Guerra comercial com Canadá e México, a Cisjordânia, a guerra na Ucrânia, o perdão aos invasores do Capitólio. Diversas ordens assinadas.
Nas primeiras horas depois da tomada de posse, Donald Trump já assinou diversas ordens executivas, algumas delas relevantes a nível internacional.
Uma delas é a retirada dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS), um organismo que Trump tinha criticado duramente pela forma como lidou com a pandemia.
“A OMS defraudou-nos”, acusou na segunda-feira o republicano, ao assinar o decreto, justificando a retirada com a diferença entre as contribuições financeiras dos Estados Unidos e da China para a organização.
No texto, Trump pede que as agências federais “suspendam a futura transferência de quaisquer fundos, apoios ou recursos do governo dos EUA para a OMS” e orienta-as para “identificar parceiros norte-americanos e internacionais de confiança” capazes de “assumir as atividades anteriormente realizadas pela OMS”.
Os Estados Unidos são o principal doador e parceiro da OMS, uma organização da ONU sediada em Genebra, na Suíça.
De acordo com a OMS, os EUA contribuem para o financiamento da instituição através de uma contribuição indexada ao seu Produto Interno Bruto, mas também através de contribuições voluntárias.
A saída dos Estados Unidos poderá obrigar a OMS uma grande reestruturação e prejudicar os esforços globais de saúde pública, incluindo a vigilância e a resposta a surtos.
Acordo de Paris
O novo presidente também uma ordem executiva para retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris – tal como tinha acontecido no seu primeiro mandato.
A medida, que foi uma das suas principais promessas durante a última campanha eleitoral, visa dar prioridade aos interesses nacionais dos Estados Unidos, em detrimento dos acordos internacionais, nomeadamente no que diz respeito às políticas climáticas que Trump considera prejudiciais para a economia norte-americana.
Os EUA são o maior emissor de gases com efeito de estufa. Mas Trump tem repetido que vai apostar nos combustíveis fósseis: “Dril baby, dril” (Perfura querida, perfura), disse o presidente.
A China está preocupada. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Guo Jiakun, sublinhou: “As alterações climáticas são um desafio comum a toda a humanidade e nenhum país pode atuar sozinho para seu próprio benefício”.
Guerra comercial
Donald Trump abriu a frente de uma guerra comercial, confirmando a intenção de impor tarifas de 25% sobre os produtos do Canadá e México, a partir de 1 de fevereiro.
“Estamos a considerar (tarifas) na ordem dos 25% sobre o México e o Canadá, porque eles deixam muita gente (…) entrar (nos Estados Unidos), e muito fentanil também”, disse o novo presidente na Casa Branca, na segunda-feira, poucas horas depois da sua tomada de posse.
O fentanil é um narcótico altamente viciante.
Trump acrescentou ainda que as sobretaxas poderão entrar em vigor a 1 de fevereiro.
O republicano anunciou durante a campanha a intenção de introduzir rapidamente direitos aduaneiros de 25% sobre todos os produtos provenientes do México e do Canadá, se estes países não travassem o fluxo de droga e de imigrantes ilegais para os Estados Unidos.
No entanto, os dois países vizinhos dos Estados Unidos estão teoricamente protegidos por um acordo de comércio livre, assinado durante o primeiro mandato de Trump, que este apresentou na altura como o “melhor possível”.
Cisjordânia
Acabou com as sanções dos EUA contra colonos da Cisjordânia. Revogou uma ordem executiva emitida pelo antecessor, Joe Biden, que punia os colonos israelitas acusados de violência contra os palestinianos na Cisjordânia ocupada, anunciou a Casa Branca.
Mal tomou posse na segunda-feira, o Presidente republicano anulou o texto adotado em fevereiro de 2024, que tinha sido a condição prévia para a aplicação de sanções financeiras a vários colonos, incluindo um indivíduo acusado de instigar um motim na cidade palestiniana de Huwara, a sul de Nablus, que levou à morte de um civil palestiniano.
O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, agradeceu: “Senhor Presidente [Donald Trump], o apoio inabalável e intransigente ao Estado de Israel é uma prova da sua intensa relação com o povo judeu e do nosso direito histórico à nossa terra”.
Guerra na Ucrânia
O novo Presidente dos Estados Unidos convocou pela primeira vez Vladimir Putin para encontrar um acordo de paz com a Ucrânia, sob pena de a Rússia correr o risco de ser destruída.
Ao regressar à Sala Oval para assinar uma série de ordens executivas, Donald Trump reafirmou que “tinha de falar com o Presidente Putin (…), que ficará muito feliz por pôr fim a esta guerra”.
Pela primeira vez, no entanto, Trump pressionou claramente Putin a encontrar uma solução para a guerra, ao considerar que a Rússia estará a caminhar para o desastre se se recusar a negociar e a selar um cessar-fogo ou um acordo de paz com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“Zelensky quer fazer um acordo. Não sei se Putin o quer, se calhar não quer. [Mas] devia. Acho que ele está a destruir a Rússia ao não encontrar um acordo”, disse Donald Trump.
Presidente entre 2017 e 2021, Trump denunciou repetidamente ao longo da sua campanha para o regresso à Casa Branca as dezenas de milhares de milhões de dólares de ajuda militar e económica dadas a Kiev pela administração de Joe Biden.
“A Rússia está a caminhar para grandes problemas. Vejam a economia, vejam a inflação”, disse o novo Presidente aos jornalistas na Sala Oval, salientando que Moscovo tinha previsto, em fevereiro de 2022, que “a guerra acabaria numa semana e já lá vão três anos”.
“Eu dou-me muito bem com ele [Putin] e espero que ele queira chegar a um acordo”, concluiu o antigo empresário, adepto da diplomacia transacional.
Perdão aos invasores
A nível interno, o novo Presidente dos EUA assinou um decreto a perdoar as cerca de 1.500 de pessoas condenadas pelo ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio.
O decreto surgiu pouco depois do republicano ter anunciado que iria exercer o seu poder de indulto logo no primeiro dia em funções, tal como tinha prometido durante a sua campanha eleitoral.
“Isto é para 6 de janeiro, para os reféns, cerca de 1.500 pessoas que serão completamente perdoadas”, disse Trump, ao assinar o decreto na Sala Oval da Casa Branca, acrescentando que o perdão irá incluir comutações de penas.
A decisão surgiu horas depois de cerca de 50 membros da organização ultranacionalista ‘Proud Boys’ terem marchado pelas ruas de Washington exigindo a Trump o perdão dos seus membros presos devido ao ataque contra o Capitólio.
A marcha passou pelas ruas próximas à Casa Branca enquanto Trump tomava posse.
O grupo marchou escoltado pela polícia, que manteve os ‘Proud Boys’ separados dos manifestantes espontâneos ‘anti-Trump’, que os confrontaram verbalmente.
Os ‘Proud Boys’ foram um dos grupos que instigaram o ataque ao Capitólio em 2021 e vários dos seus membros, incluindo o seu líder Enrique Tarrio, foram posteriormente presos.
A lista dos abrangidos pelo perdão presidencial não foi divulgada até ao momento.
ZAP // Lusa