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Zita Seabra “não cede nem um milímetro a ameaças” da Global Notícias

aletheia.pt

A editora Zita Seabra

A editora Zita Seabra

“A Aletheia recebeu hoje uma carta registada com aviso de receção da Global Notícias”, com “ameaças, exigindo a retirada do livro”, disse à Lusa Zita Seabra, editora da Aletheia, que publica o livro “Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícias” do historiador Pedro Marques Gomes.

“A posição da editora é muito simples: isto trata-se de um abuso porque nós defendemos a liberdade, a liberdade de imprensa, e não cedemos nem um milímetro”, afirmou Zita Seabra, que acrescentou que o trabalho vai ser lançado na quinta-feira.

A carta da Global Notícias solicita à editora que cesse de “imediato” a promoção, o lançamento e a distribuição do livro “Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícas”, com a capa que tem vindo a ser publicitada e que deve ser evitada qualquer outra atividade promocional ou publicitária que implique a utilização da mesma capa.

“A signatária [Global Notícias] reserva-se o direito de recorrer, se necessário, a todos os meios judiciais e extrajudiciais disponíveis, nomeadamente através da instauração dos competentes procedimentos judiciais (cautelares ou não) necessários à defesa dos seus direitos de autor e à reparação integral dos prejuízos que para si advenham”, refere a carta que foi enviada pela Global Notícias à editora Aletheia.

Zita Seabra explica que os fundamentos da Global Notícias estão relacionados com a capa do livro, que reproduz uma página do Diário de Notícias no dia do plenário em que os saneamentos aconteceram.

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Convite para o lançamento do livro "Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícias"

Convite para o lançamento do livro “Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícias”

“É uma capa de 1975 e mal de nós se não pudermos usar o que faz parte da História portuguesa. É uma investigação séria, de um académico que fez uma tese de mestrado sobre este tema, e este tema não é para reescrever. A História contemporânea é para respeitar e para investigar, e é isso que o livro faz. E nisso a Aletheia não cede”, sublinha Zita Seabra acrescentando que estranha a expressão “extrajudicial”, utilizada pela Global Notícias, no contexto da missiva.

“Nunca vi tal expressão, acho extremamente curiosa. Do nosso lado achamos que vivemos num país livre em que os livros são livres, os autores têm liberdade para escrever e em que não há censura de forma nenhuma que nos impeça de publicar uma interessante investigação histórica”, refere a editora.

“O livro vai sair amanhã e vai ser apresentado amanhã, porque esta ameaça a recursos sobre ‘todos os meios judiciários e extra-judiciários’ não nos amedronta”, conclui Zita Seabra.

Em nenhum momento a Global Notícias se refere ao conteúdo da investigação, mas apenas à capa do livro – uma montagem com reproduções do Diário de Notícias – e que já se encontra nas livrarias com uma cinta a verde oliva, com uma fotografia do escritor José Saramago (diretor adjunto do DN em 1975), com a frase “Como José Saramago saneou e acabou despedido”.

O livro, “Saneamentos Políticos no Diário de Notícias”, entre outros aspetos, identifica José Saramago como o “iniciador” do processo de afastamento de jornalistas no Verão Quente de 1975.

O investigador Pedro Marques Gomes, autor do livro “Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícias”, disse à Lusa que José Saramago foi o “iniciador” do processo que levou ao afastamento dos jornalistas do matutino, em 1975.

“Passadas quase quatro décadas sobre o ‘Verão Quente’ de 1975, são muitos os jornalistas que descrevem o ambiente então vivido no DN como tenso. É o caso de Manuela Azevedo, que já tinha integrado o Diário de Lisboa e a Vida Mundial, dizendo que o DN sofreu o que nunca tinha sofrido: ‘foi a censura dos comunistas’”, escreve Pedro Marques Gomes na obra “Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícias”, que vai ser apresentado na quinta-feira, em Lisboa.

“Este é um estudo completamente novo. Parti de estudos feitos pela Revolução. Todos referiam este caso do DN como emblemático, sobretudo nas lutas que se travavam sobre o controlo dos órgãos de comunicação social e pela definição do tipo de regime. Mas esses trabalhos não aprofundavam a temática do DN. Parti desses apontamentos e depois fiz uma investigação de raiz, consultando a imprensa da época, mas sobretudo falando com muitos dos protagonistas”, diz Pedro Marques Gomes.

/Lusa

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