Zelenskyy está proibido por lei ucraniana de negociar paz com Putin?

Robert Ghement, Mikhail Klimentyev/ EPA/Presidential Press and Information Office

Presidente ucraniano “ainda está legalmente proibido de negociar com a Rússia”, lembra o Kremlin, que está aberto a sentar-se à mesa. “A questão é: com quem negociar?”.

O porta-voz do Kremlin afirmou esta quarta-feira que o presidente da Ucrânia “ainda está legalmente proibido de negociar com a Rússia” sobre o fim da guerra e estabelecimento de paz.

Dmitry Peskov falava aos jornalistas, em conferência telefónica diária, sobre um decreto ucraniano, assinado sete meses após a invasão russa à Ucrânia em 2022, que proíbe as negociações de paz entre Volodymyr Zelenskyy e o presidente russo, Vladimir Putin.

Foi logo nos primeiros meses de guerra, há três anos, que o líder ucraniano se quis encontrar pessoalmente com o homólogo russo, mas o Kremlin rejeitou a sugestão. Em setembro, a Rússia anexou formalmente quatro importantes regiões ucranianas — Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia — e Zelenskyy promulgou o decreto em causa, que declara que é impossível sentar-se à mesa com Putin para negociar a paz.

O decreto promulgou uma decisão do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, no sentido de reforçar as defesas do país invadido e procurar obter mais armamento junto dos aliados do Ocidente, escrevia a agência AP.

Depois de anexar os quatro territórios, Putin pedia um cessar-fogo à Ucrânia, mas referia a potencial saída de Zelenskyy da presidência como condição. “Estamos prontos para dialogar com a Rússia, mas com outro presidente”, disse, também, Zelenskyy.

Zelenskyy mostrou no mês passado que está pronto a negociar com a Rússia e aberto a uma troca de territórios, mas “os detalhes ainda não mudaram”, disse Peskov sobre o decreto ucraniano que, curiosamente não foi mencionado por nenhuma das outras partes que têm estado envolvidas ativamente nas negociações.

O presidente dos EUA Donald Trump já disse que Zelenskyy lhe confessou, por carta, que quer negociar a paz, e terá recebido “fortes sinais” que expressam a mesma vontade do lado russo. Mas, segundo a Rússia, o decreto com três anos levanta certas “nuances”: quem pode, afinal, sentar-se à mesa para negociar a paz?

A questão é: com quem negociar?” questionou Peskov, numa altura em que tanto Trump como a Rússia andam a tentar “afastar” o presidente ucraniano — o norte-americano disse que Zelenskyy é “um ditador que se recusa a fazer eleições”, e a Rússia questiona constantemente a legitimidade do líder da Ucrânia, impondo a sua substituição na presidência como condição necessária para trazer paz aos dois países.

Em setembro do ano passado, a Rússia garantia que “não participaria” em cimeiras que “promovam a ilusória ‘fórmula de Zelenskyy‘” com vista a um cessar-fogo, depois de o presidente ucraniano admitir abertura para ” falar em qualquer formato com a Rússia, com qualquer um dos seus representantes”.

“Não pode haver um fim para a guerra sem uma das partes envolvida”, disse Zelenskyy na altura — um argumento que tem vindo a reforçar cada vez mais, uma vez que a sua parte tem sido excluída das negociações, após a eleição do presidente norte-americano Donald Trump, que prometeu acabar o mais rápido possível com a guerra na Ucrânia.

Trump suspendeu na segunda-feira toda a ajuda militar dos EUA destinada à Ucrânia, sem dar uma data ou sequer garantir o levantamento da suspensão, dias após uma acesa reunião na Casa Branca com Zelenskyy, que saiu mais cedo, humilhado pelo presidente norte-americano.

Zelenskyy, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer devem viajar juntos para Washington em breve, disse porta-voz do governo francês na quarta-feira.

Tomás Guimarães, ZAP //

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