Volodimir Zelenskyy denunciou às Nações Unidas que “não houve um único crime” que as forças russas não tenham cometido. “Os militares russos procuraram e mataram propositadamente qualquer pessoa que tenha servido o nosso país”, disse ao Conselho de Segurança da ONU, em Nova Iorque, numa intervenção por videoconferência.
“Dispararam e mataram mulheres fora de casa quando elas apenas tentavam chamar por alguém que estivesse vivo, mataram famílias inteiras, adultos e crianças, e tentaram queimar os corpos”, explicou Volodimir Zelenskyy.
O Presidente ucraniano disse que os militares russos atuaram “como terroristas”, acusando-os de”seguir uma política consistente de destruição da diversidade étnica e religiosa, depois inflamam guerras e conduzem-nas deliberadamente de forma a matar o máximo de civis”.
O governante acusou ainda a Rússia de “colonialismo“, por retirar “centenas de milhares” de ucranianos do seu país, criticando a passividade do Conselho de Segurança das Nações Unidas perante a ofensiva russa. “Querem transformar ucranianos em escravos silenciosos”, afirmou Zelenskyy perante o Conselho de Segurança da ONU.
O líder ucraniano pediu uma reforma imediata do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que permita ao organismo ser “realmente eficaz” e “garantir a paz”, sublinhando que “é hora de transformar a estrutura das Nações Unidas”.
“Temos de fazer tudo o que está nas nossas mãos para dar às futuras gerações uma ONU eficaz”, disse Zelenskyy.
A mensagem do Presidente da Ucrânia terminou com um pedido: “tirem o poder de veto à Rússia“.
“Podem fazer duas coisas: retirar a Rússia, como agressor e fonte de guerra, para que não possa bloquear decisões sobre a sua própria agressão, a sua própria guerra”, defendeu, destacando que a outra opção seria a ONU “dissolver-se por completo, desistirem”.
“Se isto continuar, os países só vão poder contar com o poder das suas armas para garantir a sua segurança, e não com a lei internacional, não com as instituições internacionais. As Nações Unidas podem simplesmente fechar. Senhoras e senhores, estão prontos a encerrar a ONU?”, questionou, citado pelo Observador.
“Acham que o tempo do direito internacional acabou? Se a vossa resposta for ‘não’ têm de agir imediatamente. O sistema da ONU tem de ser reformado imediatamente, de modo a que o poder de veto não seja um direito a morrer”, sublinhou.
Guterres fala em possíveis “crimes de guerra”
O secretário-geral das Nações Unidas falou em possíveis “crimes de guerra” na cidade ucraniana de Bucha e exortou o Conselho de Segurança “a fazer tudo o que estiver ao seu alcance” para travar o conflito.
“Jamais esquecerei as imagens horríveis de civis mortos em Bucha. Solicitei imediatamente uma investigação independente para garantir uma efetiva responsabilização. Também estou profundamente chocado com testemunhos pessoais de violações e violência sexual que agora estão a surgir”, disse António Guterres, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
“O Alto-Comissário para os Direitos Humanos falou de possíveis crimes de guerra, graves transgressões do direito internacional humanitário e sérias violações (…) dos direitos humanos”, acrescentou Guterres, numa declaração perante o Conselho de Segurança da ONU.
Centenas de civis mortos foram encontrados em Bucha, uma cidade a 60 quilómetros de Kiev, espalhados na rua, nalguns casos com as mãos amarradas atrás das costas e atirados para valas comuns, tendo as autoridades ucranianas e os seus aliados acusado os soldados russos de terem cometido esses crimes quando ocuparam a cidade.
Moscovo rejeitou qualquer responsabilidade e disse tratar-se de uma encenação de Kiev.
Além de referir as vítimas mortais e os danos nas infraestruturas da Ucrânia causados pela guerra, Guterres afirmou que ofensiva russa também levou ao deslocamento de mais de dez milhões de pessoas em apenas um mês, “o movimento populacional forçado mais rápido desde a Segunda Guerra Mundial”.
Também o impacto económico da ofensiva russa, visível na inflação dos preços dos alimentos, energia e fertilizantes, foi referido pelo secretário-geral das Nações Unidas, que frisou que as “pessoas apanhadas pela crise em todo o mundo não podem pagar o preço por esta guerra”.
“Como Secretário-Geral das Nações Unidas, é meu dever chamar a atenção do Conselho para os graves danos causados à economia global, particularmente para pessoas vulneráveis e países em desenvolvimento. (…) Já estamos a ver alguns países passarem da vulnerabilidade para a crise e sinais de grave agitação social”, alertou.
“No que diz respeito aos alimentos, pedimos a todos os países que mantenham os mercados abertos, resistam a ataques injustificados e restrições desnecessárias à exportação e disponibilizem reservas para países em risco de fome. Não é hora de protecionismo. (…) A nossa análise indica que 74 países em desenvolvimento, com uma população total de 1,2 mil milhões de pessoas, são particularmente vulneráveis ao aumento dos custos de alimentos, energia e fertilizantes”, salientou Guterres.
O ex-primeiro-ministro português pediu uma ação urgente do G20 e das instituições financeiras internacionais para aumentar a liquidez e o espaço fiscal para que os Governos possam fornecer redes de segurança para os mais pobres.
“As instituições financeiras internacionais devem entrar em modo de emergência. (…) A reforma que venho pedindo do sistema financeiro global está muito atrasada”, disse.
António Guterres lamentou ainda “profundamente (…) as divisões” que têm impedido o Conselho de Segurança de agir não apenas na Ucrânia, mas em relação a outras ameaças à paz e à segurança em todo o mundo.
“Exorto o Conselho a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para pôr fim à guerra e mitigar o seu impacto, tanto sobre o povo sofredor da Ucrânia, como sobre as pessoas vulneráveis e países em desenvolvimento ao redor do mundo”, concluiu.
A reunião de hoje do Conselho de Segurança da ONU contará com a presença do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que abordará o alegado massacre de civis por parte das forças russas em Bucha.
ZAP // Lusa
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Realmente para que serve a ONU, quando tem um membro com poder absoluto, que está a atacar um país livre.