Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny, começa a dar os primeiros passos políticos como a nova líder da oposição a Vladimir Putin, presidente da Rússia.
A viúva daquele que foi o principal opositor político de Putin nos últimos anos, e que morreu numa prisão russa no Ártico, aos 47 anos, em circunstâncias desconhecidas, vai estar na sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), na próxima quarta-feira.
Yulia Navalnya deverá discursar perante os eurodeputados, tal como já fez na segunda-feira em Bruxelas, na reunião do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE).
A viúva de Navalny anunciou que vai continuar a luta política do marido, cuja morte foi anunciada a 16 de Fevereiro passado.
“Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny”, anuncia Yulia num vídeo publicado pela Fundação Anti-Corrupção que o marido fundou.
“Quero viver numa Rússia livre. Quero construir uma Rússia livre“, salienta, apelando a que “partilhem a raiva” e “o ódio para com aqueles que se atreveram a matar o nosso futuro”.
“Outra pessoa devia estar no meu lugar, mas foi morta por Putin“, refere ainda Yulia no vídeo, salientando que o presidente russo também queria “matar as nossas esperanças e o nosso futuro”.
Putin “queria destruir e apagar a melhor prova de que a Rússia pode ser diferente, que somos fortes, que somos corajosos, que acreditamos e lutamos desesperadamente”, prossegue.
Yulia acusa Putin de matar Navalny com Novichok
Yulia aborda também a luta do marido e a forma como ele morreu numa prisão no Ártico, “depois de ter sido torturado e atormentado durante três anos”, diz.
“Ele não estava apenas preso como outros presos, ele foi torturado”, sublinha, frisando que “foi mantido numa cela de castigo, numa caixa de cimento”, que “foi intimidado, isolado do mundo“, sem sequer lhe darem “uma caneta ou papel para escrever uma carta” à mulher e aos filhos.
“Estava a morrer de fome“, mas “não desistiu” e sempre tentou animar os seus, “rindo” e “contando piadas”, continua a viúva sobre Navalny. Apesar de tudo, nunca hesitou nas suas convicções e nas razões por que “lutava”, conclui.
“O meu marido era inquebrável e foi por isso que Putin o matou, vergonhosamente e cobardemente, sem sequer o olhar nos olhos”, acusa Yulia.
“Estão a esconder o seu corpo, não o mostrando à sua família” para ocultarem “os vestígios de Novichok“, salienta também a viúva que promete mostrar ao mundo como e quem matou Navalny.
“Vamos dizer os seus nomes e mostrar as suas faces”, assegura.
Contudo, o mais importante a fazer, segundo Yulia, é “continuar a lutar”, “mais ferozmente do que nunca”.
Este discurso marcadamente político coloca Yulia Navalnya na linha da frente da oposição a Putin. Logo depois da morte do marido, já tinha feito um discurso em Munique, marcado pela emoção e por um vincado posicionamento político contra Putin.
De mãe e esposa a maior inimiga de Putin
Yulia Navalnya nasceu em 1976, em Moscovo, e é filha do respeitado cientista Boris Ambrosimov.
Formada em Economia, chegou a trabalhar na Banca, mas deixou a carreira de lado para cuidar dos dois filhos que teve com Navalny quando este se tornou no líder da oposição a Putin.
Após a prisão de Navalny, foi-se tornando, cada vez, mais uma figura pública, e política, tornando-se na voz do marido para o mundo.
Agora, assume definitivamente – e por força das circunstâncias – as rédeas da oposição a Putin.
ZAP // Lusa
Já que o único HOMEM com Toma… o Putim mandou matar e não há mais nenhum uma MULHER é que mostra ter coragem, mas esta deveria ser, pelo menos, protegida por alguns homens com alguma coragem. Deveria ser protegida por todos nós que valorizamos a democracia.
Por agora estará segura. Seria demasiado previsivel. Mas não tardará. É impossível ser protegida para sempre de assassinos barbaros profissionais.
Era lindo, fantástico, um ditador ser derrugado por uma mulher.
Cláudio,
Ficaríamos orgulhosamente felizes mas, infelizmente, todos os que se revêem nessa luta, não prevêem tal hipótese, face ao atual cenário de poder absoluto e protegido.
Será um lenitivo, um bálsamo, para todos os russos que se sentem desamparados pela grande perda.
A ação de quem recolhe e ergue a bandeira, não será em vão, assim como não foi em vão a entrega da vida perdida, que dará força e inspiração aos que continuam a luta, até à batalha final, que um dia acontecerá.