo com as missões a Marte — mas que, disse a certa altura, deveriam ser prioritárias.
Marte é o destino preferido de Donald Trump e Elon Musk, o fundador da SpaceX, que há muito sonha com a criação de uma civilização humana no Planeta Vermelho. Recentemente, Musk afirmou que a SpaceX vai levar humanos a Marte dentro de 4 anos.
Entretanto, Musk já reagiu à notícia dos cortes no financiamento da NASA, que considerou “muito preocupantes” — no que é o mais recente sinal da rutura entre Donald Trump e o até há pouco tempo seu conselheiro.
Segundo o Politico, os comentários de Musk marcam a segunda grande cisão pública com Trump em áreas que afetam as empresas do empresário, numa altura em que há rumores de que Musk irá em breve afastar-se do seu papel no famigerado DOGE, o Departamento de Eficiência Governamental que montou para Trump — precisamente para realizar cortes brutais no orçamentos federais.
O CEO da Tesla e SpaceX começou recentemente a divergir da linha política de Trump sobre as tarifas, e criticou repetidamente Peter Navarro, o conselheiro económico que inventou um economista e um dos rostos públicos da estratégia comercial da administração Trump.
Depois de ter sido um dos mais poderosos e eficazes apoiantes de Donald Trump na sua campanha presidencial, Elon Musk parece agora cada vez mais afastado do presidente norte-americano — a que não será alheia a queda abrupta das ações da Tesla e o facto de a SpaceX ser um dos principais fornecedores da NASA.
Armando Batista, ZAP // Lusa
Dados os milhares de milhões de dólares literalmente queimados pela NASA anualmente, estando os EUA numa situação financeira caótica, devido ao despesismo ridículo da administração anterior, há que cortar onde não faça falta. O Trump foi eleito para fazer TUDO aquilo que está a fazer. Por muito difícil que seja, quer tenha a ver como imigração ilegal, tarifas ou outros! Se estivesse lá para ser popular não o faria de certeza.
Investir em tecnologia espacial não é queimar dinheiro.
1. As imagens térmicas infravermelhas, desenvolvidas para monitorar espaçonaves e detetar falhas em equipamentos, são hoje utilizadas para localizar de tumores precocemente.
2. A tecnologia de processamento de imagem, utilizadas nos satélites, foi adaptada para mamografias digitais, ressonâncias magnéticas e tomografias computorizadas.
3. Os biossensores espaciais, usados pelos astronautas, são utilizados para monitorizar remotamente de pacientes com câncer.
4. A tecnologia de microgravidade para cultura celular permitiram estudar o cancro de forma mais pura, sem interferências da gravidade, possibilitando novos estudos de medicamentos e terapias.
5. A Radioterapia com controle de precisão, usada para alinhar antenas de satélites, hoje é usada em radioterapia de alta precisão, como a protonterapia, que concentra radiação no tumor sem danificar tecidos ao redor.
Investir em tecnologia espacial é investir em qualidade de vida.
Seja a ser uma ironia que alguém utilize um computador/telemóvel para fazer esse tipo de comentário.
Afinal, foi graças a corrida espacial que a NASA e outras agências começaram a investir fortemente no desenvolvimento de computadores menores e mais potentes.
Tudo o que sair do orçamento da Nasa (cortes arquitetados por Elon Musk) vai direitinho para a Space X, e todo progresso alcançado pela Space X com dinheiros públicos fica fechado a sete chaves. É assim que a direita faz malabarismo. É uma vergonha.
Trump e a sua seita MAGA não percebem nem querem saber de ciência, a não ser quando possam ganhar algum. O seu irracional desprezo pelo ambiente e clima é só um dos indicadores disso. Portanto, a Europa (e outros) tem uma boa oportunidade de convidar os cientistas americanos (e não só) desempregados e desiludidos a mudarem-se para cá. Seria bom para a Europa.
À boa maneira da NASA, vamos lá ser científicos e rigorosos… Os dados disponíveis indicam que Trump simplesmente não gosta de “NA`s”, por isso é que quer acabar com a NAsa e quer acabar com NAto. Uns dizem que é uma alergia, outros defendem que se trata de intolerância, enfim, ainda não se sabe ao certo, mas há quem diga que advém do facto de muita gente o acusar de não saber NAda.