/

Brexit, impeachment de Trump, carros voadores e casas inteligentes. Na Web Summit, houve um pouco de tudo

Na terça-feira, foi o segundo dia da Web Summit, a conferência tecnológica e de empreendedorismo que arrancou na segunda-feira oficialmente em Lisboa, com o ativista Edward Snowden.

Ronan Dunne, CEO da Verizon, subiu ao palco principal para falar de 5G. “Com o 5G podemos atingir 10 Gbps. No 5G o volume de dados é dez vezes maior”, aponta o CEO da Verizon, que explica que o 5G é a diferença entre um carro autónomo conseguir travar a tempo ou haver um acidente. “O 5G é a capacidade de ter aparelhos móveis a deslocarem-se a altas velocidades”, refere. “Até 500 quilómetros por hora”, garante Ronan Dunne.

Segundo o líder da operadora, há ainda vantagens na quinta geração de rede móvel ao nível do consumo energético: “A energia consumida pelo 5G é apenas 10% do que a consumida pelo 4G”, refere.

Depois, Barbara Coppola, Chief Digital Officer do Ikea, falou sobre liderança no feminino e sobre como reiventar uma marca para a era digital. Coppola disse que “é preciso ouvir os clientes” para saber como adaptar a empresa. “O Ikea trabalha com muitas pessoas diferentes, muitas empresas. Ou seja, é uma cocriação de tendências”, explicou Barbara Martin Coppola.

A empresa está a contratar pessoas que se identifiquem com a “vertente humana” da marca, revelou ainda a responsável.

De seguida, foi a vez de Kevin Weil, vice-presidente de produto na Calibra, o departamento do Facebook que está a desenvolver a criptomoeda Libra, um projeto que tem merecido críticas e resistência regulatória em todo o mundo. Weil sempre foi “um grande fã da bitcoin” e que não tardou até ver potencial em criar algo assente no mundo das criptomoedas. A Libra deverá ser uma moeda universal para pagamentos e transações na Internet.

“Existia um grupo pequeno de fornecedores num ecossistema muito fechado, sem grande concorrência. De repente, aparece a Internet. Enviar um byte de um lado para o outro é, basicamente, gratuito. Depois surgiu o Skype e deixou de ser preciso pagar por chamadas. Vinte anos depois, pode-se transmitir vídeo em 360 graus para o outro lado do mundo. A questão é: podemos fazer o mesmo com o dinheiro?“, interrogou.

“A melhor altura para lançar a Libra foi há três anos. A segunda melhor altura é agora”, apontou Kevin Weil.

O Brexit e o impeachment de Trump

Michael Barnier, negociador-chefe da União Europeia para o Brexit, também discursou no palco principal. “O futuro será desenhado por diversas tendências. Uma delas é esta extraordinariamente complexa negociação. O Brexit não é só sobre o divórcio entre UE e Reino Unido. Há muitas outras consequências. É sobre a criação de uma nova parceria que dê estabilidade ao continente”, disse.

“Qual é a nossa perspetiva além do Brexit? Primeiro, paz. Segundo, proteção do nosso mercado único. Uma das razões pelas quais somos respeitados em Pequim e em Washington”, elencou Barnier. “O Brexit é uma escola de paciência. É uma escola de persistência.”

Michel Barnier terminou o discurso com um aviso: “O risco de um precipício mantém-se e todos devemos continuar vigilantes para esse resultado possível. Mas, se conseguirmos chegar a acordo, as futuras gerações vão olhar para ele de forma positiva.”

O painel sobre a política interna dos EUA e o processo de impeachment de Donald Trump teve como oradores Neal Katyal, ex-solicitador-geral dos EUA, e Brittany Kaiser, ex-trabalhadora da Cambridge Analytica.

Katyal disse acreditar que o presidente norte-americano vai ser demitido. Nesta altura, a Altice Arena irrompeu em aplausos, de acordo com o jornal ECO.

Brittany Kaiser, que participa no documentário The Great Hack, sobre o uso indevido de dados pessoais de milhões de utilizadores do Facebook para ajudar a eleger Donald Trump em 2016, disse que “não aprendemos nada sobre 2016 porque continua tudo igual e Mark Zuckerberg está a ajudar a isso”.

Casas inteligentes e carros voadores

David Eun, administrador de inovação da Samsung Electronics, falou sobre como é que a empresa vê a habitação em 2025, com a tendência da Internet das Coisas (IoT). O responsável da marca sul-coreana explica que o IoT está a chegar por fases, com soluções como uma câmara inteligente para ver quem está à porta da nossa casa.

Tudo estará ligado à rede, graças ao 5G. “No futuro, a questão não é sobre quantos dispositivos estão ligados. É sobre quantos dispositivos não estão ligados”, aponta.

