Zelenskyy sabe o que está a fazer

A ofensiva ucraniana na região de Kursk levou a uma diminuição da intensidade dos ataques russos contra território da Ucrânia, criando uma “zona tampão”.

Desde 6 de agosto, as forças ucranianas entraram na região fronteiriça de Kursk, onde reclamam o controlo de mais de 1.250 quilómetros quadrados e acima de 93 localidades, enquanto a Rússia mantém uma pressão crescente na frente de Donetsk, no leste da Ucrânia.

A Ucrânia diz que a incursão na Rússia está a levar à diminuição dos ataques russos ao seu território.

“As ações das Forças de Defesa Ucranianas perto da região de Sumi estão a criar uma zona tampão, o que, claro, permite que os territórios próximos sejam bombardeados com menos frequência do que antes”, explicou uma fonte do Serviço de Fronteiras da Ucrânia.

As regiões de Sumi, Chernihiv e Kharkiv (Ucrânia) estão no centro das atenções, embora Sumi seja a mais afetada, mas, de acordo com as autoridades russas, o número de incursões transfronteiriças russas diminuiu de forma dramática.

Ucrânia faz contra-ataque surpresa

Ainda esta sexta-feira, o Exército ucraniano anunciou que fez um contra-ataque que infligiu pesadas perdas às tropas russas e que permitiu um avanço das suas forças em dois quilómetros em território controlado pela Rússia na região de Lugansk.

Neste contra-ataque surpresa, uma Brigada de Assalto ucraniana assumiu a responsabilidade pela destruição de dezenas de peças de equipamento militar e pela neutralização de mais de 300 soldados russos – mortos ou feridos – no ataque, que ocorreu perto de Novovodiane, na fronteira entre Kharkiv e nas regiões de Lugansk.

O ataque durou quatro dias e terminou em 15 de agosto, e os detalhes foram mantidos em segredo até agora por “razões de segurança”.

“A principal tarefa da operação foi interromper o potencial ofensivo do 20º Exército da Federação Russa. A partir de agora, esta tarefa foi concluída”, disse o comandante da brigada, coronel Andri Biletski.

As conquistas da Ucrânia remodelaram o campo de batalha e elevaram a moral dos ucranianos 10 anos depois de a Rússia ter invadido o seu país pela primeira vez, e dois anos e meio depois de Moscovo ter lançado uma invasão em grande escala que levou à morte e destruição em massa e criou a maior crise de refugiados da Europa desde então.

Zelenskyy sabe o que está a fazer

Em declarações à agência Lusa, o ativista russo Timofei Bugaevskii, membro da Associação de Russos Livres e radicado em Portugal, considerou que a invasão ucraniana em território russo pode à queda do regime de Vladimir Putin.

“A invasão de Kursk pela Ucrânia pode ter várias consequências, desde a mobilização total, colocando o país em pé de guerra e até mesmo um ataque nuclear, até à queda do regime que está a mostrar a sua fraqueza e incapacidade de ajudar as pessoas que estão a pedir ajuda a Putin”, frisou o ativista russo.

Timofei Bugaevskii sublinhou que há pedidos de ajuda a Putin neste momento na Rússia, depois da incursão ucraniana na região de Kursk ter forçado à retirada de milhares de pessoas das suas casas.

Para o ativista radicado em Portugal, outro “indicador importante é a ausência de um movimento de guerrilha contra o exército ucraniano que entrou em Kursk”.

“Alguém grita ‘Glória à Ucrânia’ e alguém reage: ‘Se as autoridades russas não nos conseguiram proteger, talvez os ucranianos o façam’”, sublinhou.

O governador de Kursk, Alexei Smirnov, revelou esta semana que mais de 133.000 civis tiveram de abandonar as suas casas devido à ameaça ucraniana.

Sobre um possível crescimento do sentimento de oposição na Rússia, com o ataque surpresa ucraniano lançado, Timofei Bugaevskii lembrou que é “mais difícil de prever” porque “qualquer discurso [de oposição] pode levar à prisão, onde as pessoas são torturadas até à morte”.

“Há pessoas insatisfeitas, mas a população não tem armas para lutar contra a Rosgvardia [Guarda Nacional russa], que está totalmente equipada”, sublinhou.

O ativista russo aponta, como uma solução para uma mudança de regime na Rússia, o crescimento de “unidades de voluntários russos” que obtenham um “apoio mais ativo da oposição russa, das autoridades ucranianas e da comunidade internacional”.

Defende também um “trabalho para a sua legitimação aos olhos da sociedade russa, como libertadores da tirania”, com a “oposição pacífica a desenvolver um bom programa de visão do futuro, reformas e transformações”.

Timofei Bugaevskii frisou que muitos russos mobilizados para a guerra querem voltar para as suas famílias e realçou que uma força organizada encontraria “pelo caminho cidadãos entusiastas e a mudança de poder poderia ocorrer sem baixas civis, à semelhança do que aconteceu em Portugal em 1974”.

ZAP // Lusa

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