O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) português, João Gomes Cravinho, comparou, esta segunda-feira, a morte de Alexei Navalny com a do “General sem Medo” Humberto Delgado, durante o Estado Novo. O que une as duas mortes?
Depois de na sexta-feira ter atribuído a Vladimir Putin a culpa da morte de Alexei Navalny, João Gomes Cravinho voltou a pronunciar-se sobre o caso (do qual ainda há poucos pormenores), comparando a morte do opositor russo à do General Humberto Delgado, em 1965, durante o Estado Novo.
“Não temos dúvidas nenhumas que Navalny morre porque o regime que Putin criou levou à sua morte, da mesma maneira que Humberto Delgado morre por causa do regime liderado por Salazar em Portugal”, declarou o MNE português.
Humberto Delgado – vulgarmente reconhecido como “General sem Medo” e ávido opositor do regime Salazarista – morreu “às mãos” da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), a 13 de fevereiro de 1965, em território espanhol, perto de Olivença.
O mais expressivo opositor de António de Oliveira Salazar fez frente ao regime, nas eleições presidenciais de 1958 – e até chegou a “cheirar” a mudança.
Contudo, após um processo eleitoral bastante conturbado e reconhecidamente fraudulento, Humberto Delgado acabou perder as eleições para Américo Tomás – o candidato do regime.
Como consequência, Humberto Delgado foi obrigado a exilar-se, depois das eleições de 1958.
Em 1965, o “General sem Medo” caiu numa armadilha da PIDE e foi assassinado com um tiro na cabeça, alegadamente, pelo inspetor Casimiro Monteiro.
Tal como Delgado, “pagou pela coragem”
Agora, de acordo com a comunidade internacional, também Navalny – vítima da própria coragem – acaba por morrer às mãos de um regime ao qual se opunha avidamente.
“Estou profundamente triste com a morte de Alexei Navalny. Defendeu a democracia e a liberdade na Rússia – e aparentemente pagou pela sua coragem com a sua própria vida. Esta terrível notícia mostra mais uma vez como a Rússia mudou e que tipo de regime está no poder em Moscovo”, lamentou Olaf Scholz, o Chanceler alemão, na rede social X (antigo Twitter).
Também Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu, recorreu às redes sociais para elevar a coragem de Alexei Navalny: O mundo perdeu um lutador cuja coragem ecoará através de gerações. (…) A Rússia tirou-lhe a liberdade e a vida, mas não a dignidade. A sua luta pela democracia continua viva”.
The world has lost a fighter whose courage will echo through generations.
Horrified by the death of Sakharov Prize laureate Alexei Navalny.
Russia took his freedom & his life, but not his dignity.
His struggle for democracy lives on.
Our thoughts are with his wife & children. pic.twitter.com/JMSAkLpb0T
— Roberta Metsola (@EP_President) February 16, 2024
O principal opositor de Putin morreu na última sexta-feira, aos 47 anos, numa prisão no noroeste da Sibéria, na Rússia, a cerca de 65 quilómetros a norte do Círculo Polar Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos de prisão por “extremismo”.
De acordo com os serviços prisionais da Rússia, adiantando que Navalny ter-se-á “sentiu-se mal”, durante uma caminhada, e “caiu inconsciente”. Contudo, passados três dias ainda não há mais detalhes sobre essa morte misteriosa – mais uma – e a família ainda não pôde ver o corpo.
UE promete sancionar a Rússia
Falando à imprensa portuguesa em Bruxelas, após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, João Gomes Cravinho apontou que a União Europeia (UE) ainda está “a procurar recolher informação sobre o que se passa [porque] as autoridades russas ainda não libertaram o corpo de Navalny”.
“Quando recebermos informação concreta de pessoas diretamente responsáveis pela morte de Navalny ou pelo tratamento dado a outros presos políticos na Rússia, serão sancionados, mas ainda não temos esses elementos”, assinalou Cravinho, quando questionado sobre eventuais medidas restritivas a aplicar – ideia já mencionada pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Os chefes da diplomacia da UE receberam esta, segunda-feira, em Bruxelas, a mulher do opositor russo Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, para enviar uma mensagem de apoio comunitário à luta pelos direitos humanos.
“Tivemos um momento em que pudemos prestar homenagem a Alexei Navalny e ouvir uma voz muito poderosa e corajosa da sua mulher”, disse o MNE português à imprensa nacional.
Ao início do dia, Josep Borrell anunciou que o regime de sanções para violações dos direitos humanos vai ser renomeado para homenagear Alexei Navalny.
O chefe da diplomacia portuguesa indicou que o alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança “tem a concordância” dos 27 ministros, para que o nome deste ativista “seja perpetuado”.
ZAP // Lusa
Humberto Delgado foi durante anos um entusiasta salazarista que só começou a mudar de ideais depois de uma estadia nos EUA onde, provavelmente, terá sido aliciado pela CIA. Transformá-lo em herói da democracia é ridículo. Ou alguém pensa que HD se teria, por milagre, convertido aos ideais da democracia? É preciso estar desesperado para elevar HD aos píncaros do heroísmo…