A próxima fase das casas inteligentes é a fase das “experiências”. “A felicidade resultante das experiências dura mais tempo do que a felicidade resultante de quando compramos coisas”, indicou David Eun. No futuro, disse David Eun, “as experiências vão ser permitidas pelo software, hardware e pelos serviços”. “Não vão mudar só a natureza do lar, mas a utilização das divisões da casa”.

As televisões vão funcionar como “uma janela para o mundo”, as casas de banho vão ser transformadas num “centro de bem estar e saúde” e que um aspirador automático pode vir a ser “guarda de segurança pessoal” da casa.

“Há aqui uma grande oportunidade para as empresas, startups e empreendedores criarem estas experiências do lar do futuro. Vamos transformar uma casa num lar verdadeiramente inteligente e cheio de experiências espantosas”, rematou.

Depois do almoço, Manik Gupta, chief product officer, da Uber entrou no palco principal. O discurso começou com um anúncio: depois das bicicletas, a Uber acaba de lançar trotinetas elétricas Jump em Lisboa. Serão gratuitas nas primeiras viagens.

Depois dos carros, da entrega de comida e das bicicletas, chegam agora os serviços financeiros e as trotinetas. O chief product officer da tecnológica admitiu que o objetivo é responder a todas as necessidades numa só plataforma.

Tim Bradshaw, do Financial Times, questionou Gupta sobre os resultados da Uber. A tecnológica aumentou os prejuízo de 986 milhões de dólares, devido ao aumento de 33% nos custos. As ações afundaram 5,5% nas negociações após o fecho de Wall Street.

“O nosso negócio core continua a ter um desempenho muito bom”, defendeu, dizendo que o foco está no desenvolvimento tecnológico. Gupta lembrou a experiência que está a ser feita em Lagos, na Nigéria, com a Uber Boats e disse que “vamos ser rentáveis em 2021” e “os carros voadores vão avançar, no ano que vem vamos ter um teste e em 2023 cá estarão”.

O desporto também subiu ao palco

Eric Cantona apresenta o projeto em que é embaixador global, o Common Goal. O antigo jogador de futebol do Manchester United quer que os atletas profissionais doem 1% dos salários para combater a pobreza no mundo.

“Os meus pais nunca me falaram, a mim ou aos meus irmãos, sobre fama ou dinheiro”, começou por dizer. “Pelo que entendo, muitos pais falam aos filhos de dinheiro, pobreza, crescimento… Questiono se não estamos a perder a essência do jogo”.

Jürgen Griesbeck, co-fundador da Common Goal, explicou que o objetivo é usar o futebol como força pelo bem social. “A ideia por trás da Common Goal é muito simples”, disse. “As pessoas diziam-nos que éramos loucos e que nunca iria resultar, mas já temos 130 atletas profissionais a trabalhar connosco”.

Ronaldinho foi promover o Teqball, desporto do qual é embaixador. A modalidade “já tem 36 federações” e espera atingir “50”. “É o desporto mais rápido que está aí. Começou num jardim e espero que venha a ser olímpico”, sublinhou Viktor Huszar, cofundador do desporto. “Em 2028, é natural que o seja”, acrescentou mais tarde, em conferência de imprensa.

Além disso, o ex-futebolista brasileiro Ronaldo Nazário revelou que comprar um clube português continua nos seus planos, depois de se ter tornado em setembro de 2018 o acionista maioritário dos espanhóis do Valladolid.

Fundada em 2010 por Paddy Cosgrave, Daire Hickey e David Kelly, a Web Summit é considerada um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo e evoluiu em menos de seis anos de uma equipa de apenas três pessoas para uma empresa com mais de 150 colaboradores.

A cimeira tecnológica, que nasceu em 2010 na Irlanda, passou a realizar-se em Lisboa desde 2016, vai manter-se na capital até 2028, depois de, em novembro do ano passado, ter ficado decidida a permanência da conferência em Portugal por mais 10 anos, após uma candidatura com sucesso. O evento realiza-se em Lisboa até quinta-feira.

A quarta edição da Web Summit em Portugal vai contar com a participação de 1.206 oradores que vão intervir nos 22 palcos distribuídos pelo recinto do evento. Está também confirmada a presença de 2.526 jornalistas.

Esta quarta-feira, vão subir a palco Brad Smith, CLO da Microsoft, o Robô Sophia, criação da Hanson Robotics, Juan Branco, conselheiro legal de Julian Assange, conselheiro legal de Julian Assange, Werner Vogels, CTO da Amazon, Alex Chung, fundador do Giphy.

ZAP // Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.